Por Marcelo Mendez
Ao ver aquela senhora muito linda e muito distinta caminhando pelo aeroporto do Rio De Janeiro não resisti; Eu tinha que ir até lá falar com ela! Afinal de contas, desde minha infância, ali com meus tenros 11 anos de idade que sempre fui apaixonado por aquela mulher. Uma morena de lindos cabelos pretos, olhos claros, ótima cantora, compositora e violonista...
Fui determinado!
Sabia que tinha milhões de coisas para dizer, mil perguntas a fazer e quem sabe, até tomar um café. Cheguei perto. Chamei desesperadamente a linda senhora:
Joyce, Joyce, Joyce!!
Um tanto assustada (Claro né??!) mas muito solicita ela parou. E então, com aqueles olhos de jade me disse:
“Pois não...”
Que linda voz! A mesma que cantou Feminina, Clareana, Revendo Amigos... Foi o melhor “pois não” que ouvi em toda minha vida! Um filme me passou na cabeça. Lembrei do quanto eu ficava olhando aquela capa de disco de minha prima Marlene, do encanto que foi ver aquela mulher no tal do MPB Shell, na importância que era estar ali diante daquela mulher. Tentei falar mas travei! A única coisa que saiu foi um patético...
“Dona Joyce... Eu sempre amei a senhora...” - QUE RIDICULO EU!! Ainda assim ela, compreensiva, carinhosa, deu um riso de acalanto e me respondeu:
“Ah que ótimo! Muito obrigada, moço!”
Se despediu e eu também, cheio de vergonha! Ma ae, pensando nisso tudo em uma ponte aérea interminável, decidi vir aqui contar a vocês a história desse disco da moça que tanto me encanta a tanto tempo e com certeza, seguira encantando.
Senhouras e Senhoures com vocês FEMININA, disco de 1980 da maravilhosa cantora Joyce.
Nascida Joyce Silveira Moreno, no ano da graça de 1948, nossa moça aqui é mais carioca que o Cristo Redentor.
Cria clássica do posto seis de Copacabana, Joyce começa se interessar por musica, de tanto que viu o seu mano, guitarrista, bancário, advogado, flertando ali umas notas com seus amigos Eumir Deodato, Roberto Menescal, Luiz Carlos Vinhas e outras tantas feras. Ela gostou da coisa. Tanto que aos 16 já estreia em estúdio participando da gravina do grupo Sambacana. Dae a coisa vai de vez...
Dividindo sua paixão pela musica, com seu trampo de jornalista, recém formada na redação dos Jornal do Brasil de 1967 (Sonho e meca para qualquer jornalista...) ela consegue emplacar uma musica sua “Me Disseram”, o que deixou o terreno propicio para sua estreia em LP com seu seminal disco “Joyce” de 1968. Uma maravilha de disco que traz Joyce definitivamente para o Mercado musical de então. E ela seguiu bem ao longo dos anos 70.
Participa de vários projetos com Novelli, Toninho horta, Nana Vasconcelos, compõe muito, segue seus estudos de violão, grava em 1973 um discaaaaaaaçoooooo com Nelson Ângelo, depois da um tempo para cuidar de suas duas meninas Clara e Ana até 1975. Na volta cai na estrada com Vincius de Moraes em uma turnê pela América Latina, grava um disco internacional (Natureza, em 1977) com Mauricio Maestro, arranjos de Claus Orgemann que da tão certo, que gera uma turnê por Nova York de seis meses onde acontece algo muito importante para nosso disco de hoje...
Foi la que ela conhece o baterista Tutty Moreno, lendááário batera que tanto tempo havia ficado com Gilberto Gil e que, radicado por lá, bobo que não é, trata de se apaixonar e casar com a nossa Cantora. Da relação vem Mariana em 1979, inicia ali uma parceria musical fodastica e tudo isso torna aquele ano algo mágico; Filha nova, composições gravadas por todo gente como Elis Regina, Maria Bethania, Boca Livre, Nana Caymmi e um contrato com a EMI-Odeon para a gravação de um disco. Surge então em 1980 o lindo “FEMININA”...
Contando com um time formado por feras como Fernando Leporace no Baixo, Gilson Peranzetta no piano e nos arranjos junto com Mario Adnet com Joyce nos violões e Tutty Moreno arrebentando tudo na bateria, começa as gravações do disco. Uma preciosidade que conta com uns hinos como a faixa título FEMININA, com a musica de ninar que ela cantava para as duas filhas Clara e Ana, que virou CLAREANA um baita sucessão de rádio que apresenta Joyce para o povão, além de outras tantas coisas lindas e singelas como REVENDO AMIGOS, CORAÇÃO DE CRIANÇA, a instrumental ALDEIA DE OGUM que leva Joyce à noite hype europeia já nos anos 90, uma dádiva de trabalho.
Em 2010, o disco FEMININA ganha uma luxuosa edição de 30 anos, cheia de extras, encartes e outras maravilhas. Mesmo tento a cousa aqui, jamais ela vai superar a alegria e o encanto que sinto com meu velho disco de 1980, herdado de pai, tia, primas e afins.
Afinal de contas, nada pode ser mais lindo que um amor de menino...
Segue abaixo ae no player FEMININA e o linkão por ae para todo mundo baixar a mandinga. Ae é com vocês e já sabem...
Tasca o player e perigas ver!!
Joyce - Feminina
Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.