Por Marcelo Mendez
Em Álbuns Clássicos tem determinados discos que não podem faltar por motivos pra la de óbvios e justos. No entanto um dos grandes desafios para o escriba aqui que vos redige essas tortas linhas é justamente, falar sobre determinados caras e suas obras dadivosas.
O Cara que trago hoje é um desses...
Teve la um tempo cá pelo Abc em que a Banca do Tonho e do Chico era nosso oasis. Por la encontrávamos discos fodões, livros, filmes e o principal de tudo naquele começo de anos 90; Informação.
Esses dois irmãos jamais sonegaram isso para aquela ávida por cultura, por conhecimento, por som e fúria. Foi num desses roles que apareceu a possibilidade de eu ter o disco que hoje trago pra vocês aqui...
“Marcelo, vou passar uma cópia daquele disco do Tom Zé que você tava atrás. Vai querer?”
“Claro Tonho! Da ae!!”
Deu e ta aqui do lado meu para que eu possa contar para vocês o causo desse baitaaaa discão. Senhouras e senhoures com vocês o discaço de 1972, SE O CASO É CHORAR do genial Tom Zé.
Caros amigos, falar de um cara como o Tom Zé é muito complicado. Jamais chegarei perto de relar mesmo que de leve na genialidade desse homem. Que vida tem Tom Zé...
Nascido Antonio José Santana Martins no ano da graça de 1936 no sertão Baiano, na cidade de Irará, as coisas para Tom meio que sempre conspiraram a seu favor por mais difícil que tudo possa sempre parecer. Sua família que tinha tudo pra se lascar por la, consegue uma grana legal advinda de um bilhete premiado na loteria. Com isso a sua educação foi lindamente garantida.
Desde moleque Tom sempre se mostrou ávido por musica e por conta desse lance da sua família poder lhe dar uma boa educação, decide ir até Salvador para concluir seus primeiros estudos. Por lá se interessa por violão, entra para a Escola de Música Da Universidade Federal Da Bahia e ali, passa a ter aulas com os caras mais fodões da vanguarda musical do século XX como seus professores; Ernst Widmer, Walter Smetak e o papa dodecafonista Hans Joachin Koellreutter. Dali Tom Zé sai preparado para o arregaço que viria adiante...
Conhece Gilberto Gil, Caetano Veloso, seu parceiro Capinam e zarpa pra virar a cabeça do Brasil musical dos anos 60 com o arrebento do Tropicalismo. Grava seu primeiro disco em 1969, vence o Festival de Musica da Record com a musica “São, São Paulo”, trabalha com Augusto Boal, e tudo mais. As coisas iam muito bem para Tom até que vem o arrocho do AI-5 da ditadura militar, as liberdades individuais são cassadas, Gil e Caetano são expulsos do País para o exílio e ae, o grupo tropicalista se desfaz.
Vem os anos 70 e o começo do ocaso da carreira de Tom...
Tom Zé nunca foi um sujeito para consumo de massas, por mais que isso o irrite. Sempre que Tom compõe uma obra, que concebe um disco ele tem plena convicção de que o tal disco será consumido pelas grandes massas, pelo simples fato de ele como pessoa, ser parte dessa mesma massa. Sempre foi assim. Tom sempre foi um cara que botou toda sua genialidade, toda sua erudição e conhecimento a serviço do povo. Uma pena que os putos dos donos de gravadoras da época não entendiam isso.
Sem o grupo tropicalista, meio avesso aquele tal rotulo furado de “popular”, Tom fica sem saber exatamente o que fazer no começo dos anos 70. Mesmo assim, jamais parou de trabalhar. Imediatamente juntou uma banda em 1971 e começa a trabalhar a partir de algumas coisas já prontas.
A primeira canção que surge é Happy End, uma musica feita para uma novela totalmente experimental da TV Tupi, dirigida a época por Antonio Abujamra. Óbvio que a novela foi uma merda, o povo num entendeu porra nenhuma mas pra nós aqui que se foda isso. Importa que foi o start para Tom começar o trampo que falamos hoje. A outra que surge é um rockão de nome “Dor e Dor”...
A primeira canção que surge é Happy End, uma musica feita para uma novela totalmente experimental da TV Tupi, dirigida a época por Antonio Abujamra. Óbvio que a novela foi uma merda, o povo num entendeu porra nenhuma mas pra nós aqui que se foda isso. Importa que foi o start para Tom começar o trampo que falamos hoje. A outra que surge é um rockão de nome “Dor e Dor”...
Puta de um funkão, baixão socado, base negona mesmo para um poema concreto, fino, coisa que sempre marcou a vida artística de tom; “O Brilho do teu sorriso é mais quente que o sol do meio dia” - Precisa de mais para uma letra de musica??? Ae a coisa seguiu com mais uma coisas assim... Simplesmente divinas!!
“A Briga Do Edificio Itália Com o Hilton Hotel” é um desbunde surrealista em que a criatividade a mil de Tom da vida a uma coisa que vinha sendo muito falada na época. Como ótimo cronista do seu tempo (Tempo que ele sempre esteve a frente..) Tom trata da expansão imobiliária que tomava de São Paulo de assalto, comentando a luta dos dois hotéis pelos hóspedes de então. “Senhor Cidadão” é outra que é um hino “Com quantas mortes no peito se faz uma seriedade” é uma das perguntas que ilustram a canção onde Tom questiona a coisa da luta de classes, da dificuldade do bicho homem em conviver numa nice. A coisa não para...
“Sândalo” uma das minhas musicas preferidas do cabra é um “Xote-Rock” como disse Tom num bastidor do extinto e saudoso programa Bem Brasil da TV cultura. Uma frase desse som me quebra as pernas sempre que ouço; “Faça suas orações uma vez por dia e depois mande a consciência com os lençóis para a lavanderia” - Ah pra porra!!!!! Fantástico Tom!!
Um disco desse não teria como dar errado, certo?
Errado!
Teve la um desses filhos da puta de gravadora que achou que a parada não era “comercialmente viável”. Ta mas ae deveria deixar pro publico decidir isso né? Ao invés disso o disco “Se o Caso é Chorar” foi para a gaveta e ficou por lá por 12 anos sendo lançado apenas em 1984. Então ae disseram “Foi um fracasso de vendas” - claro né porra?? Quer o que? Mas lasque-se!
A coisa saiu. Tom passou o diabo! Fez um disco melhor que o outro por anos; Todos Os Olhos(1973) Estudando Samba (1975) Correiro da Estação Do Brás (1978, uma preciosidade de experimentação musical. Nesse disco Tom Zé inventa só o sampler...) e mais outras maravilhas e nada. Quando ele já tava querendo ir para Irará trampar com o primo empresário, David Byrne o “descobre”, lança Estudando o Samba nos EUA e a vida de Tom decola. Mas esse causo a gente volta pra contar outra hora...
No player vai o álbum inteiro pra vocês ouvirem. Tasca o play e perigas ver...
Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.