Garotas alla vamos! A Argentina busca sua 3ª estrela


Felipe Bigliazzi Dominguez | Futebol | 

Garotas alla vamos!!!! Eis a manchete do diário esportivo Olé da ultima quarta-feira - para protestos feministas e dos chatos de plantão - no dia seguinte a vitória de 5 a 2 sobre o Paraguai, que classificou antecipadamente a seleção argentina para a Copa do Mundo.

Para contar essa historia é preciso voltar ao dia 16/07/2011, quando a seleção albiceleste foi eliminada traumaticamente da Copa América, após perder nos pênaltis frente ao Uruguai. Logo após o jogo, ali mesmo no Cementerio de Los Elefantes - como é conhecido o estádio do Colón de Santa Fé - a crônica argentina discutia sobre as mudanças que deveriam ocorrer para que a seleção voltasse a trilhar um caminho seguro nas eliminatórias para Copa - que começariam dali a dois meses.

O fato é que encerrava-se o ciclo de Sergio Batista de forma melancólica. O volante campeão do mundo com a Argentina em 86, vinha de um titulo olímpico sob seu comando. A AFA(ASSOCIACIÓN DEL FÚTBOL ARGENTINO)decidiu apostar na continuidade do projeto olímpico para tentar apagar a pobre imagem deixada no ciclo de Maradona. Eis que o fracasso na Copa América escancarava o mais novo equívoco de Julio Grondona e seus bluecaps. "Maradona e Batista não estavam preparados para dirigir a seleção principal. Era preciso um treinador "maduro" afirmava Juan Pablo Mendez, jornalista do diário Olé!

O escolhido para a assumir a bronca foi Alejandro Sabella, que vinha de uma sequencia exitosa comandando o seu amado Estudiantes de La Plata - campeão da Libertadores de 2009 e do Torneio Apertura de 2010. A grande missão de Sabella era resolver os problemas defensivos e potencializar o futebol de Lionel Messi.

Sabella decidiu manter a base campeão olímpica sob o comando de seu antecessor. Oito titulares absolutos na campanha das eliminatórias faziam parte da equipe que levou o ouro em Pequim: Sergio Romero, Ezequiel Garay, Zabaleta, Mascherano, Fernando Gago, Di Maria, Messi e Agüero. A grande mudança veio na defesa. Sabella, criado no Estudiantes - clube símbolo do futebol pragmático difundindo mundialmente por Carlos Bilardo nos mundiais de 86 e 90 - sabia que era preciso dar solidez defensiva para que o quarteto fantástico - Messi, Di Maria, Agüero e Higuain - pudesse marcar a diferença no ataque.

Também manteve o goleiro Sergio Romero, apesar das criticas da imprensa local, assim como Zabaleta, que vinha em franca evolução com a camiseta do Manchester City. Na lateral-esquerda, Sabella colocou todas as suas fichas em Marcos Rojo, jogador revelado por ele no Estudiantes de La Plata. O miolo de zaga foi remodelado: Ezequiel Garay ganhou nova oportunidade, graças a seu bom desempenho com a camiseta do Benfica, enquanto Federico Fernandez representava uma nova aposta de Sabella em um jogador de sua oriundo das categorias de base do Estudiantes.

Apesar da boa media de gols sofrida nas eliminatórias - foram 11 em 14 jogos - a defesa ainda gera desconfiança, como explica o jornalista argentino Juan Pablo Mendez "O goleiro Sergio Romero, nunca deu confiança, e agora vai ser reserva no Monaco nesta temporada. Na zaga a Argentina não possui uma grande safra. Garay e Fernandez não possuem a liderança necessária. Contra o Paraguai, voltamos a ter problemas na lateral esquerda; Rojo não jogou e Basanta, que é um zagueiro de origem, teve uma atuação preocupante"

A grande vantagem argentina esta no conjunto e nas individualidades do quarteto mágico - Di Maria, Messi, Agüero e Higuain - que fizeram 27 dos 30 gols da Argentina nas eliminatórias. No esquema de Alejandro Sabella, Angel Di Maria atua mais recuado, fechando o losango do meio-campo pela esquerda, em um posicionamento diferente ao que fazia com Mourinho no Real Madrid. Kun Agüero também teve que assumir uma nova postura tática, voltando para marcar o lateral adversário quando a Argentina não tem a bola. Até mesmo Higuain, o centroavante de oficio, fecha a primeira linha de marcação pelo lado direito.

"Um grande mérito de Sabella" foi convencer as estrelas a se sacrificarem pela equipe. Eles entenderam que parar jogar juntos deveriam auxiliar na recuperação da posse de bola no campo rival" afirmou o jornalista argentino Juan Pablo Mendez. A dupla de volantes é formada por Mascherano e Fernando Gago. "São dois jogadores que se complementam.

Mascherano é a referência no meio campo, com ótima recuperação e liderança, enquanto Gago fica encarregado na saída de bola e no primeiro passe vertical. Fernando Gago, apesar das inúmeras lesões e do fracasso no futebol europeu, foi um jogador fundamental na era Sabella, atuando pela direita, neste losango do meio-campo o meia do Boca Juniors teve alto índice de passes, fazendo com que Messi participasse constantemente da armação das jogadas.

Não é preciso dizer que Messi fez a diferença nesta tranquila caminhada rumo ao mundial. O melhor do mundo anotou 9 gols e foi o líder de assistências da competição. O único momento de tensão apareceu após um pálido empate no Monumental de Nuñez frente aos bolivianos, que veio seguido de uma derrota em Caracas frente a seleção Vinotinto.

O jogo contra a Colômbia em Barranquilla, pela quarta rodada, marcaria a grande mudança de rumo. Messi e Agüero fizeram os gols na virada sobre a ótimo time dirigido por José Pekerman. Outras vitorias relevantes desta caminhada devem ser lembradas: O 3x0 sobre o Uruguai em Mendoza, assim como a vitória em Santiago sobre a talentosa seleção chilena , em pleno estádio Nacional de Santiago.

Mais do que a classificação, as vitorias sobre Brasil, Itália e Alemanha em amistosos recentes, dão mostras de uma Argentina forte coletivamente, envolvida para que Messi possa guiar a seleção albiceleste no caminho de sua terceira estrela.


Felipe Bigliazzi Dominguez é colaborador do Pastilhas Coloridas e responsável pelo blog Ferrolho Italiano
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