Por Marcelo Mendez
Lembro-me até hoje da cara de espanto de minha amiga Raquel Nestrowski quando em uma acalorada conversa sobre cinema, la pelas tantas em que a coisa tava em Godard, Tarkowski, Bunûel, Rene Clement, Jean Renoir e outros feras que amamos, bradei a plenos pulmões encharcados de Serra Malte e de todas as oitavas intenções para com a minha parceira de copo:
“Mas Raquel eu amo mesmo é o Tinto Brass! Todos os vivas a esse sacana sensacional!”
É bem isso.
Tinto Brass é um italianão veneziano que começou dar suas sapatadas pelo cinema, trabalhando como assistente de Roberto Rosselini, Giuseppe Di Santis e, com eles foi aprendendo a lidar com a arte de das películas. Fez seu primeiro filme em 1951, um roteirinho policial comunzão e soube que por ali não faria para o charuto. Foi quando teve uma ideia iluminada:
Leu Bocage, percebeu que aquilo era muito possível para os anos 60 e então começou a filmar as coisas que sempre amou; Mulher gostosa, bundas lindas, xanas cabeludas e divinas, comportamento sexual do Italiano dos anos 60 e por ae foi. Fez pérolas como Salon Kity, O Vouyer, Faça Isso, em um cinema sempre recheado das mais gostosas mulheres de todas as galáxias. Os filmes nada tinham de mais. Roteirinhos pra lá previsíveis, umas piadinhas mais ou menos, tudo sempre focado nessa coisa deliciosa que é a relação homem/mulher e ta ótimo!
O foco era as deliciosas mulheres e os prazeres da vida. E é isso que amo no Tinto...
A suas manias de velho safado, suas safadezas todas são as melhores coisas do seu cinema. E ae sem ter 15% da grandiosidade desses citados ae em cima, sem nada da erudição deles, mesmo assim, Tinto é uma instituição na Itália.
Porque é verdadeiro.
E ae vocês lembram do que falei aqui para nossas fuças ludopédicas sobre o Palmeiras? Eu disse:
“Não me importaria como Palmeirense que sempre fui e sempre serei (E isso ta pra muito além do Cronista, do Jornalista e em nada me atrapalha) se por acaso o Palmeiras disputar a sétima, segunda ou oitava divisão desde que isso seja feito com alegria e dignidade”
Pois bem. No 2x0 que o Palmeiras meteu no Cruzeiro sábado à tarde, os verdes chegaram muito próximos disso.
Amigo leitor que me acompanha aqui em Canela de Ferro, vos digo: No sábado o time do Palmeiras foi de uma decência imortal.
Após um primeiro tempo modorrento, apoiado pelo berro de 10 mil torcedores famintos por alegria, por encanto e arte, os Verdes voltaram para o segundo tempo buscando o gol da mesma forma que o esfomeado busca por uma coxa de frango. O Palmeiras, em meio a muita correria, sem essa baboseira cretino-fundamentalesca de “organização tática”, quis uma melhor sorte tal e qual Hitchcock quis a boca de Grace Kelly, ou seja; Na fúria de uma paixão louca por algo que muito se deseja. Óbvio que não foi uma atuação das mais adequadas, o time continua errando demais, não troca mais que 5 passes, o meio campo não organiza nada, mas vejam, falei de Paixão e caros:
Não se pode condenar o sujeito que busca por seus desejos de maneira apaixonada. E assim foi.
Em duas jogadas iluminadas do ótimo atacante Barcos, o argentino meteu dois gols que deixaram o Palmeiras a 4 pontos do Bahia, primeiro time acima da zona de rebaixamento. Mais do que isso, o Palmeiras deixa um pouco de lado essa sua síndrome de vira lata enxotado que tanto o contaminou nos últimos dias e agora, vislumbra a possibilidade de um milagre acontecendo e assim, sua permanência na primeira divisão para 2013. Fica então a dica aos meus verdes:
Tenham alegria. Ta vendo como assim é bem mais fácil?? Pois é...
Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.