Da importância de Tolstoi para o futebol ser menos sofrível. E a necessidade do sorriso no rosto de vocês, torcedores...

Por Marcelo Mendez

Após mais uma rodada pelo Campeonato Brasileiro nosso, um cara que muito li, a quem muito devo me fulmina a mente para escrever aqui essas tortas linhas em Canela De Ferro. Tolstoi, Liev Tolstoi é um cara que me deu muitas alegrias...

Escreveu “Guerra e Paz”, “Anna Karenina”, “A Morte de Ivan Ilitch” e outros livraços que tanta companhia me fizeram ao longo da vida. E por falar em vida, a de Tolstoi foi um caso a parte. O mestre poderia ter tido tudo que os homens comuns e previsíveis podem ter; Grana, poder,status, influencia, posses e o diabo a quatro para lamber seu ego. Mas tocou o foda-se geral pra isso tudo para se tornar não só um dos maiores escritores Russos de todos os tempos, mas sim, um dos maiores seres humanos que já passaram por aqui. Desbundou geral...

Se ligou que a vida com Estados, Igrejas, Tribunais, Dogmas, Dinheiro, Exploração e tudo mais não eram viáveis. Entendeu rapidinho que a única verdade humana na vera mesmo era a fraternidade, a igualdade entre os seres e decidiu que ia se converter geral a isso tudo. Tolstoi parou de beber, de fumar, de comer carne, de pensar em grana, para dedicar-se integralmente a uma vida pacifista, ecológica e a anarquista. Abriu mão de todo materialismo possível, quebrou o pau com a mulher e os filhos e não quis mais saber de porra de posse alguma. Tornou-se um naturalista.

Em meio às montanhas, batalhando seu rango, fazendo suas próprias roupas, suas botas e tudo mais, Tolstoi escreveu verdadeiras odes ao humanismo. Os Cossacos, Sonata a Kreutzer e outras preciosidades vindas de uma mente pura, liberta de outras bobagens que nos assolam no dia a dia. Talvez seja essa a solução pra evitar o drama todo que vejo no nosso futebol.

Naturalismo...

Caro leitor que me acompanha aqui semanalmente pense comigo. Tem algo mais natural no mundo do que a derrocada de meu Palmeiras? Eu entendo, respeito e admiro o fogo insano e lindo da paixão, acredito que todos os seres precisam senti-lo para poder dizer que suas vidas de fato foram plenas mas aqui pra nós; Tem coisa mais óbvia e mais pura do que a falência ludopédica dos verdes em 2012?

Meu caro torcedor apaixonado, eu sinto muito... Mas muito mesmo em atrapalhar a vossa reza, em assoprar a vela que você acende munido de muita fé, mas veja; Em 2012 o Palmeiras perdeu 30 vezes, empatou 17 e venceu 25. Teve la um idílio na Copa do Brasil porque teve pela frente toda a incompetência de um Coritiba nas finais, mas, a premissa do Palmeiras sempre foi a turbulência. Nunca, mas em instante algum pode-se dizer que houve paz pelos lados do Parque Antártica em 2012. E porque haveria ter agora? Porque seria diferente ontem?

Não foi...

O Palmeiras, um time nervoso, atabalhoado por suas mazelas, misérias e pequenezas de sua diretoria não tem hoje um time sequer razoável. Conta la com um meio campo pobre dependendo das bolas paradas de Marcos Assunção, das trombadas de Luan e do leite de pedra que o ótimo Barcos consegue tirar la no ataque. Tem uma zaga muito fraca e essa, com o horrível Mauricio Ramos foi responsável pelos 2 gols do Botafogo no empate por 2x2 em Araraquara. Uma pena.

Segue o drama para as próximas quatro rodadas restantes.

E na parte de cima? Tem coisa mais natural que o Fluminense ser campeão dessa coisa?

Um time chato, sem o menor pudor de ser pragmaticamente eficiente. Joga pela conta do chá. Se amarra com uma zaga firme, conta com a ótima fase de seu goleiro Diego Cavalieri, com as arrancadas de Wellington Nem e as finalizações de Fred para ir de pontinho em pontinho, de 1x0 em 1x0, rumo ao título. Em um campeonato recheado dessa pobreza técnica toda, naturalmente esse time será campeão. Tem um caminhão de pontos a frente do Atlético Mineiro que me parece que seria muito melhor sucedido na competição se largasse de uma vez por todas dessa sua praga, dessa mania de querer ser desgraçado, desse ela todo em sentir-se perseguido. Síndrome chata essa!

Assim como é chata a irregularidade do time do Morumbi. Ganha aqui, perde ali, empata acolá... Naturalmente instável e dae explica-se o 1x1 ontem em seu estádio com o Fluminense.

Quer dizer:

Meu caro torcedor, eu não tenho a intenção de querer ensina-los a torcer, longe de mim. Eu apenas não quero vê-los assim tão tristes então to deixando aqui o exemplo que o Russo imortal deu tempos atrás. Sejamos naturais com as coisas nossas. Vejam bem; Naturais e não pessimistas. Já contei pra vocês aqui do charme que há no homem que sente uma dor, na classe que pode haver no derrotado, ou no que se vê ae como derrotado. Pensem que nada pode ser mais belo que o sorriso e a alegria dos senhores e isso pode ser com ou sem título, na primeira ou oitava divisão.
Não importa:

Desde que haja leveza na vida, pouco importa onde andará os clubes de vocês. O que vale sempre é o sorriso na cara de vocês. Aprendam com o Tolstoi...

Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.
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