Por trás da tela - Rindo da piada ou do filme?

Por Bruno Módolo 

Fazer comédia não é fácil. Não basta apenas ser engraçado para que alguém esteja qualificado a fazer humor. É preciso saber algumas técnicas. E não se preocupe se não entender a piada quando assistir à um filme, porque nem sempre a culpa é sua. 

A comédia é um dos poucos gêneros onde é necessário fazer pensando no público. Os outros permitem que o autor pense mais nele, dê mais atenção à sua viagem artística. Agora, na comédia, se a piada ficar só na cabeça do autor, o fracasso é certo.

Para ilustrar um pouco, é só analisar os momentos engraçados que você tem com seus amigos. Uma besteirinha vira motivo de riso por uma semana. Mas só entre vocês, porque ao contar essa besteira para outra pessoa de fora do grupo, ela não ri. Não significa que você e seus amigos sejam bestas e nem que a outra pessoa seja burra. É a piada que não fazia parte do universo da pessoa e nem foi contada na hora certa.

Boas piadas são contadas no tempo certo, com a virada acontecendo exatamente quando o público está envolvido. Seu entendimento tem que ser rápido, praticamente sem pensar. Um instante de reflexão estraga o ritmo todo e a piada fica sem graça. Fora isso, o clima tem que ser preparado para pegar o público de surpresa. Repare quando grandes humoristas contam piadas, parecem que enrolam no começo, enchem lingüiça, só que na verdade estão nos deixando ansiosos, conduzindo nosso pensamento para o final. É assim também nos bons filmes de comédia.

Muitos filmes que deveriam ser de comédia não tem graça nenhuma, e ao analisá-los notamos que não há nenhuma sofisticação na piada, ela não transita por assuntos cultos, restritos, nada disso. Era para ser um filme sobre nosso cotidiano, com assuntos comuns demais.

Então, o que acontece com esses filmes? Egocentrismo do autor, achando que pode tudo, que suas piadas são demais e que o público vai acompanhar sua genialidade. Não é assim. Por isso que as últimas comédias brasileiras são tão sem graça. E olha que os autores são humoristas consagrados da nova geração.

Falta olhar para o público, colocá-lo num patamar mais importante do que o próprio texto. Fazer comédia não é fácil. A obra sempre será classificada como palhaçada, para o bem ou para o mal. E quem decide isso é o ego do autor.

Bruno R. Módolo é roteirista e sócio da Garoa Fina, um estúdio dedicado ao desenvolvimento de roteiros e histórias para TV, Cinema e Publicidade. faledoartigo@garoafina.com.br
Share: