Por trás da tela - Um vilão até que é bom

Por Bruno Módolo | 

Todo mundo precisa ter algo para superar, puxá-lo para frente, algum objetivo para conquistar. Sem isso nos tornamos nulos e acomodados. Só quem chegou ao final da vida pode não ter mais o que superar, pois já fez de tudo. Ai podemos dizer que não é uma vida nula, mas sim pacata, em paz. Agora, tente levar uma história nula e acomodada para o cinema.

Drama é conflito. Sem conflito não há drama e ponto. E conflito não é achar que a vida é ruim, que só tem desgraça e que nada do que você faz dá certo. Isso é chatice. Conflito é provocado por uma força antagonista que impede você de conquistar o que quer. O resto só atrapalha se você permitir.

O antagonista tem força própria, é o vilão da história porque seu objetivo é impedir o protagonista de chegar lá. Esse vilão não precisa estar caracterizado em um só personagem. É o caso dos dramas sociais, onde a situação ou o comportamento da sociedade exerce essa força contrária. Também no caso dos dramas psicológicos, onde a própria mente do protagonista o atrapalha.

Um bom drama psicológico, que não entra nos meandros dos sanatórios ou pirações como Cisne Negro, é Blow Up, de Michelangelo Antonioni. O roteiro é assinado pelo próprio Antonioni ao lado de Tonino Guerra. No Brasil o filme foi chamado de Depois Daquele Beijo, e realmente o nome em português é muito bom, porque foi justamente depois de um beijo que o fotografo Thomas, vivido por David Hemmings se lança numa busca frenética para desvendar um mistério. A obsessão de Thomas é a vilã da história.

Já no filme Invictus, de Clint Eastwood e com roteiro de Anthony Peckham, algo curioso acontece, e por isso mesmo que o filme não é tão bom. Não tem vilão. Era para ser o Apartheid, mas logo no começo, Nelson Mandela, vivido por Morgan Freeman bota o inimigo para correr. Depois, só muito depois é que outro inimigo surge. É a seleção de Rugby da Nova Zelândia, e ai sim o filme decola, mas em 15 minutos acaba. Não dá nem tempo de torcer, pois logo os créditos começam a subir pela tela.

O vilão não precisa ser malvado, extremamente destruidor, basta dificultar um pouco para nos mexermos. Tanto para nós como para o cinema, essa força contrária é que dá a graça e o tempero.

Um homem sem antagonista não vive. Filme sem antagonista vira vídeo institucional.

Bruno R. Módolo é roteirista e sócio da Garoa Fina, um estúdio dedicado ao desenvolvimento de roteiros e histórias para TV, Cinema e Publicidade. faledoartigo@garoafina.com.br
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