A arrogância burra da geral ludopédica e a brincadeira da criança de domingo no Pacaembu

Por Marcelo Mendez

E para falarmos de mais uma farta rodada futeboleira, estenderemos o Canela De Ferro até quarta da semana que se passou.

A fatídica noite, teve requintes de crueldade dignos de um George Romero, de um Mario Bava, para nosso futebol brasileiro. Naquela noite, tivemos os times brasileiros sendo eliminados sumariamente das oitavas de final da taça libertadores da América. Começou com o Internacional tomando uma tunda em pleno Beira Rio lotado, do Peñarol por 2x1. No Chile, o arquirrival Grêmio apanhou da Universidad Católica por 1x0, o Fluminense sendo surrado no Paraguai pelo Libertad por 3x0 e o Cruzeiro, o time que vinha sendo o melhor da América, perdendo em casa para o Once Caldas por 2x0. Uma catarse. E porque ficamos completamente abestados quando algo assim acontece? Façamos um reflexão...

Não é de hoje que falamos da necessidade de integração entre os povos da América do sul. Na verdade, sempre que se tenta isso, a parte mais complicada é a nossa, a brasileira. Dentro do continente somos diferentes em tudo, falamos outro idioma, temos um país imenso, várias regiões, culturas diversas, mais recursos naturais e tudo mais. Em instante algum, o povo nosso procura uma aproximação com as coisas que acontecem aqui do nosso lado. As férias de junho, passamos na Europa, os sonhos de universidade são sonhados nos EUA e por mais que nos classifiquemos em exceções, a crônica aqui trata da via de regra. Esse fenômeno social é fato. E como o futebol não é uma ilha, isolada de aspectos sociais, culturais e políticos, obviamente que isso se reflete por aqui em nossas quatro linhas.

Amigo leitor, todas as vezes que começa o torneio sul-americano, se ouve a imprensa futeboleira cravar; “Os favoritos ao titulo são os times brasileiro”. Como se mais nada além da nossa pele morena, existisse aqui em nosso cone sul. Não entendo o porque disso.

Se pararmos pra fazer uma análise mais aprofundada da coisa, facilmente esse pretenso favoritismo vai as favas. Vejam: o Uruguai por exemplo, esta em franca ascensão no seu projeto de recuperação do futebol do Rio da Prata. Os Orientais, foram 4º colocados no mundial da Africa, tiveram em Forlan seu principal jogador, conseguiram no começo desse ano a emblemática vaga olímpica com sua seleção sub 20 e seus clubes também fazem parte desse processo. O Peñarol que eliminou o Internacional por exemplo, tem 5 títulos de Libertadores, coisa que ninguém aqui no Brasil tem. É chamado “O Gigante” por conta de suas conquistas e suas histórias. Normal seria que um clube desses, munido de um sentimento de retomada, tenha força pra ter um embate equilibrado com o Inter. Mas que se ateve a isso? E o caso do Cruzeiro?

Acidente sim. O Cruzeiro é muuuuuuuuuiiitooo mais time que o Once Caldas. No entanto, o time de Manisales, já foi campeão da Libertadores, tirando Santos, São Paulo e batendo o Boca na Bombonera. Será que não é o caso de ter um pouco mais de atenção nos caras? E o Fluminense??

“Time de guerreiros”. - Amigos, futebol não se disputa entre canhões e exorced's, precisa jogar bola! E o Fluzão não faz isso há tempos! Enfim...

Nariz empinado que não se mantem. Aqui em São Paulo somos especialistas nisso, vejam meu Palmeiras. Meu verde jogaria contra o Coritiba que tem 24 vitórias seguidas! E ae olha o que se dizia em São Paulo: “Ah mas conseguiu isso no Paraná, será que a nível nacional vai dar certo?” Orasss...

Essa mesma imprensa paulista não bradava aos 4 cantos que “O Palmeiras é a defesa menos vazada”, com o meu verde jogando o campeonato paulista? Então porque diabo o critério que serve para o Palmeiras, não serve pro Coritiba?!?! Resultado disso, foi um massacrante 6x0 tomado pelo meu verde, com caixa pra mais no jogo de ida pela copa do brasil! Tendo tudo isso como basem decidi então sair de casa para ver a final do Paulistão e tudo tava indo bem...

Em uma tarde de domingo tão bela e tão clara quanto as madeixas de Susan George, aconteceu a 1ª partida da final do campeonato paulista de futebol 2011. O sol claro e o cheiro de outono exalado pelas ruas e alamedas do bairro do Pacaembu, suscitava em mim as mais gostosas lembranças dos tempos que comecei a frequentar o estadio em questão nos longínquos anos 80. Era um tempo diferente.

Uma época em que não havia celulares, computadores, e-mails e twitter. As pessoas tinham mais tempo para a vida, inclusive, para se encantar. No meio desses flashbacks, a Banda Fellini me veio à mente com uma de suas canções clássicas de nome “Criança De Domingo”. Em um de seus versos a canção diz “Eu sábado vou rodar, criança de domingo, sem saber guiar, Criança de Domingo...” Chegando nos portões das numeradas do Pacaembu, descubro que é exatamente assim que me sinto perante o jogo entre Santos x Corinthians.

Tal e qual a criança que não sabe guiar, não sabia o que esperar do jogo. Afinal de Contas tudo esta mudado em nosso futebol; O ingresso é magnético, as pessoas são mecânicas, os times são robóticos e até o clássico lanche de pernil da porta do estádio agora é “light”. Os estádios não tem mais a presença da torcida adversária. Inventaram um tal de “mandante” para ocupar todos os lugares de maneira absolutista e chata. Nesse panorama não tinha como o jogo fugir da via de regra com que foi disputado.

Após um primeiro tempo extremamente chato, recheado de faltas, piques errados e trombadas, as equipes voltaram para a segunda etapa dispostas a jogar um pouco de futebol. O Santos, tendo em Neymar seu principal jogador, foi para cima do Corinthians e criou chances, primeiro com Alex Sandro tentando encobrir o goleiro Júlio César e depois com o próprio Neymar, acertando o travessão do time de parque são jorge. O alvinegro do Tatuapé, até tentou arriscar em alguns contra ataques com Liedson e Willian que substituiu o pouco operante Dentinho. Em uma dessas acertou a trave do gol santista mas é pouco. Afinal de contas, o mais fervoroso corintiano sabe do tamanho de seu time e da grandeza que o circunda. Muito triste ver uma equipe do tamanho com Corinthians, jogando covardemente recuado, apostando numa bolinha para sair num contra ataque mais fortuito que as tacadas de sinuca de Eddie Felso em DESAFIO À CORRUPÇÃO. Em tempos modernos, times grandes apresentam vez por outra uma espécie apequenamento digno de uma Prudentina, de um Francana e quetais.

Final de jogo; 0x0 virginal.

Agora terá a volta. Semana que vem as equipes se encontram na Vila Belmiro para definir esse caneco. De minha parte, farei como na musica do Fellini para aguardar por um jogo um pouco mais bonito, Diz a segunda estrofe que “Amanhã Tem Mais, Segunda é um dia lindo.” Tomara que seja e que os nossos times sigam essa nossa esperança de riqueza ludopédica.

Seja lá como for, tal e qual o Fellini cantava, “Amo Meu Domingo”...

Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor, webmaster e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.
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