Do Vinil pro CD ou Vice Versa... Luis Melodia – Pérola Negra (1973)

Por Claudio Cox

Quando declararam a “morte” dos discos de vinil, o famoso LP, no finalzinho dos anos 90 por aí, foi exatamente a época em que mais comprei discos e que mais descobri sons à moda antiga. Aquela coisa de ir a uma loja de discos e ficar ali durantes horas manuseando álbuns, colhendo alguma informação com o vendedor, admirando as capas, ouvindo algumas faixas e arrematando numa tacada só, uns cinco, até dez discos!

Bom, não eram exatamente “lojas de discos” dessas convencionais e tal, mas na verdade “Sebos de Discos”. Aqui em Santo André muitos desses foram alojados em bancas de jornal, não sei por qual motivo, talvez o custo para se manter o negócio, mas sei que nessa época eram muitas espalhadas pela cidade.

Com essa estória de “fim dos discos”, “o negócio agora é CD” e outras baboseiras, muita gente se desfez de seus toca-discos e também de seus discos, é claro. O resultado foi que os sebos nunca viveram uma safra tão boa como a daqueles anos, e nós consumidores agradecíamos.

Eu também havia adentrado ao mundo dos Compact Discs nos anos 90, não tinha como não fazê-lo, e era legal, eu adorava aquela “comodidade” que eles nos ofereciam: controle remoto, “shuffle”, “repeat” e etc, mas mesmo assim nunca pensei em me desfazer dos meus discos. Tenho 38 anos e nunca vivi numa casa sem um toca- discos.

Fiz algumas burradas, das quais me arrependo até hoje, que foram mais por falta de grana do que por qualquer ataque “modernoso” besta. E foi justamente também por falta de grana que voltei a comprar discos em vinil.

Era uma maravilha aquilo, enquanto um CD custava vinte, trinta reais, eu arrematava títulos a cinco, três, até a um real você encontrava coisa legal. Claro que não eram os lançamentos, até porque muita coisa dessa época nem era mais lançada em vinil, mas eram álbuns que nem existiam em versão digital ainda, e por isso me instigavam tanto.

Foi nessas que “afundei o pé na jaca” na “MPB” setentista. Eu já gostava e conhecia alguma coisa, mas eram poucos os títulos na minha estante, e foi aí que tirei um atraso monstro. Entre Alceu Valença, Zé Ramalho, Novos Baianos, Chico Buarque, Elis, Gilberto Gil, Monarco, Cartola, Elizeth Cardoso e alguns outros adquiridos nessa época, estava também o disco de hoje: Luis Melodia - Pérola Negra.

Eu acredito piamente que você conhece um artista de verdade quando o vê refletido na sua obra, e foi isso que aconteceu comigo quando descobri esse álbum. Já conhecia o Melodia de nome, é claro, também já deveria ter escutado alguma canção desse álbum por aí, jogada no meio de uma programação de rádio, seguida de um comercial das Casas Bahia, portanto, sem a entrega necessária para canções desse quilate.

“Pérola Negra” é disco para se ouvir inteiro, da primeira à última faixa como se fosse uma só. A seqüência “Abundantemente Morte”, “Pérola Negra” e “Magrelinha” é uma das mais bonitas e perfeitas que já foram registradas na história da nossa música. Faz chorar mais do que cortar cebola!

Eu acho que foi o Toninho, dono de uma banca de discos clássica na cidade, que me deu essa definição sobre o “Pérola Negra”: “É a mais sincera tradução do blues feita por um músico brasileiro, preto, pobre, em português. A essência do blues tá ali, é a mesma do samba".

I agree!
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