Do Vinil pro CD ou Vice Versa... Motorhead - Ace of Spades

Por Claudio Cox


Assisti essa semana o filme documentário sobre o Lemmy do Motorhead, e quase que imediatamente saquei todos os discos dos caras que tenho e não paro de ouvir. Lemmy é o “Godfather” do rock pesado.

Acho que o meu primeiro contato com o Motorhead foi através de um pôster da revista Som 3, isso lá nos anos 80. Era uma edição especial falando sobre o movimento “Punk”, contava toda a história até então, tinha até um capitulo sobre o Punk brasileiro da época, era bem legal, enfim...

O Motorhead não estava na pauta da matéria, mas bem que poderia, estava na camiseta de um moleque de moicano, aquela camiseta clássica, preta com o símbolo em branco.

Não demorou muito, descobri que aquela banda era de “Headbangers”, cabeludos alienados adoradores do capeta, era assim que essa facção sonora era definida pela rapaziada do “Punk”, pelo menos os que eu conhecia. Mesmo assim fiquei na duvida, o que aquele “Punk” estava fazendo com a camiseta de uma banda de “Metal”?

Vieram os anos 90 e com eles um tal de “Crossover”, aliás os Ratos de Porão já no segundo álbum, o “Descanse em Paz” de 86, vinham nessa onda, e esse era um dos meus discos favoritos na época, só que até a ficha cair era difícil, pra mim aquilo era “Punk”, letras politizadas e desgracêra braba.

Em 1990 eu trabalhava no centro de Santo André e no começo de abril, se não me falha a memória, começou a rolar um projeto da prefeitura chamado “Rock in Rua”. Isso foi uma das coisas mais legais que a prefeitura da cidade já fez, acontecia todo sábado à tarde só com bandas de garagem e eventualmente rolavam umas edições especiais com nomes um pouco mais conhecidos. No primeiro chamaram os Grinders.

O primeiro álbum dos Grinders rodou tanto em casa que até minha mãe sabia cantar as músicas, quando fiquei sabendo do show no “Rock in Rua” não disfarcei a felicidade, lembro que fui um dos primeiros a chegar.

O clima tava tenso, alguns “Carecas” rodeavam o Paço Municipal, local do evento, e para quem vivia fugindo desses brucutus pelas ruas da cidade como eu, isso não era um bom sinal. E não foi mesmo, no final saiu uma treta gigante e a Guarda Municipal desceu bordoada sem dó, eu e mais uns amigos subimos a avenida Portugal toda em 5 minutos eu acho... Foda!

Foi nesse dia que o Pobreza, hoje meu chapa, ex-baixista e vocalista do Grinders desde então, começou com uma história que eles agora eram uma banda de “Trash”, “Crossover” e sei lá mais o quê. Começou o som e não vi muita diferença, se bem que os caras só tocaram as músicas do clássico primeiro álbum e uma ou duas “novas”.

Acho que foi à partir daí que o interesse pelo tal “Crossover” e “Trash Metal” começou a aflorar. Só que não era nada fácil assim saber das coisas. O meu primeiro disco do “estilo” também comprei por causa de uma camiseta, dessa vez do DRI, que o Jão do Ratos de Porão usa na foto do encarte do “Descanse em Paz”. E o nome do disco também ajudava um pouco, “Crossover”, era o terceiro álbum do DRI.

Bom, daí pra frente a coisa desandou geral, Slayer, Sepultura, Anthrax, Metallica, coisas mais velhas como Black Sabbath e até os que não eram tão velhos na época, como os Misfits. Geralmente os agradecimentos nos encartes dos discos era de onde nomes e mais nomes de bandas apareciam.

O Motorhead já não era um nome desconhecido e não seria possível chegar ao tal “Trash” e “Crossover” sem passar pelos pais da criança. O Sepultura gravou "Orgasmatron" e não era difícil ouvir o som dos caras nos programas de rádio especializados, o Backstage da 97FM e o Comando Metal da 89FM. O primeiro disco dos caras que ouvi inteiro foi o “1916”, que era o lançamento na época. As coisas mais antigas da banda não eram tão fáceis de encontrar.

O primeiro álbum deles que eu comprei foi o “Ace of Spades” e já foi em CD, isso em 95 eu acho, lembro que foi por causa do show, comprei o ingresso e o “play” no mesmo dia. Eu já conhecia esse disco e alguns outros, mas não tinha nada em casa. Em época de show aparece tudo quanto é disco da banda pra vender, e nessa aproveitei para reparar esse vacilo.

Esse show foi no Olympia em São Paulo, não era uma fase das melhores da banda, mas era o Motorhead. Foi incrível, apesar de ter faltado vários clássicos no set, quando eles entraram pro bis e mandaram “Ace of Spades” o Olympia quase foi pro saco! Cacetada!

A versão em vinil do “Ace of Spades” veio num pacote que comprei na banca do Seu Zé, já nos anos 2000. Algum “convertido” resolveu se desfazer das coisas do mal e deixou lá além do “Ace”, o “Overkill” e o “Bomber”, todos novinhos. Esse dia a minha casa tremeu!

Ps: Durante os anos 90 eu tive umas três camisetas do Motorhead, a mesma classicona do pôster, e depois de assistir esse documentário estou pensando sério em arrumar mais uma pro meu guarda roupa...
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