Esses maravilhosos catalães e suas imortais chuteiras santas...

Por Marcelo Mendez

O amigo leitor que acompanha a saga ludopédica que é o nosso calendário do futebol tupiniquim deve ter visto ontem e sábado, a penumbra que foi a 2ª rodada do nosso campeonato brasileiro. No sábado, Botafogo e Santos judiaram da bola. Sábado à noite, 21 horas no Morumbi... Que horário do cão é esse?!? No sábado, perto da carruagem tricolor virar abóbora, o menino Lucas fez o gol salvador do São Paulo contra o Figueirense garantido um mirrado 1x0; No domingo o Cruzeiro conseguiu não vencer meu Palmeiras e o Corinthians estreou um uniforme grená que ninguém entendeu e venceu o mistão do Coritiba por 2x1 em Araraquara.

Uma pobreza só!

E então fiquei me perguntando se a crônica aqui do Pastilhas iria para o espaço maaaaasssss Aí tem o Barcelona...

Eu já dediquei meus mais caprichados rabiscos para o time azul-grená em outros momentos onde a beleza superou toda a coisa lógica, onde a arte se fez maior, como poucas e ótimas vezes se fez na história da humanidade, já falei do Barça, emocionado quando, diante dos meus olhos vi um time de futebol escrevendo o seu lugar na história de um esporte para todo o sempre e, quando imaginei que seria difícil mais um novo capitulo dessa saga, eis que chegamos na maior competição de clubes e em sua épica decisão protagonizada pelo time catalão; A UEFA Champions League.

Em um estádio Wembley lotado com 90 mil afortunados torcedores, Barcelona x Manchester United entraram em campo para a final da grande competição. A catedral do futebol mundial estava em polvorosa para assistir o jogo que os europeus chamaram “A final da década” A expectativa era grande:

De um lado tinha um poderoso Manchester United, treinado com excelência pelo grande Alex Ferguson, que reconstrói time após time, ano após ano, com muito trabalho e muita competência, um time que não tem as milionárias contratações de um Real Madrid, mas sim, uma política firme de administração esportiva que cria espaço propício para um Chicharito Hernandez brilhar, por exemplo.

A imprensa esportiva mundial esperava pra ver se a força do conjunto inglês poderia enfim fazer frente a um time que preza pelo encanto e pela beleza plena de seu futebol. Esse é o outro lado da história...

O Barcelona é muito, mas muito... Muiiiiiito mais que um clube. Barcelona é Miró. Barcelona é Gaudi. Barcelona é Bigas Luna. Barcelona é uma cidade de um ludismo tal, que jamais seria admissível que seu time de futebol não seguisse por essa toada. O povo catalão jamais aceitaria um time de futebol “comum”. E isso já disse aqui:

O time de futebol do Barcelona vai além dos esquemas táticos e outras rocambolices futeboleiras. Faz parte da história de um povo e de seu orgulho. A camisa do Barcelona é a bandeira da Catalunha. É a prova maior da força de um povo, que resistiu firme à tirania de um ditador sangrento, safado e assassino que foi o General Franco. Afinal, durante o peso de sua ditadura na Espanha, o Estádio Camp Nou servia como berço de afirmação do orgulho catalão. Só lá, durante 90 minutos de jogo, o povo da Catalunha podia falar seu idioma, apenas ali, um povo amassado pelas botas da tirania, tinha a redenção de um espírito sofrido, vilipendiado e maltratado. Naqueles tempos, Retchack, Ladislao Kubala e o brasileiro Evaristo, faziam partidas lendárias, onde nem sempre o titulo era o mais importante. Valia muito, jogar como catalão.

“Jogar como Catalão...”

Foi assim que o Barcelona se fez o que é hoje.

O time catalão tem uma escola em suas canteiras onde não se admite nada que não siga o padrão de jogo que se tem no seu time de cima. Com 11 anos de idade, o menino que veste sua camisa 5, tem que ser Xavi Hernandez e não, um reles Dunga da vida. Volante que joga de punho fechado não se cresce na Catalunha. A um espírito catalão reinante, um jeito barcelonista de ser e de entender o futebol em suas divisões de base desde a sua mais tenra idade que vai desembocar em Messi, Iniesta, Xavi, Busquet, Puyol, Pedro, Piquet e tantos outros nomes que surgem por lá.

Esses homens jamais se contentariam com “Os três pontos da tabela”. Não. Isso é coisa para os comuns. O Barcelona não faz parte disso.

Entrou no gramado santo de Wembley, sabedor do peso da responsabilidade que tem; “Ser catalão jogando futebol.” E assim fez durante os 90 minutos.

Contando com um Messi inspiradíssimo, com as subidas de Daniel Alves pela direita e pelos mais de 90% de acertos de passes entre Xavi e Iniesta, o Barça teve a posse de bola do jogo por mais de 72% do tempo e fez do poderoso Manchester United, um reles Bragantino da vida. O time inglês não viu a bola!

Tomou um 3x1 e teve em seu ótimo goleiro Van Der Saar seu principal jogador. Sem ele a paulada seria bem maior. Na coletiva, o técnino Alex Ferguson cravou; “Não há nenhum demérito em perder para um time como esse. O melhor time que já vi na minha vida”. E quando acusaram o técnico do time inglês de omissão (Justamente é bom dizer...) entendi que a resignação do homem deve-se a isso.

Vendo a história dos Reis Catalães ali em sua frente, Alex Ferguson se rendeu a toda essa excelência. Não ousou tentar nada que impedisse o que se viu sábado ultimo. Uma partida de futebol digna de um time para ficar do lado do Santos de Pelé, Do Real Madrid de Puskas, do Honved húngaro e tantos outros times que marcaram a história desse esporte. Outros dirão que o distanciamento histórico será necessário pra dizer até onde esse Barcelona pode chegar. Uns tantos dirão “Os tempos são outros”, mas aqui, o pobre cronista que vos escreve abre mão dessa prudência toda, como recomendou Willian Blake para dizer sim que, o Barcelona de 2011 é um dos maiores times de futebol de todos os tempos. Sem medo de errar.

Em meio a tanta pobreza ludopédica, perdido em outras estupidezes que tomam conta dessa coisa linda que é o futebol. Sinto-me feliz da vida com a conquista ultima do time catalão e, caro leitor, vos digo:

Sábado, a história se fez diante dos meus olhos. Que escorra a boa lágrima!

Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor, webmaster e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.
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