Por trás da tela - A importância da premissa

Por Bruno Módolo |

Morgan Freeman e Tim Robins em "Um sonho de liberdade"
Não importa se você escreve de maneira caótica ou se gosta de planejar cada momento da história antes de colocá-la no papel. É sempre muito importante saber onde quer chegar e o que realmente quer contar para o público. Sem esse norte, com certeza você irá se perder.

Muitas idéias, cenas novas ou personagens novos surgem enquanto desenvolvemos uma história. Tudo parece genial ou tudo parece horrível. Essas duas situações podem ocorrer e são igualmente perigosas se você não souber que tipo de história está contando. Acrescentar, modificar ou excluir qualquer coisa sem um critério de avaliação, leva tudo por água abaixo.

É ai que entra a premissa, que basicamente é o indicador do rumo da história. Premissa quer dizer as proposições que servem de base para a conclusão. Numa narrativa, sua função é estabelecer sobre o que se trata a história ou simplesmente para qual entendimento a história vai conduzir.

A partir de uma premissa bem estabelecida, independente da forma como o escritor trabalha, caótica ou não, ele poderá avaliar cada ideia que teve, cada momento da sua história para saber o que melhorar, como melhorar, o que precisa ser inserido e o que precisa ser excluído.

E para estabelecer uma premissa não é preciso saber como será o final de sua história, mesmo porque isso é uma das coisas que mudam e muito durante o desenvolvimento. Mas é com uma boa premissa que você saberá avaliar se criou um excelente final. O que é preciso para estabelecer uma premissa?

Lajos Egri em seu livro The Art of Dramatic Writing indica as 3 partes que compõem uma boa premissa. Particularmente é a definição mais eficiente. Segundo Egri, você precisa estabelecer qual a principal emoção em jogo na história, qual o grande conflito do personagem e qual o desfecho desse conflito.

O autor aponta que um grande amor derrota até a morte é a premissa de Romeu e Julieta. Realmente a grande emoção da história é o amor do jovem casal, o grande conflito é ter que enfrentar o ódio entre as famílias e no final, o casal compreende que um grande amor supera tudo. Se por acaso um novo personagem fosse inserido para tentar seduzir Romeu e criar uma confusão em sua cabeça, em relação a se ama ou não Julieta, a história seria outra e não a que conhecemos.

Ao analisarmos outra história, como por exemplo, Um Sonho de Liberdade, escrito por Frank Darabont, podemos identificar que a premissa é A busca por liberdade é o que mantém o homem vivo. Quando Andy, interpretado por Tim Robbins, estava preso, foi forçado a se adaptar ao estilo de vida dos detentos. Mas ele não aceitava isso, tanto que foi aconselhado por Red, interpretado por Morgan Freeman, a não se iludir, pois esperança é um veneno dentro do presídio. Porém, Andy lutou com todas as forças para se libertar, e somente por isso se manteve vivo. Red, que rejeitou lutar, só recuperou sua vida depois que reencontrou Andy fora da cadeia, e voltar trabalhar.

Criar uma premissa não é formula de sucesso, não é prender a criatividade. Criar uma boa premissa é canalizar o poder artístico para um fim bem definido, é ajudar o escritor a fazer o seu trabalho da melhor maneira possível. De que adianta se esforçar para escrever e deixar tudo sem sentido? Até o que parece bagunçado tem um sentido, tem uma premissa por trás. Mas nada funciona sem um caminho bem traçado, nem mesmo os seres humanos.

Bruno R. Módolo é roteirista e sócio da Garoa Fina, um estúdio dedicado ao desenvolvimento de roteiros e histórias para TV, Cinema e Publicidade. faledoartigo@garoafina.com.br
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