Por trás da tela - Sexo, explosão e coerência

Por Bruno Módolo |

Tem uma velha máxima que diz: o público gosta de filme que tem sexo e explosão. É verdade isso? Entre os maiores sucessos de bilheteria deste ano, todos tem cena de sexo e explosão? E entre os maiores clássicos da história?

Watchmen: Espectral e Coruja se beijam em cena
 caliente e ao fundo a explosão de uma bomba atômica.
É muito leviano avaliar se um filme será bom ou não, se fará sucesso ou não só analisando alguns elementos. Primeiro porque sucesso é muito relativo. Sucesso significa alcançar um objetivo com êxito. Se um filme se propõe a ter 20 milhões de expectadores e alcança apenas 18 milhões, não é um sucesso. Por outro lado, se um filme feito só para agradar uma comunidade, como um documentário sobre uma pequena cidade, consegue 500 mil espectadores, o filme é um sucesso, pois superou a expectativa do realizador.

Segundo, o que é bom para um, não é para o outro. Não é porque uma coisa está em todos os grandes canais da TV que ela será boa. São pouco mais de 30 milhões de pessoas assistindo e menos de 10 milhões gostando. E os outros 150 milhões de brasileiros que estão fazendo outras atividades? A maioria esmagadora não está nem ai para essa coisa na TV. Carolina Kotscho teve dificuldade para levar o roteiro de 2 Filhos de Francisco adiante, porque quase todo mundo dizia que o filme não era bom, não tinha um bom tema. É claro que o filme tem suas falhas, mas fez um enorme sucesso, agradou muita gente. E detalhe, não tem sexo nem explosão. O filme Segurança Nacional tem muita explosão, é não fez sucesso, muito menos é um bom filme. E Bruna Surfistinha? Agora, onde está o problema em tentar prever se um filme será sucesso ou não?

O público gosta sim de cenas de sexo e de explosão, mas precisa enxergar a coerência no filme. O que faz a gente vibrar com uma explosão não é o fogo ou o barulho ensurdecedor, é a emoção de acabar com o inimigo e seguir torcendo pelo protagonista. Só que para sentir essa emoção, temos que perceber claramente a ameaça dos vilões, ficar com medo deles. Caso contrário a explosão não vai ter coerência. Tanto homens quanto mulheres gostam do sexo que acontece nos filmes, porque sentem o envolvimento e o desejo dos personagens, cada um a seu modo. Se o público não torcer pelo beijo ou pela cena de amor, vai ficar banal.

E filmes sem cena de sexo ou explosão agradam o público porque tem coerência. As emoções em jogo nesses filmes são outras, como superação no caso de 2 Filhos de Francisco, colocar a vida no eixo como em Durval Discos ou a reconciliação familiar de Procurando Nemo. Esses filmes deixam claro a que vieram, conduzem bem essas emoções para nos envolvermos com os personagens e resolvem bem no final. Tem total coerência na história que estão contanto.

Não dá para dizer que quem busca estabilidade financeira está num bom caminho e será um sucesso. O que dizer do artista que largou tudo para seguir seu coração, como muitos entrevistados aqui no Pastilhas Coloridas? Não existe fórmula para o sucesso. No cinema e na vida, o que importa para se dar bem é a maneira como as coisas são conduzidas ou a coerência com que são feitas.

Bruno R. Módolo é roteirista e sócio da Garoa Fina, um estúdio dedicado ao desenvolvimento de roteiros e histórias para TV, Cinema e Publicidade. faledoartigo@garoafina.com.br
Share: