Quando as chuteiras se calam em Sparta e a santa subversão ludopédica

Por Marcelo Mendez

O cerco de Sparta por Pyrrhus
Em meio à mediocracia ludopédica ululante, cá estamos para falar de um final de semana recheado de emoções pelos estaduais por todo Brasil. Aliás, uma coisa interessante o que acontece nos estaduais. São campeonatos insuportavelmente longos, com regulamentos estapafúrdios que após 4 meses, nos dão uma estranha sensação de que “acabou rápido”. Mas é claro que o paradoxo se explica, são campeonatos onde os únicos jogos que valeram foram as semifinais respectivas jogadas por quem finalmente tinha que estrelar essa cena máxima.

Tivemos no sul, o clássico farroupilha decidindo o segundo turno entre Grêmio x Inter com a vitória do colorado, em Pernambuco, o clássico entre Sport x Náutico dando o Leão da Ilha na decisão contra o Santa Cruz. No Rio de Janeiro, o Flamengão vence nos pênaltis para ser campeão carioca, porrada comendo em Goias entre Vila Nova x Goias e por ai vai no Brasilzão. Aqui em São Paulo também tivemos nosso fim de semana pra la de Dostoiévski em nossos campos de futebol.

No Pacaembu ontem, todos os Santos foram calçados por chuteiras, escalados pelos torcedores apaixonados e entraram na cancha para um Palmeiras x Corinthians que outrora fora o maior clássico aqui do estado. E se não é hoje, o clássico de ontem explica bem o porquê. Caro leitor, futebol é algo muito mais simples de se jogar do que tudo que envolveu esse clássico na semana que o antecedeu.

Tivemos um ÓTIMO trabalho do grande Luiz Antônio Prósperi, jornalista de ponta, cara digno, correto, que escancarou a estranheza do tal “sorteio” do arbitro para o jogo. E diga-se, não quer dizer que este ser vestido de preto, esse riquíssimo e fundamental personagem para nosso futebol, tenha tido qualquer tipo de influencia no resultado final do jogo. Paulo César Oliveira, errou, como erra todo e qualquer sujeito óbvio ou seja, erra de maneira comum, humana, corriqueira. Não tem no seu equivoco o charme do “juiz canalha” que tão bem faz a crônica. Paulo César de Oliveira é portanto um Honesto. Depois tivemos o bate-boca entre nosso Roberto Frizzo, Palmeirense de 4 costados, pessoa que gosto e respeito demais, com Andres Sanchez, presidente deles, cara bacana até mas muito atrapalhado com as palavras. Disso nada se tirou. Depois veio uma coisa irritantemente triste, que foi a declaração paulista da falência geral humana; Tiraram do torcedor do Corinthians o direito de ir ao Pacaembu.

É muito triste ouvir do poder público e principalmente do clubes, que não é possível que se divida um estadio para duas torcidas. Então é isso. Se não podemos conviver com as nossas diferenças clubísticas, não sei com quais diferenças vamos poder conviver. E por último, vem o que mais me irrita nessa ludopédia toda.

Nosso treinador Luiz Felipe Scolari é muito bom no que faz. Dentre seus grandes méritos, Felipe já levou a pífia seleção de Portugal para uma final de Eurocopa no verbo. Já venceu uma libertadores para nós no berro! É inteligente e monta times improváveis como o Grêmio dos Renegados de 1995. O problema é quando ele erra a mão. Felipão preparou nosso Palmeiras não para um jogo de futebol e sim, para a Conquista de Montecastelo contra o exercito Alemão! Tratou Kleber não como um atacante mas sim, como um Espartano, ante o exercito persa na batalha de Termópilas! Sendo assim, a ultima coisa que passou pela cabeça dos nossos 11, foi... Jogar futebol.

Eu nem acho ruim que vez por outra se troque la uma pernada, uns cutuco, umas braçadas. Afinal de contas, o futebol vive de idiossincrasias, dentre as quais, suas regras e o fato de ser um esporte de contato não disputado pelos monges beneditinos do largo são bento. E tenho certeza que se rolar uma bola por lá, os santos homens vão trocar umas beliscadas. Futebol também tem isso. Só que não pode ter só isso.

Preocupados em dar trombadas, em reclamar com o arbitro e a berrar feito uma velha fofoqueira do Brás, o Palmeiras não se ateve ao que tinha que se ater, o jogo. Caiu fácil na armadilha do recuo corintiano para jogar no contragolpe que não dava certo por conta de Dentinho não jogar nada. Mesmo assim, o meu verde foi pra cima. Teve problemas com Danilo que ficou louco e foi expulso e com Valdívia, que entendo que deve se preocupar em chutar a bola, ao invés do vento. Assim não terá maiores problemas... Mas com um a menos jogou mais que o Corinthians, fez por merecer sair na frente por 1x0 e o gol sofrido posteriormente foi um castigo.

Como sempre tem acontecido com o Corinthians, o time de Parque São Jorge joga pobremente por uma bola em 90 minutos e a achou, em um erro de Deola e uma cabeçada de William sacramentando o 1x1 que se seguiu até a o final dando em uma disputa de penaltis. Aí, pode dar qualquer coisa por maiiissss que os “especialistas” queira dizer o contrário. Pênaltis são como roleta russa. E a bala ontem ficou para a cabeça do Palmeiras, quando João Vitor erra a ultima cobrança. Festa para o Corinthians que fará uma final contra o time que me vale a crônica...

O Santos entrou em campo para enfrentar o São Paulo como favorito e isso se fez em campo por uma razão que me alegra a retina; Ver Paulo Henrique Ganso e Neymar em campo.

Neymar é simplesmente a prova do que o futebol Brasileiro tem de bom. É habilidoso, esperto, imprevisível, abusado, alegre... Joga por musica, samba por elegância. Desequilibra por se recusar a fazer o que os padrões mandam. Recebeu um passe divino de Ganso e devolveu para o mesmo meter o segundo gol no São Paulo. E Ganso? Ah Ganso...

Paulo Henrique Ganso é meu sonho de futebol. Um jogador que subverte a ordem medíocre das coisas. Um cara que enxerga em campo o que ninguém mais vê porque os outros são reles mortais enquanto Ganso, faz parte de um outro hall ludopédico. O camisa 10 da vila Belmiro é um craque da renascença dos campos de futebol. Um Nureyev de chuteiras. Um homem que tem nos pés a elegância que Paul Desmond tinha ao soprar seu sax. Uma fleuma com a bola do tamanho da finesse que tinha um Gaudi, um Miró, uma cena dirigida por Louis Malle... Ganso é algo que vá muito além de um jogador de futebol. Ele é um artista, uma benção para os que amam futebol e torcem para que a idiotizarão futeboleira acabe.

Portanto, quando Ganso achou Elano para botar a bola na sua cabeça, quando placar final apontou 2x0 para o Santos, a vibração não foi apenas pelo clube mas pelo Futebol. Assim será na decisão contra o Corinthians. Assim será sempre que a cronica se deparar com o craque. A coluna Canela de Ferro não poderia acabar de outra forma hoje, do que essa que farei:

Obrigado, Paulo Henrique Ganso! Jogai por nós...

Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor, webmaster e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.
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