Por Bruno Módolo |
Diálogo é uma das partes do roteiro que mais revelam coisas. Revelam o caráter dos personagens, o que está se passando em suas mentes, a cultura a que pertencem, mas principalmente, revelam a habilidade do roteirista. Um diálogo mal escrito mostra que o roteirista está cru, precisando trabalhar mais. Por isso é a parte mais complicada de se escrever. Não há segredo nem fórmula mágica para escrever um bom diálogo. É preciso muito trabalho, muitas tentativas, e assumir os erros para corrigi-los depois. Pretensão atrapalha qualquer tipo de trabalho.
Diálogo é uma das partes do roteiro que mais revelam coisas. Revelam o caráter dos personagens, o que está se passando em suas mentes, a cultura a que pertencem, mas principalmente, revelam a habilidade do roteirista. Um diálogo mal escrito mostra que o roteirista está cru, precisando trabalhar mais. Por isso é a parte mais complicada de se escrever. Não há segredo nem fórmula mágica para escrever um bom diálogo. É preciso muito trabalho, muitas tentativas, e assumir os erros para corrigi-los depois. Pretensão atrapalha qualquer tipo de trabalho.
Na hora de escrever o diálogo muita gente se preocupa com o conteúdo das falas, com a escolha de palavras e das frases. O importante na verdade é a relação do diálogo com a cena. Tem diálogo que vai expor o personagem, vai explicar a situação, criar um clima, emfim, várias funções eles podem ter. Independente da função, a relação das falas com as imagens tem que ser bem realizada. Não é porque o cinema é feito principalmente de imagens que as falas dos atores têm que ser desprezadas. Os diálogos levam a história para frente, além de mostrar detalhes que as imagens não são capazes. Então, para um diálogo ser bom ele tem que trabalhar em conjunto com a imagem.
O conselho mais batido que se ouve para quem vai escrever um dialogo é o famoso Show, don’t tell, ou seja, não escreva no diálogo o que o personagem fez ou vai fazer. O que a imagem mostrará não precisa ser dito pelos personagens, só que isso é pouco para tornar um diálogo bom. Outro conselho batido é para se inspirar em conversas non sense, estilo Pulp Fiction de Quentin Tarantino. Também não é só isso que torna o diálogo bom.
Para a comunicação funcionar, cada parte tem que acrescentar algo na conversa. As duas partes tem que conversar, as duas precisam inserir coisas novas cada vez que abrem a boca. Caso contrário ou se torna um discurso ou conversa de elevador. Por isso, cada fala dos personagens tem que ter ação e a resposta ser uma reação. Por exemplo, uma acusação contra uma defesa, uma acusação contra um novo ataque, uma declaração de amor contra uma rejeição ou um desabafo contra uma compaixão. Centenas de situações poderiam explicar isso, e se você reparar, é assim que conversamos. Sempre tem um que quer falar mais do que o outro, sempre que você diz algo ou a outra pessoa completa ou reage de maneira contraria. Quando não há troca a conversa para, porque não há assunto para desenrolar, não há reação. Podemos dizer que uma das características do bom diálogo é permitir um jogo de positivo e negativo, ou seja, ação e a reação.
E é nesse jogo de valores que a mente dos personagens é revelada, porque na reação é que aparece o que ele quer fazer, que emoções está sentindo naquele momento e o que está se passando dentro da sua cabeça. Podem ser duas ou três frases durante o filme todo, como nos clássicos filmes de arte, mas repare que eles revelam coisas que a imagem jamais dirá e tem um bom jogo de valores.
Agora, o principal erro dos roteiristas ao criar diálogos, é não definir o estilo dos personagens. Cada pessoa fala de um jeito e se não prestar atenção, o roteirista faz com que todos os personagens falem iguais, não só nas palavras, como também no jeito de se comportar. Em Tropa de Elite, alguns diálogos são iguais, principalmente os que tem frases de impacto, tipo "Quer me fuder, me beija logo". É impossível que todo corrupto seja exatamente igual, pense exatamente igual, tenha a mente igualmente rápida para criar boas frases. Agora, se reparar nos diálogos entre Neto e Matias, perceberemos bem a diferença entre eles, um é porra louca e o outro mais contido.
Se você não imaginar nada ao ouvir um diálogo, não visualizar nenhuma característica do personagem, nem entender porque ele está ali, não tenha medo de afirmar que o diálogo é ruim e que o roteirista falhou. Ninguém na vida real fala de maneira artificial, porque no cinema teria que falar?
Bruno R. Módolo é roteirista e sócio da Garoa Fina, um estúdio dedicado ao desenvolvimento de roteiros e histórias para TV, Cinema e Publicidade. faledoartigo@garoafina.com.br