Álbuns Clássicos - LAFAYETE Vol. IV

Por Marcelo Mendez

Essa semana me peguei lembrando dos ermos anos 80 no Parque Novo Oratório.

Naqueles anos uma das maiores diversões eram os famosos Bailinhos de Sábado a Noite. Consistia no seguinte:

Alguém descolava uma garagem ou um fundo de quintal, se preciso fosse uma lona de feira era estendida (Gentilmente cedida pelo Ninão fruteiro, mas até as 4 da matina porque afinal ele tinha que ir pra feira...) e ae rolava um rateio, para comprar umas garrafas de pipermint (Um licor verde, de menta, mais doce que minha amiga Rosa Ferraz...) umas e outras de cachaça “3 Fazendas” pra fazer a mistura, mais algumas outras de vinho natal e algumas cervejas de garrafa. Pra comer era batata na conserva e pão com carne desfiada. Pronto; já tínhamos um banquete!

Ae era chamar as meninas, descolar uns discos e botar pra arrebentar na quebrada. Tinha a hora da “lenta” com Marvin Gaye e Barry White, tinha a hora de “rodar a nêga”, com Jorge Bem, Tim Maia e Bebeto e a hora de “animar a tenda'', quando se colocava aquele disco que acordava a rapaziada.

Hoje, ÁLBUNS CLÁSSICOS vem para contar a história de um desses discos que botava o Parque Novo Oratório pra dançar! Senhouras e Senhoures com vocês LAFAYETTE APRESENTA SEUS SUCESSOS vol. 4. Do musico feríssima Lafayette...

Caros Leitores que por aqui me acompanham, vos digo; Lafayette e um ícone da musica pop Brazuca. Assim como Lanny Gordin com sua guitarra foi fundamental para a Tropicália, ao lado da fuzz guitar de Renato Barros (Dos Renato e Seus Blue Caps) o orgão de Lafayette Coelho Vargas é seminal, fundamentalíssimo para todo um seguimento de musica pop brazuca dos anos 60; A Jovem Guarda. E não falamos de qualquer musico...

Nascido no ano da graça de 1943, tão carioca quanto o Maracanã. Lafayette começou a estudar musica no Conservatório Musical do Rio De Janeiro aos 5 anos de idade. Passou por todas as salas de musica clássica até que em 1955 ao ficar completamente besta com Elvis e Gene Vincent, decide montar seu primeiro grupo de rock, o The Blue Jeans Rockers, grupo responsável pela gravina do primeiro rock instrumental do Brasil; “Here Is The Blue Jeans Rockers” é essa musica e vai ser ela, a principal razão de falarmos do sujeito aqui...

Lafayette era musico contratado da CBS, até então, tocando de tudo! Desde os discos de Moreira da Silva até Silvio Caldas, Carlos Galhardo e outras sambas que por lá fossem feitos. Seguiu assim até que em 1963 apareceu por lá um baixinho de cabeça de tigela, um tal de Roberto Carlos Braga que conhecia o citado rock instrumental de Lafa e também tinha lá umas ideias doidas... Queria ele cantar igual o Little Richards, no Brasil de então.

Lafa achou um absurdo! Como podia?? Menino branquinho, com pouca voz, querer gravar rock e cantar feito negão? Ae que tá; Em uma conversa com o moço num café no largo da carioca, Lafayette ouviu do baixinho uma frase que o fez se animar pra trampar junto com o tigelinha:

“Bicho, eu não quero cantar igual ele. Quero fazer o que ele faz, mas do jeito que eu posso fazer, porque sou Brasileiro, não tenho aquela voz e também não tenho um pianista. Ta afim de entrar pro time??”

Tava!

Aceitou então gravar os primeiros e clássicos discos do rapaz que então se tornou apenas Roberto Carlos e fez história! Estourou com petardos sonoros como É PROIBIDO FUMAR, AMAPOLA, NEGRO GATO, A NAMORADINHA DE UMA AMIGO MEU e mais uns 5 quilos de clássicos! A coisa ia nessa toada até que em 1966 a TV Record não pode mais transmitir futebol e precisava de um programa para os Domingos a Tarde. Começava então o JOVEM GUARDA.

Como muita gente que passava por lá tava no começa de carreira, se fez necessário um musico bom, experiente e fera pra ajudar aquela molecada. E ae Lafayette fez mágica!! Consagrou todo mundo!

Jerry Adriani, Martinha, Sergio Reis, Erasmo Carlos, Ed Carlos, Wanderléia, Golden Boys... O homem arrumou o som de todo mundo! Nada era feito no Brasil Pop da segunda metade dos anos 60 sem passar pelo orgão do Lafa. Um sucessão! Baseado nesse sucesso surge então a ideia de lançar uma série de discos do moço interpretando temas diversos, nascia o Lafayette Apresenta Seus Sucessos. Uma série absurdamente bem sucedida.

Começando ali em 1967, os discos eram lançados duas vezes; Em junho nas férias do meio do ano e no natal. Tinha vendagens absurdas, o que fez com que a gravadora não enchesse o saco do musico e deixasse com que ele fizesse como bem entendesse a coisa. Assim, nesses discos tem de tudo.

Tem Neil Diamond, Raul de Barros, Jimi Hendrix, Beatles e Gafieira! Tudo muito bem feito e muito sacolejante. Aqui, escolhi o vol. 4 da série que saiu em 1970 com uma seleção pra la de supimpa.

Conta com a clássica SOUL FINGER, as baladinhas “jovenguardianas” CADERNINHO e QUANDO a baladona mais-mais A WHITER WILD SHADE A PALE e mais outros tantos sacolejos. A série arrebentou.

Lançada simultaneamente no Brasil e no exterior, os discos foram lançados até 1984! Até hoje são disputadas a tapa nos sebos pelo mundão afora e agora, os senhoures poderão dar um belo de um confere aqui em Álbuns Clássicos.

No player, vamos de SOUL FINGER pra todo mundo balançar a mexeriqueira e nas capas ae tem a preza pra baixar. Ae já sabem:

Tasca o player ae embaixo e perigas ver...

Lafayete - Soul Finger


Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.
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