Por Marcelo Mendez

Sábado ultimo, revi dele ANSIA DE AMAR de 1971. Uma beleza de filme que conta o causo de quatro jovens estudantes dos anos 40, dois casais, cheios de sonhos, esperanças, desejos e aspirações pela vida amorosa e suas possibilidades. Ae estando em tão boa companhia de tão nobre moçoila, fiz la uma ligação do filme com assuntos ludopédicos que vem me acometendo ultimamente:
“Ah Seu Marcelo... Não acredito que depois de duas horas de filme você conseguiu pensar nesse raio desse futebol!! Ta vendo?! Na verdade você reclama dele só pra fazer charminho! Não vive sem essa doença!!”
Dei risada. Levantei do sofá, fui até a cozinha e comecei a fazer um café pensando nessa coisa toda. Uma vez meu amigo Xico Sá me disse:
“Cara, a relação nossa com nossos times de futebol quando estes não vão muito bem é igualzinho aquele casamento em crise, manja? Quando a coisa já ta desgastada, quando já num rola mais um tesão, mas segue aquele puta carinho, aquela bem querência e ae, vem à esperança de que temo que seguir junto segurando as pontas pra quem sabe um dia o tesão voltar e ae ficar tudo bem novamente...”
Por isso meu amigo Xico é genial e eu sou apenas um pobre e velho roqueiro... Mas ae, lembrando disso meus pensamentos tomaram uma direção e me veio à tona minha relação com meu Palmeiras e a crise que o amigo Xico falou...
O amigo leitor que me acompanha aqui não faz ideia do sofrimento que foi, ser palmeirense nos anos 80. Foram tempos duros. Aqui em São Paulo, enquanto Corinthians, São Paulo, Santos dividiam os títulos, meu Palmeiras agonizava com times ridículos! Era assistir o jogo torcendo para seu time perder de pouco. Já pensando em ir para a escola no outro dia preparando o ouvido para a tiração de sarro dos outros moleques. Torcer por uma migalha, por uma centelha de alegria que poderia vir até de uma reles vitória sobre o Marília da vida! Assim foi durante a adolescência.
Doeu quanto eu vi o Parque Antártica lotado chorar após o meu Palmeiras perder de virada, por 3x2 para o XV de Jaú em 1985. Calou meu coração em 1986 após a perda do titulo para a Inter de Limeira num Morumbi lotado. Me deixou atônito em 1989 quando voltei de Bragança Paulista com um 3x0 metido pelo Bragantino em um time nosso que era uma maquina. Passei na casa da namorada da época, minha amiga hoje, Camila, na esperança de ter por lá meu coração de menino de 19 anos reconfortado pela mulher amada. Quando cheguei tava arrasado.
Olhos vermelhos de chorar, tristeza profunda, uma sensação ruim que tava melhorando ao ver aqueles olhinhos verdes. Mas ae ela me falou o seguinte:
“Credo Marcelo! Você é um cara inteligente, bacana, bem formado... Não acredito que você ta assim por causa desse Palmeiras! Isso é só um jogo..”
Nessa hora tomei um susto! Levantei a cabeça, olhei para ela e mandei:
“O que?? O que cê ta me falando?! A gente ta junto faz quase um ano, você sabe um bocado de coisas de mim, ta vendo meu estado, sabe que não sou um idiota qualquer... OLHA PRA MIM! Olha meu estado! Você acha que se isso fosse só um jogo eu ficaria nessa situação?!?”
“Ah Marcelo...”
“VAI SE FUDER, CAMILA!” - E Saí da casa dela resoluto, rumo a qualquer outro lugar, crente que eu estava certo, ora essa; “Como pode me dizer uma coisa dessas, mulher insensível?!”
Eu entrei no primeiro ônibus que encontrei para o centro de Santo André, vi la um neon da velha boate Diana ali do lado do terminal, entrei, meti a mão no bolso, comprei uma garrafa de uísque Drurys, saquei meu maço de cigarro e acendi um. Depois me lembro que fui até a maquina de musica e tinha lá “CADEIRA VAZIA”, Lupicínio Rodrigues. Botei pra tocar e bebi. Bebi... Mas bebi e chorei como nunca mais chorei na vida!!
(O café ficou pronto, tomei um gole e dei risada da lembrança...)
Claro que o tempo passou e vieram varias alegrias. Óbvio que fui muito mais feliz do que triste torcendo por meu time. Mas o que vos afirmo é que nada para assuntos ludopédicos apaixonados... Nada que não nasça da adversidade será duradouro. O torcedor de futebol precisa da dor do sofrimento, tanto quanto o adolescente virgem precisa de uma boca para beijar! É ae que as coisas se afirmam por todo sempre.
Assim tem sido com meu Palmeiras nos dias de hoje.
Quinta feira ultima na Arena Barueri foi a primeira vez desde que comecei a trabalhar com futebol, que vi meu time jogando por alguma coisa que o valha. Era a vaga para a final da Copa do Brasil contra um time cascudo como o Grêmio. Se fosse em outros tempos, com Edmundo, Evair, Dudu, Ademir Da Guia, Chinesinho, Tupãzinho, Artime, Valdemar Fiume e tantos outros, nem se jogasse por 15 dias o Grêmio tiraria a vantagem de 2x0 que o Palmeiras achou no jogo da ida em Porto Alegre. Mais os tempos são outros...
Hoje o Palmeirense tem que torcer para Juninho, Marcio Araujo, Cicinho, Henrique, Mazinho.. Tem que orar para a toda santidade do mundo por uma bolinha parada para Marcos Assunção tentar bater e ainda pra ferrar de vez, Assunção não jogaria! Pois é...
Adultos são tristes, caros leitores.
Quando eu fui menino eu não tinha o menor problema em torcer por migalhas. Sofria sem nenhum pudor ou remorso. Hoje, trabalhando, sendo “sério”, fiquei la por uns 50 minutos tentando ser impávido, tal e qual um escandinavo tentando se controlar diante da anca santa de Adele Fátima! Isso durou até o 1x0 que o Grêmio fez no começo do Segundo tempo. Ae a coisa voltou ao normal.
Na cabine onde estava soltei um belo “PUTA QUE PARIU, VAI PERDER ASSIM DE NOVO?! AHHH NÃO... VAMO PRA CIMA DELES, PORRA!!!” - E todo mundo me olhando.
Levantei, não sentei mais. Tirei o fone e passei a ver o jogo da mesma forma que o menino via la nos anos 70, nos 80... E ae, com o gol do Valdivia foi a sagração...
"GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL!!!!”
“Marcelo senta ae porra! Ta maluco???” - Recomendou o amigo Cesar.
“Não! Hoje não sou Jornalista, hoje eu sou Palmeirense e que se foda!!!”
Olha... Não recomendo que ninguém corra la os riscos demissionários que corri, mas enfim; Posso dizer que na noite ultima de quinta feira, fui feliz, mas feliz como criança mesmo. Claro que isso não é para sempre. Domingo mesmo o Palmeiras perdeu de virada para o Corinthians. Dói. Irrita um pouco. Mas e dae? Será que a vida sem esse tipo de coisa ficaria melhor? Claro que não...
O esporte só pode ser saudável quando desperta todos os tipos de emoções. Dae eu viver falando aqui que futebol é como a vida; Não é justo. Não é previsível. Não vem com um roteiro pronto. É preciso ser vivido para ser compreendido, e assim é pleno. Jamais vou querer abandonar isso.
Nessa hora a Dama entrou na cozinha. Pegou uma xícara, encheu de café, me deu um beijo no rosto e falou:
“No Canal Brasil ta passando um documentário sobre aquele tal Divino que você tanto ama. Vamo la ver vai...”
“Ué... E o filme que que você falou...”
“Deixa pra lá. É só um Godard, não da pra competir com o tal Ademir Da Guia...”
Sorri discretamente, deixei a xícara na pia e fui ver o documentário...
Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.