A partir da década de 1960, a noção de “patrimônio cultural” tem se ampliado incluindo novas tipologias, categorias e também considerando nossa história mais “recente”. O desenvolvimento do conceito de “patrimônio industrial” deve ser entendido dentro desse contexto. 
Mas o que é “patrimônio industrial”? Ele compreende vestígios materiais e imateriais da cultura industrial como máquinas, locais de manufaturas (fábricas, etc.), minas, locais de produção de energia (hidrelétricas, etc.), sistemas de transporte (ferrovias, pontes, portos, bondes, etc.); infra-estruturas sociais (cidades, vilas operárias, escolas, etc.). 
As primeiras manifestações em prol da preservação desse tipo de patrimônio surgiram, basicamente, na Inglaterra, onde cidades industriais passaram por intensos processos de mudança no período pós - Segunda Guerra, o que gerou a necessidade de uma discussão em torno da valorização e reconhecimento de bens industriais como elementos de uma identidade memorial.
Ao longo das décadas outros países vêm reconhecendo o valor desse patrimônio; são associações locais que se mobilizam para o estudo, criação e manutenção de meios para a preservação como museus, rotas para a visitação (European Route of Industrial Heritage – ERIH), etc. O órgão internacional que defende exclusivamente esse patrimônio é o TICCIH (The International Comitte for the Conservation of the Industrial Heritage), foi criado em 1978 e tem segmentos em vários países, inclusive no Brasil (desde 2003).
O primeiro bem tombado pela UNESCO de caráter industrial foi a mina de Sal Wieliczka na Polônia em 1978, desde então muitos outros tem sido acrescentados como o complexo de Ironbridge (Inglaterra) e a impressionante cidade mineira de extração de cobre Sewell (Chile).
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| Interior da mina de Sal Wieliczka, Polônia. Fonte: www.kopalnia.pl e Vista da cidade mineira Sewell, Chile. Fonte: whc.unesco.org | 
O primeiro exemplar tombado no Brasil pelo IPHAN que se relaciona a esse tema foi a Fábrica de Ferro Patriótica – ruínas - (Ouro Preto, MG) em 1938; mas a primeira intervenção visando a recuperação parcial de bens industriais ocorreu em 1964 na antiga Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema (Iperó – SP).
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Casa de Armas Brancas, Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema, Iperó - SP. Foto: Autor, 2009 e Fornos, Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema, Iperó - SP. Foto: Autor, 2009 
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Nosso patrimônio industrial é riquíssimo, só para citar alguns exemplos: Vila Ferroviária de Parapiacaba (Santo André, SP), Ponte Hercílio Luz (Florianópolis, SC), Armazéns do Cais do Porto (Porto Alegre, RS), Fábrica de Vinho Tito Silva (João Pessoa, PB), Porto de Manaus (AM), Fábrica Santa Amélia (São Luís, MA), o “Caminho dos Moinhos” (municípios diversos, RS), Usina Parque Corumbataí (Rio Claro, SP); na cidade de São Paulo: Estação da Luz, Vila Maria Zélia, antiga Estação Júlio Prestes, Gasômetro, dentre outros tantos.
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Complexo do Museu do Pão no Caminho dos Moinhos, RS. Produção com maquinário antigo para a visitação. Fonte: Revista AU - 168, p.40, 2008 e  
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Vila Ferroviária de Paranapiacaba, Santo André - SP. Fonte: pt.wikipedia.org e Estação da Luz, São Paulo - SP. Fonte:  pt.wikipedia.org 
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A partir da década de 1970, o processo de desindustrialização intensificou o abandono de áreas industriais no mundo todo, então nos deparamos com muitos remanescentes abandonados, ameaçados pela especulação imobiliária, outros que passam por mudanças de uso, e alguns, mais raros, que mantém uma atividade original ou próxima da original. No segmento da mudança de uso há experiências expressivas como na antiga mina de carvão Zollverein (Essen, Alemanha) com instalações para usos culturais diversos. Em relação ao patrimônio industrial em atividade, é interessante verificar o fascínio que maquinários antigos em funcionamento provocam nas pessoas, algumas empresas centenárias abrem suas linhas produtivas para a visitação como parte de um projeto publicitário.
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Instalações com novos usos da antiga mina de carvão Zollverein, Essen, Alemanha. Fonte: pt.wikipedia.org e Fábrica de Chocolate Maison Cailler (atual propriedade da Nestlé), em funcionamento desde 1819, aberta à visitação, Fribourg, Suíça. Foto André Rosch Rodrigues, 2012. 
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Ao longo das décadas o número de estudos internacionais e nacionais tem aumentado, mas ainda há muitos exemplares que se perdem por falta de conhecimento e sensibilidade. É importante ressaltar o potencial dos objetos ligados à história da industrialização (estejam com suas atividades extintas, ou não) e a necessidade de valoração desses remanescentes como elementos memoriais de nossa identidade cultural.
Angela Rosch Rodrigues é arquiteta e urbanista, mestre em História e fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo e colaboradora do Pastilhas Coloridas.





