Pastilhas de um Carapuceiro - Em busca da sogra perfeita

Por Xico Sá

Folclorizada no último, espécie de bumba-meu-boi dos casamentos, a sogra sempre foi motivo de chacota e demonização nos lares doces lares. Óbvio que há um certo e maligno inseticida do exagero pulverizado sobre a mãe das nossas mulheres, mas, convenhamos, as referidas senhoras estão longe de obter o alvará de soltura e de inocência neste debate.

O problema é sério e universalíssimo. Não há a velha divisão antropológica -entre civilização e barbárie- em matéria de sogra. A mãe da cria das nossas costelas age da mesma forma em qualquer parte do planeta. Seja na Suécia, no Crato ou no reino dos esquimós e avatoscos.

Viram só a iniciativa da Igreja Católica na Itália? Começou a tentar reeducá-las, em nome da manutenção dos casamentos e da paz nos lares doces lares. Incluíu no pacote de moral cristã também os sogros. Eles perturbam menos, porém também carecem de uns bons pitos e cascudos.

O curso para as queridas sogras começou na cidade de Udine, no norte italiano. A tendência é que o Vaticano o estenda pelo mundo inteiro. O projeto, com ajuda de altos e gabaritados psicólogos, se chama "Famílias em diálogo, como ser pais eficientes com filhos que vivem a experiência de casal".

Em alguns rincões daquele lindo país macarrônico, os sogros são responsáveis por até 50% do desmantelo conjugal dos pombinhos. Os outros 50% devem ficar por conta do tédio propriamente dito e inevitável dos casais, claro, a falta de sexo, a infidelidade, o futebol retranqueiro etc etc.

Nunca cheguei a ter uma dona Olímpia como sogra, mas, amigo, não tenho grandes queixas de nenhuma delas, sempre me alimentaram com bons caldos e sopas e até riram generosamente das minhas pilhérias sem graça nos almoços dominicais. No mínimo, havia um bom tratamento a um poeta maluco que amava suas filhas –com algum risco que isso pudesse implicar, claro.

Dona Olímpia, meu querido, foi a melhor sogra do mundo, a perfeita, aquela que descobriu a forma de fazer filha e genro felizes. Felizes na medida em que isso é possível em um casório, formalidade que na maioria das vezes destrói os ensaios de grandes amores.

A distinta senhora, reza a lenda lítero-boêmia, existiu de fato, é a personagem maravilhosa do “Livro de uma Sogra”( editora Casa da Palavra, RJ) do escriba Aluísio de Azevedo, aquele mesmo autor de “O Mulato” e “O Cortiço”, tão obrigatórios nas escolas e nos vestibulares.

Com a sua sogra exemplar, no entanto, o maranhense é divertidíssimo. Livraço. Olímpia, ainda no remoto 1895, sabe tanto das coisas que sempre trata de separar, com pequenas viagens e obrigações nada chatas, a sua filha e o consorte. Tudo para que nunca caiam na rotina acachapante. Quando noivos, reparem que gênia, ajuda a criar histórias que o deixem no suspense amoroso, apenas com boas pontinhas de ciúmes.


Olímpia, que já havia passado por um casamento desastroso, fastio danado, cuida até em reduzir a solenidade da lua de mel, orientando os recém-casados a se embriagarem sem a obrigação do grande coito na noite inaugural. A consumação do amor,segundo ela, não poderia ser algo burocrático e abrupto, viria num crescendo de beijos e ternuras até uma explosão naturalíssima. Gênia. Um exemplo, leiam!

Xico Sá, escritor e jornalista, colunista da Folha, autor de “Chabadabadá – As Aventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha” e mais 10 livros. Na TV, participa do programa “Saia Justa” no canal GNT. E agora é parceiro nosso aqui pelas bandas do Pastilhas. (Texto extraído do blog O carapuceiro)
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