Palmeiras de Esparta e a Gafieira de Pina Baush. Para quando houver verdade na ludopédia

Por Marcelo Mendez

Quarta feira passada revi o documentário “Pina” de Wim Wenders sobre vida e obra de Pina Baush, uma mulher que revoluciono o mundo da dança a partir de seus conceitos de como ela deveria interagir com o mundo, com as coisas da vida. Para Pina, seus espetáculos jamais poderiam abrir mão da experiência pessoal de seus bailarinos, dos lugares do mundo onde ela conhecia e de tudo que a cercava. Dentre todas asbelezas de seu trabalho, suas idéias, uma frase da Diva ficou na minha cabeça:

“Dance, dance por amor, por dor, dance pela vida, pelo prazer. Se pararmos de dançar estaremos perdidos...”

Fiquei com isso na cabeça naquela quinta feira chuvosa enquanto o motorista que nos levava ao pacaembu reclamava do trânsito de São Paulo. Deu na cidade uma chuva dantesca e o caminho para o Estadio onde o Palmeiras jogaria contra o Sporting Cristal pela Libertadores Da América, se transformou em um dos trabalhos de Hércules. Com Pina Baush e o futebol na cabeça...

Não há mais no mundo da pelota a paixão que havia na dança de Pina Baush. No mundo de hoje, quando a gente se depara com algo realmente intenso e belo, via de regra ouvimos um desses estetas do New-Marketing, um desses papas da recém criada e mudernissima “auto-ajuda espirita” dizer assim:

“Olha, precisa dar uma maneirada ae. Diminuir o ritmo” - Quer dizer; Tudo que não é padronizado, qualquer coisa que escape da bundamolice ululante e vigente, não serve. Assim tem sido a vida dentro do mundo
ludopédico.

Eu nem me preocuparia se a coisa fosse ali como de costume, parte de um jogo de interesses canalha, vendidão e tudo mais. Mas me assusta quando isso chega perto da melhor coisa que há no futebol, o Torcedor.

Tenho lido e visto coisas absurdas. Cada vez mais esse personagem fundamental some da crônica (Culpa nossa, ca das letras...), dos noticiários esportivos, dos estadios. Em seu lugar cria-se o classe-média comunzão e o torcedor sazonal. Aquele que aparece vez por outra no estádio, que quer fazer do futebol um “Evento” (já não é??) que tenta de todo jeito, transformar a arquibancada na sala de sua casa. Não pode nada.

Fazer avalanche no sul não pode. Tem que ter cadeira atras do gol porque a Fifa mandou e, se preciso for, pelo bem do “coxismo” e do padrão careta “Usem escrotamente o acidente de Santa Maria pra justificar nossa decisão cretina”. Lanche de pernil na porta do Pacaembu e o clássico tutu de feijão do Mineirão não podem; Tem que vender apenas os produtos licenciados das marcas que patrocinam o espetáculo. E dana a vender porcaria de hamburguer, fast food nojento e outras tranqueiras. E não pode vender cerveja no Estadio. Mas nos camarotes pagos pelos donos da grana, sempre tem um uisquinho pra ver a peleja...

É um nojo. Nisso tudo ninguém para pra pensar em como é importante de fato, o torcedor autêntico, como aqueles que vi na quinta debaixo de chuva e ontém no Pacaembu. Oras caro leitor...

No futebol, quem frequenta estadio sabe; Nada é mais forte, nada é mais profundo do que a experiência de torcer pra um time ruim em dia de chuva. É uma das coisas mais plenas do futebol. Quando o exercício de torcer se faz apenas por paixão mesmo, sem nenhum interesse, sem nenhuma corretagem com diretor mequétrefe, sem a coisa do “torcedor profissional”. É só você seu clube, sua paixão. A torcida do Palmeiras
que acompanhou seu time da vitória apertada de quinta feira por 2x1 sobre o Sporting Cristal e ontém no empate por 2x2 em com o Corinthians, deu uma boa mostra de como isso é realmetne forte.

O time de Parque Antartica que hoje é um clássico personagem de Vitor Hugo, um miserável ludopédico atroz, não tem mais a grana da Parmalat, não tem mais o encanto de suas duas academias, por vezes não tem mais
nem o verde esmeraldino de sua camisa. O torcedor se ligou que a única coisa que ainda existe pra ajudar esse time em formação é sua paixão. Ontém eu vi no Pacaembu uma torcida berrando para empurrar seu time
contra a melhor equipe do Brasil e a coisa deu muito certo.

O empate no claśsico foi digno. Foi decente. Isso é o que vale quando falta a técnica, a habilidade e até mesmo a esperança. Porque teve verdade e o torcedor de verdade entende isso, sente isso. Fica então a
observação feita por aqui. O futebol precisa de verdade. Sendo pleno será belo.

Quem sabe um dia, Pina Baush não dança pelo Pacaembu??

Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.
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