Das coisas entre John Wayne e Xico Sá, uma ode à nossa imortal Lampions League. Quando o futebol fica de verdade...

Por Marcelo Mendez

Conheci meu amigo Xico Sá em noite de goles homéricos no Baixo Augusta.

Na ocasião falamos de Lou Reed, Odair José, Nick Cave, Jarmusch, Zé Do Caixão, Godard, Pernambuco, Gonzagão, mistérios e paixões nossas. Saímos daquele bar da Fernando Albuquerque tal e qual cantou o Barão Vermelho; “Transvirados rezando pelo Estácio”. Da minha condição de fã que sempre fui, me tornei amigo. Coisa que muito me honra, mas bem... Não da pera deixar de ser fã de meu amigo.

Xico Sá é um Pirandelo. Um Marcel Proust com a fleuma do Cariri, um homem do sertão de extrema classe, de muita fleuma, um Gentleman que não se furta de comer um jabá na chapa, um Dândi que escreve suas finas letras com a mesma densidade que um Paul Desmond teria para tocar um Coco de Jackson do Pandeiro. Quer dizer:

Meu amigo é algo de muito lindo. Xico é um escriba muito acima da média nossa que somos ae uns reles cronistas ludopédicos mortais. Xico Sá é tão nobre que faz uma concessão a nós que somos comuns de chegar perto de suas imortais letras. Faz outra pra falar de futebol, onde tem tiradas geniais semana após semana. A última foi a melhorada que ele deu no nome da Copa Do Nordeste.

Com o Xico Sá, a coisa deixou de ser uma pomposa “Copa” para se Abrasileirar de vez e então virar... LAMPIONS LEGUE.

LAMPIONS LEAGUE!

Que ideia genial de Xico! Então munido desse espírito nobre de meu amigo, a Coluna Canela de Ferro não poderia falar de outra coisa aqui que não fosse a primeira Partida da Final de nossa Lampions League entre ASA x Campinense, realizada ontem no Coaracy Da Mata em
Arapiraca, no Sertão de Alagoas. Oras...

Sam Peckinpah escreveria fácil o roteiro desse épico do interior do Brasil! MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA vira uma reles sessão da tarde, perto da grandeza épica de uma final no Sertão das Alagoas. ERA UMA VEZ NO SERTÃO! Sergio Leone de chanca entrando em campo para uma verdadeira ode ao que há mais lindo da cultura ludopédica nacional, ao
que há de mais justo, de mais intenso nessa coisa linda que é o futebol brasileiro de verdade mesmo. Simples:

Caro leitor que me acompanha, vos digo; Nossa Lampions League nos vingou de tudo! Tal e qual John Wayne matou o Facínora, na Lampions, a coisa seguiu para fazer valer a vontade do povo. Para nos vingar de todo elitismo das arenas, da porcaria das redes de fast food que servem os estádios com seus produtos licenciados, em prol da manteiga de garrafa, do baião de dois, do caldo de sururu vendido na porta do estádio, a decisão saiu da nova e careta Arena Do Castelão para ir pro povo do interior do Brasil. Em um Estádio lotado de minha gente
brasileira,

Em uma partida pegada, sem os dengos do “Padrão FIFA”, do falso “Fair Play”, do carola do “Pay-per-view”, o valente time da Campinense venceu o jogo por 2x1 e leva a decisão agora pra Campina Grande no interior da Paraíba, com uma portentosa vantagem. E aqui para nós, isso é apenas uma parte de toda a grandeza do que se viu ontem no sertão do Brasil.

Vivemos em um mundo muito chato, careta totalmente a prova de qualquer emoção que seja plena, cheio de prevenção a qualquer coisa que seja intensa, com dois pés atrás com qualquer coisa que se aproxime a uma Poesia que ouse não ser “oficial”. Um mundo robotizado, programado pra dizer “sim” para todo Status-Quo cretinamente fundamental. Uma
elitização do mal, que desapropria em nome da Copa, Que usurpa com a chancela da FIFA, que é burra em nome do mal que é Cafona como o Marin. E eis que no meio disso tudo, a contra-mola que resiste surge de chuteiras em um rincão do Brasil.

Para o Canela de Ferro, pouco importa as cifras milionárias do New Marketing, os Mídia Training chatos, os 0x0 modorrentos de São Paulo, nada disso. Aqui queremos o encanto. Pra nós, basta a densidade de um estádio cheio de Brasileiros no Sertão, porque esses sim me
representam. Neles esta a verdade do que há de mais Brasileiro em mim.

Em um Gol feito em Arapiraca, ta o sorriso de meu a amigo Xico Sá. E onde meus amigos sorriem, to feliz também. Então sem mais edificâncias em outras papagaiadas tolas, encerramos a Crônica de hoje homenageando nossos épicos craques que participam da Lampions Legue com um agradecimento meu por manter vivo o futebol que é de verdade, a cultura que realmente me importa, porque só vai ser plena esta, se for assim.

Eu não acredito em Cultura de Prateleira. E como disse meu amigo Xico Sá, “Só acredito nos Deuses que Dançam”. Então Dance ASA, dance Campinense e semana que vem tem mais.

Até, tem um Gonzagão de chuteiras e sanfona da porta principal...

Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.
Share: