Cruzeiro: o (im)provável campeão brasileiro


Por Felipe Bigliazzi Dominguez | Futebol |

2013 parece mesmo estar destinado a ser o ano do futebol mineiro...

No primeiro semestre tivemos o Galo como campeão das Américas. Agora, vemos o Cruzeiro caminhando a passos largos para levar o Brasileirão de forma tranquila e inesperada. O empate deste domingo contra o Corinthians fez com que a Raposa se distanciasse 8 pontos do Botafogo. Sucesso improvável de um time montado as pressas, que desafia a lógica da continuidade de um trabalho a longo prazo, tão aclamado e laureado em torneios de pontos corridos. 6 titulares - Dedé, Bruno Rodrigo, Nilton, Willian, Ricardo Goulart e Everton Ribeiro - chegaram a Toca da Raposa no início do ano, graças a venda de Montillo para o Santos por 10 milhões de euros.

A ascensão do Atlético Mineiro, então vice-campeão nacional, fez com que o presidente Gilvan Tavares investisse pesado. O novo presidente, assumiu o clube no segundo semestre de 2011 - como o candidato da situação - em meio a mais grave crise esportiva das ultimas décadas. Vale recordar que no Brasileiro de 2011, o Cruzeiro brigou para não cair até a ultima rodada, sendo salvo da degola após golear o Atlético em Sete Lagoas.

Para a temporada seguinte, o ex-braço direito dos irmãos Perrella, começou a montar o time trazendo o experiente lateral Ceará - que vinha sendo pouco utilizado no Paris Saint Germain - assim como Borges, Diego Souza e outros jogadores em baixa no mercado do eixo Rio-São Paulo. Apesar do aporte financeiro, o Cruzeiro não deslanchou em 2012, perdendo o estadual para o Galo, além de terminar o campeonato nacional na nova colocação. Celso Roth foi dispensado, e para a atual temporada, Gilvan Tavares decidiu apostar em Marcelo Oliveira. Uma decisão que a principio não agradou a torcida, tendo em vista o passado alvinegro de Marcelo Oliveira - como jogador foi campeão pelo Galo com aquele grande time do final dos anos 70.

Marcelo Oliveira vinha de um trabalho sólido comandando o Coritiba, eclipsado em âmbito nacional ao conduzir o clube do Alto da Gloria a dois vice-campeonatos da Copa do Brasil. No Vasco, Marcelo Oliveira não emplacou, mesmo assim, Gilvan Tavares decidiu apostar no trabalho sério do promissor treinador. Logo no campeonato mineiro o Cruzeiro demonstrou evolução rápida sob o comando de Marcelo Oliveira, que optou pelo sistema 4-2-3-1, o mesmo dos tempos de Coritiba. A perda do titulo para Atlético era esperada, tendo em vista que a equipe de Cuca vinha embalada pela ótima campanha na Libertadores, no entanto a vitória por 2 a 1 no ultimo jogo deu mostras da evolução de um time que já apresentava compactação entre as linhas e pressão da saída de bola no campo rival.

No Brasileiro, o Cruzeiro teve baixas importantes logo no inicio da campanha: Diego Souza foi negociado com o Metalist da Ucrânia , ao passo que Luan e Dagoberto estiveram boa parte do primeiro turno lesionados. Foi então que Ricardo Goulard - o melhor jogador do Goias na serie B do ano passado - ganharia uma vaga como meia centralizado, enquanto Willian, ex-Corinthians - que veio por empréstimo para o Cruzeiro, envolvido na transação de Diego Souza com o Metalist - ganhou a oportunidade de atuar aberto pelo flanco esquerdo nesse 4-2-3-1 de Marcelo Oliveira.

Fechando a linha de armadores esta Everton Ribeiro, talvez o melhor jogador deste campeonato brasileiro. O ataque do Cruzeiro é o mais efetivo do Brasileirão com 48 gols anotados em 23 jogos disputado.Alguns jogadores da base também ganharam espaço, principalmente o volante Lucas Silva, uma das revelações deste campeonato, que se tornaria peça chave no esquema de Marcelo Oliveira por ser o responsável pela saída de bola do time, além de auxiliar Nilton na contenção do meio-campo. O ex -volante do Vasco tem cadeira cativa na seleção do campeonato, pois além de proteger a segunda defesa menos vazada do campeonato - com 19 gols em 23 jogos - tem se mostrado um exímio goleador. Nilton já anotou 6 gols no campeonato, o último foi o golaço que abriu a goleada sobre o vice-líder Botafogo na penúltima rodada.

No comando do ataque o Cruzeiro conta com o veterano Borges, que tem ate aqui faz apenas um campeonato regular, tendo apenas 4 gols anotados. Com a chegada de Julio Baptista - que vem sendo utilizado como centroavante em seu retorno ao Brasil - Borges deverá perder a posição de titular.

Dagoberto também pede pista após retornar de lesão, no entanto, o ex-jogador do São Paulo segue como opção para o segundo tempo, quase sempre posicionado pelo flanco direito, opção que faz com que Everton Ribeiro seja deslocando para a posição central do meio-campo no final das ultimas partidas. Outro destaque do Cruzeiro é o lateral Egídio, que após nunca conseguir se firmar no Flamengo, vem demonstrado muita disposição após ganhar a disputa com Everton pela posição de titular na lateral-esquerda. Egídio, tem sido um dos jogadores mais participativos, com grande liberdade para apoiar o ataque, já que Ceara, pelo lado direito, fica mais preso a defesa fazendo a cobertura do setor.

A zaga é totalmente nova, composta por Bruno Rodrigo, pela esquerda e Dedé pela direita. No gol, Fabio vem demostrando a segurança que o credencia a disputar com Victor a terceira vaga de goleiro da família Scolari.

A Campanha do Cruzeiro surpreende, principalmente se levarmos em conta o orçamento menor em comparação a outros rivais como Corinthians, Fluminense, Grêmio, Internacional e São Paulo. Símbolo de um campeonato irregular, que ficará marcado pela sequencia atroz de jogos de meio de semana. Nada que diminua os méritos da diretoria cruzeirense, que soube rechear o elenco em todas as posições, assim como Marcelo Oliveira que armou um time rápido, compacto e moderno, estes que são os argumentos deste merecido e (im)provável Cruzeiro, o virtual campeão brasileiro de 2013.

Esquema tático do Cruzeiro

Felipe Bigliazzi Dominguez é colaborador do Pastilhas Coloridas e responsável pelo blog Ferrolho Italiano

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