Da agonia peruana ao êxtase colombiano

Artilheiro uruguaio, Suárez, participou do primeiro gol no Centenário (crédito: EFE)
Por Felipe Bigliazzi Dominguez

As Eliminatórias sul-americanas chegam a sua definição em meio a sumaria indiferença dos meios de comunicação do chamado "país do futebol".

Nos demais países do continente, a sexta-feira foi repleta de angustia, desilusão, alegria e tensão. Em plena quadra 2 da Avenida San Felipe, no bairro de Jesus Maria em Lima, meu grande amigo Ricardo Fernandez, o popular Charri, despertava com o coração batendo forte, esperando por uma vitória de sua seleção frente aos uruguaios.

Era a última chance de se meter na luta pela quinta vaga, que levaria o Peru para a disputa da repescagem. Nascido em 1981, Charri jamais pode acompanhar sua seleção em um mundial - a ultima participação peruana foi na Copa de 1982 na Espanha. Por isso, Charri solta um grito no fundo da alma, do fundo do coração: vamo la blanquiroja carajo!. Com a Tv ligada no canal CMD, Charri ve um Peru corajoso no inicio do cotejo, indo buscar a vitória no 4-1-3-2.

O treinador uruguaio, Sergio "Mago" Markarian. apostou na dupla de centroavantes formada por Guerrero e Pizarro, com Farfan, Cruzado e Cachito Ramirez no meio-campo. O Uruguai espera em seu campo com duas linhas de quatro. Cavani e Cebolla Rodriguez eram os símbolos do sacrifício charrua; ambos voltavam incansavelmente na recomposição da segunda linha celeste, combatendo os avanços dos lateriais peruanos - Advincula e Yotun.

O Peru seguia melhor, mas sem conseguir entrar no miolo de zaga formado por Lugano e Godin. Os uruguaios apelam para o jogo brusco. Lugano, Godin e Gargano repartiam pontapés, paulistinhas e Cotovelas em Paolo Guerrero. O jogador corintiano saiu com a cara ensanguentada; um pouco de futebol bruto em estado puro. Era o sonho mundialista em jogo. Enquanto isso, Forlan e Luis Suarez seguiam isolados, até que justamente o centroavante do Liverpool, o maior e melhor cavador de pênaltis do futebol mundial, pudesse se jogar na área para que o apitador argentino apontara a marca da cal.

O Uruguai saia na frente sem merecer. Para piorar o cenário, o lateral-esquerdo Yotun agride Suarez e vê o cartão vermelho antes do final do primeiro tempo. Tragedia peruana no Monumental de Lima e tristeza sem fim para Charri, que já posta no Facebook sua bronca contra Markarian: Moriste em tu ley mago de mierda!!

O bestial e odioso Suarez, o grande nome do jogo, fez 2x0 em um tremendo golaço de fora da área, fechando o caixão inca em grande estilo. La Foquita Farfan em cobrança de falta deu uma ligeira esperança aos peruanos. No fim, o 2x1 para o Uruguai praticamente selou o destino peruano nessas eliminatorias.

Charri, outra vez, devera assistir o mundial no sofá, em plena quadra 2 da Avenida San Felipe, torcendo pelo Brasil, pela Espanha ou por qualquer outro quadro internacional. O Uruguai respira, vibra ao chegar aos 19 pontos, encostando no Equador e vendo a Venezuela do retrovisor. A próxima parada é contra a Colômbia, nesta terça feira, em pleno estádio Centenário. Partidaço a vista!!

Esquema tático da partida Peru x Uruguai
O Que dizer da Colômbia? Semana de festa para o futebol cafeteiro. No último 05/09 se completou 20 anos do maior feito futebolístico da seleção tricolor: aquele 5x0 contra a Argentina, em pleno Monumental de Nuñez seguia eclipsado na memoria do povo colombiano.

A equipe dirigida por Francisco Maturana nos brindava um futebol de luxo, em uma exibição que colocou para sempre a geração de Valderrama, Rincón, Asprilla e Cia na história do futebol. Esta mesma geração foi a ultima a levar a Colômbia a um mundial. Foi em 1998, na França, que a seleção Colombiana disputou o seu ultimo mundial.

Eis que, esta nova geração, dirigida brilhantemente pelo argentino José Pekerman esta a ponto de colocar a Colômbia no mundial de 2014. Uma geração talentosa, com um ataque para fazer inveja a todas as demais seleções do continente: James Rodriguez, Teófilo Gutierrez e Radamel Falcão Garcia se apresentavam em Barranquilla, frente a seleção equatoriana, afim se selar o passaporte para o mundial.

O Equador suportou bem o ímpeto inicial de uma Colombia, que postada no 4-1-3-2, tentava impor o seu estilo de toque de bola e pressão no campo rival. O Equador se saia bem nos contra-ataques puxados por Jeferson Montero pela ponta-esquerda, que vencia o duelo contra Zuñiga. Aos 20 minutos, Montero quase abriu o marcador, mas o goleiro David Ospina evitou em grande estilo o que seria o primeiro gol equatoriano.

Logo em seguida veio a bobagem da zaga equatoriana - formada por Erazo e Achilier - e quando Teo Gutierrez partia para fazer o gol, foi derrubado por Achilier, que viu precocemente o cartão vermelho. Com um a mais, a Colômbia enfim pode desfrutar de sua superioridade técnica. Eis que, após uma linda linha de passe entre James Rodriguez, Radamel Falcão e Teo Gutierrez, surgiu o gol colombiano; Baguera deu rebote após chute venenoso de Falcão, e James Rodrigues, em meio aos zagueiros, definiu como o melhor dos centroavantes.

A Colômbia joga um futebol fino, vistoso, com o selo de qualidade que sempre o caracterizou. Os laterais são conhecidos do publico brasileiro; Na esquerda o ex-palestrino Pablo Armero, que faz uma dupla afiada pelo setor com o talentoso James Rodriguez. Pela direita, o lateral Juan Camilo Zuniga, fecha a defesa contando com a cobertura eficaz do zagueiro, Luis Amaranto Perea. O Capitão Mario Yepes é o referente, o laço de experiência que lidera a defesa com seu temperamento e personalidade; A frente da zaga temos o carrapato Carlos Sanchez, responsável por marcar o meia armador da equipe rival, ao passo que Abel Aguilar fica com a missão de dar qualidade na saída de jogo pelo lado direito. Na esquerda, um dos mais talentosos jogadores desta geração colombiana, o canhoto James Rodriguez, recém- contrado pelo Mônaco da França.

Fechando o losango, temos o armador da equipe, o enganche Macnelly Torres. O ataque é formado por Teófilo Gutierrez e Radamel Falcão, sendo que Jackson Martinez, em grande fase no Porto, também pede passagem com seu ímpeto goleador irreparável. A Colômbia vem forte para este mundial, podendo chegar ainda mais longe que aquela geração que encantou o mundo há 20 anos.No segundo tempo, mesmo com um a menos, o Equador foi valente.

O treinador Reinaldo Rueda acertou o time com a entrada do zagueiro Guagua, que recompôs o miolo de zaga, deixando os contra-ataques puxados por Antônio Valencia e Jeferson Montero como arma principal. O contra-ataque surgiu, e com ele um pênalti cobrado a favor do Equador. Para delírio dos mais de 40.000 presentes no estádio de Barranquilla, o experiente lateral esquerdo Ayovi bateu para fora. Teo Gutierrez ainda perderia uma chance clara, no entanto a vitória estava garantida.

Agora, faltando 3 rodadas para o final, a Colômbia precisa de dois pontos para carimbar o passaporte e jogar um mundial após 16 anos. Vamos Colômbia!

Esquema tático da partida Colômbia x Equador

Felipe Bigliazzi Dominguez é colaborador do Pastilhas Coloridas e responsável pelo blog Ferrolho Italiano
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