O Galo está pra lá de Marrakesh


Por Felipe Bigliazzi Dominguez | Futebol |

Cuca, outrora rotulado como um pé frio incurável, vive finalmente o gosto da vitória, saboreando o fato de ser um ídolo indiscutível na história do Galo. Desfruta os louros da conquista da Libertadores, sem perder o foco e o sonho de tocar o topo do mundo em terras marroquinas.

A cada coletiva na Cidade do Galo tenta em vão desconversar sobre suas impressões do novo Bayern de Pep Guardiola, apresentando estatísticas que mostram a evolução do time durante o segundo semestre. A verdade é que o Atlético Mineiro levou o Campeonato Brasileiro em slow motion, tentando acertar detalhes para a disputa do Mundial Interclubes.

O grande desafio de Cuca nos últimos meses foi encontrar o substituto de Bernard pela ponta-esquerda. Eis que, direto dos Emirados Árabes, mais precisamente do glorioso Al Jazira, chegou o ponteiro Fernandinho. O ex-jogador do São Paulo desembarcou em Belo Horizonte mostrando maturidade, ganhando a torcida com grandes atuações pela ponta-esquerda neste imutável 4-2-3-1 de Cuca.

Atlético Mineiro campeão da Libertadores
O sistema de jogo foi o mesmo usado na temporada passada, assim como no exitoso primeiro semestre de 2013 - que rendeu um Campeonato Mineiro e a sonhada Copa Libertadores. A escalação sai de memoria e ficará pra sempre gravada no imaginário atleticano: Victor, Marcos Rocha, Leonardo Silva, Réver e Junior Cesár; Pierre e Leandro Dozinete; Tardelli, Ronaldinho, Bernard e Jô. É verdade que outros jogadores do elenco foram fundamentais durante a campanha; Alecsandro, Richarlyson, Guilherme, Luan e Josué sairiam do banco para vestir o traje de protagonista em momentos decisivos.

O caso mais emblemático é o do ponteiro Luan. Neste Brasileiro, o coringa atleticano foi o escolhido para substituir Ronaldinho após a grave lesão muscular ocorrida em Setembro. Uma saída desesperada de Cuca para uma lacuna impossível de ser preenchida. Sempre inventivo, Cuca também deslocou Diego Tardelli para a posição centralizada na linha de armadores - entrando muitas vezes como segundo atacante. No comando do ataque, Alecsandro teve que suprir as constantes ausências de Jô - ora na seleção, ora lesionado - como na vitória sobre o Cruzeiro no returno do Brasileirão.

Para o miolo de zaga, Cuca foi buscar o zagueiro Emerson na janela de transferência aberta durante a Copa das Confederações. O ex-jogador do Coritiba acabaria sendo bastante utilizado neste segundo semestre nas constantes ausências da dupla titular - formada por Leonardo Silva e Rever. Na cabeça de área, Cuca deu sequência para a dupla Josué e Pierre, graças aos recorrentes problemas físicos de Leandro Donizete.

Atlético Mineiro contra o Cruzeiro no returno
Foi com esta base que o Galo encarou o Brasileirão - pra lá de Marrakesh, - a passos lentos, em ritmo de testes, mantendo o time quase sempre perto da zona do G4. O grande teste veio contra o líder Cruzeiro no returno. Vitoria merecida, conquistada no apagar das luzes, com um golaço de almanaque de Fernandinho. Foi justamente Fernandinho quem causou o anticlímax da vez, isso a pouco menos de um mês do começo do Mundial.

Por problemas burocráticos, sua inscrição para o mundial foi sumariamente rechaçada pela FIFA, trazendo um novo dilema a ser resolvido por Cuca. Por sorte, Ronaldinho Gaúcho se recupera bem e estará em condições de jogar o Mundial. Luan, o quebra-galho numero 1 da equipe, novamente será o ponta-esquerda, enquanto Diego Tardelli deverá ser escalado, assim como no primeiro semestre, como extremo-direito do ataque.

Dessa forma, Cuca começa a projetar o iminente confronto contra o Bayern de Munique. O conjunto bávaro, agora delineado por Guardiola no compasso do tiki-taka, vem atuando nos grandes jogos quase sempre no 4-1-4-1. Phillip Lahm, clamado por muito como o melhor lateral do mundo, é a peça chave e a grande novidade no novo esquema do treinador catalão. Agora jogando como primeiro volante, Lahm agrega uma qualidade impar na saída de bola, além de dar liberdade para que Toni Kroos e Schweinsteiger alimentem o tridente ofensivo formado pelos ponteiros, Robben e Ribery, além de Thomas Müller - que vem atuando como uma espécie de falso 9.

Para sorte do Galo, Schweinsteiger deverá perder o Mundial, pois será submetido a uma cirurgia delicada no tornozelo. Assim, Guardiola deve repaginar o time; possivelmente com Mario Götze como meia direita. Outra opção é a entrada do sempre eficaz Mandzukic. Com o centroavante croata como titular, Thomas Müller voltaria para o meio-campo, ou pelo extremo direito, revezando pelo setor com Robben - formação de sucesso na conquista da tríplice coroa na temporada passada sob o comando de Jupp Heynckes.

Prévia do Atlético Mineiro contra o Bayern de Munique
Parada duríssima para o Galo. Fator que valoriza ainda mais a possível conquista em Marrakesh. O atleticano sonha desde já... com Victor que estará impecável em Marrakesh, como naquela noite histórica no Horto contra o Tijuana; Thomas Müller há de sentir-se como um Reascos bávaro, incrédulo a cada chance perdida diante do paredão atleticano.
Marcos Rocha e Junior Cesar frearão qualquer amague de Robben e Ribery, em uma aula de marcação implacável pelos lados do campo, ao passo que Rever e Leonardo Silva não somente irão parar com autoridade qualquer ímpeto goleador da dupla Mandzukic e Thomas Müller, como passarão ao ataque com a alma e o coração de um Dadá Maravilha, anotando gols memoráveis - um em cada tempo - com cabeçadas inapeláveis para Neuer.

Veremos Jô, que há de dar uma canseira monstro, ora em Boateng, ora em Dante, apresentando seus atributos para fazer tempo com seu corpanzil esguio de um autêntico pivô. Luan e Diego Tardelli, como sempre sagazes, serão fundamentais pelos lados do campo, combatendo as subidas de Rafinha e Alaba, com carrinhos e mais carrinhos, levantando cada tufo de grama para deleite dos marroquinos.

E o que dizer da dupla de volantes? Pierre e Josué não deixarão qualquer espaço para Götze e Toni Kross, pois aqui não é Champions League, tampouco Playstation, e sendo assim, um tostãozinho no musculo posterior da coxa estará isentos para o final do cotejo. Pobre Lahm, certamente pedirá no final do jogo a camiseta de Ronaldinho, como também a Pep Guardiola que o escale novamente como lateral. Finalmente virá a Taça. O choro. A chegada apoteótica em Confins.

A gozação com os cruzeirenses não terá fim: Festejem o Brasileirão! Somos campeões do mundo...eis um sonho que não acaba nunca, como jamais deveria acabar este 2013 para o Atlético Mineiro.

Felipe Bigliazzi Dominguez é colaborador do Pastilhas Coloridas e responsável pelo blog Ferrolho Italiano
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