Alguém já disse à frase que o Brasil tem coisas que o próprio Brasil desconhece. Fácil de entender, não é verdade?
O Brasil é um continente disfarçado em país. Misturas incríveis de povos, raças, crenças e outras cositas!
Em uma das minhas viagens pelo interior de São Paulo, atraquei na cidade em que meu pai resolveu se esconder da sociedade.
Bem, tive a oportunidade de prosear com um matuto daquela região, xucro mesmo! Calma! Não estou desdenhando do velho. É apenas a constatação da realidade.
Falávamos sobre preconceito. Tudo por causa de uma recente tatuagem no meu braço direito.
Para mim uma tatuagem indígena, que representa a origem do povo brasileiro. Para o matuto um forte sinal de homossexualidade.
O velho me dizia que para ele homossexualidade é sem-vergonhice. Disse que tais “sem vergonhas” não tinham apanhado o suficiente quando pequenos e que era falta de tal "corretivo".
Por alguns instantes confesso que as palavras me faltaram. Não que o preconceito, em
qualquer aspecto, fosse novidade pra mim. Mas da forma que o ancião falava, e abertamente expressava sua ignorância, me fizeram atônito por segundos.
Tentei explicar por diversas vezes que não se tratava de "sem-vergonhice". Que era apenas a natureza de cada um, e que portanto, cada um que sabe de sua vida. Disse ainda, que tenho muitos amigos homossexuais e que nenhum deles é "sem vergonha".
Foi à vez dele perder as palavras.
O fato é que depois de meia hora de conversa, o velho me convenceu a terminá-la sem tentar convencê-lo, da seguinte maneira...
Ele me disse que seria muito fácil ver se era sem-vergonhice ou homossexualidade. Que era só fazer um exame no laboratório e sairia o resultado com a tal informação.
Bem, sei que devem pensar no absurdo que é imaginar algo assim. Então farei o papel do advogado do diabo.
Esse inveterado senhor nunca teve oportunidade de se dedicar aos estudos. Muito menos frequentava a escola. Sua criação quando criança era numa fazenda onde ordenhava vacas e tocava o gado montado em seu cavalo.
Ele mesmo disse que quando criança tinha tanta vergonha das pessoas, de gente, que as observava pelo buraco da fechadura. É nesse sentido que me referi à xucrice de tal ancião.
No final da conversa, de certa forma, entendi o velho. Entendi que o novo não faz parte da sua cultura e criação. Tudo que é novo e diferente o assusta, bem como à maioria das pessoas daquele lugar.
Pensei comigo...
Pobres daqueles que querem e na maioria das vezes não podem se assumir como são, diante do preconceito e atraso de uma pequena cidade parada no tempo. Que neste caso, de bom tinha a me oferecer: comida farta, a natureza, e algumas boas idéias para futuros textos.
Rodrigo Roah é jornalista, poeta e idealizador do blog As Caravelas. Twitter: @rodrigoroah