Por Xico Sá
Muito engraçado - sim, minha senhorita, pode chamar também de ridículo - como os homens se cumprimentam. Um dos costumes imutáveis da natureza do macho. Seja em inglês, nordestinês, mineirês ou na língua dos esquimós. É de uma delicadeza de fazer corar o Charles Bronson.
Muito engraçado - sim, minha senhorita, pode chamar também de ridículo - como os homens se cumprimentam. Um dos costumes imutáveis da natureza do macho. Seja em inglês, nordestinês, mineirês ou na língua dos esquimós. É de uma delicadeza de fazer corar o Charles Bronson.
No “Gran Torino”, filmaço que andou pelos cinemas e já chegou em DVD, o Clint Eastwood, diretor e ator principal, dá uma aula ao seu pequeno pupilo sobre as saudações iniciais nos encontros dos cavalheiros. De morrer de rir. Ou de “se abrir”, como se diz na minha terra sobre o ato de gargalhar sem culpa ou cerimônia.
Falo da cena da barbearia, que não é capital no enredo mas injeta uma cápsula de testosterona no filme digna dos grandes faroestes. O durão Walt Kowalski (Clint), veterano da guerra da Coréia, mostra para o adolescente como adentrar o recinto e cumprimentar o barbeiro.
“Seu italiano ladrão de merda” é o mais agradável dos tratamentos que se ouve na pedagogia do velho. O sr. Walt treina o guri, que entra e sai no estabelecimento, repetindo a lição. O barbeiro responde à altura. “Seu china miserável eu acabou com a sua raça”. Uma onda.
Assim é no dia-a-dia, encontramos um chapa, amigão mesmo, e detonamos. Temos várias formas de esculhambá-lo carinhosamente: pelo seu lugar de origem, pelo seu time do peito, sexualidade, chifre, tamanho da pança, pouca resistência para a cachaça ou pela donzelice propriamente dita, claro, caso das criaturas que acumulam o queijo coalho do desejo no juízo.
Tudo é motivo para a gozação, o chiste, a pilhéria, a gréia, a fuleiragem social clube propriamente dita. É, macho, a gente não cresce nunca nesse aspecto. Neste e em mais uns seiscentos itens da existência. E olhe que não estamos falando daquela perobice do Peter Pan e sua roupinha clorofilada de viagem. A gente não cresce mas também não tergiversa. Essa lorota da Terra do Nunca ou Jardins de Kensington, sei não, melhor voltar à velha e resistente conversa de barbearia, please.
Quando estamos na frente de algumas damas, amigo, até aliviamos na hora das cordiais saudações. O mais comum, porém, é a selvageria. Às vezes não apenas via oral. Tem uns ignorantes que chegam aos bofetes, agarrões na área, rasteiras, gravatas, golpes baixos. Eu prefiro ainda na base da prosódia molhada, socialmente, com cerveja ou um scotch. Se tiver um leitão ou carneiro assado, eu agradeço a gentileza, mas não carece se preocupar, meu querido, a gente celebra a vida do mesmo jeito. Agora uma cachaça e um caldinho de sururu, faz favore, e pergunta ao freguês ao lado qual foi o resultado do meu rebaixável Sport.
Xico Sá, escritor e jornalista, colunista da Folha, autor de “Chabadabadá – As Aventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha” e mais 10 livros. Na TV, participa do programa “Saia Justa” no canal GNT. E agora é parceiro nosso aqui pelas bandas do Pastilhas. (Texto extraído do blog O carapuceiro)