Advogado do Diabo?!

Por Cláudio Cox

Eu fui e sou (apesar da improbabilidade do momento) um entusiasta romântico de ditas “cenas” (não gosto nada desse termo) alternativas e independentes e as defendi como o “grande trunfo” contra os grandes esquemas, lógico que estabelecendo parâmetros entre os prós e contras e afirmando veementemente que a independência também tem um preço.

Para quem achava que todas as grandes poderosas empresas fonográficas eram o mal da humanidade e que todo o executivo de gravadora tinha chifre, rabo e andava de terno vermelho e preto, saiba que eles eram mesmo na maioria grandes filhos da puta. Mas analisando a história nas suas entranhas, até que bicho não era tão feio como costumávamos pintá-lo.

Um dos meus heróis, Fred 04 – mentor do Mundo Livre S/A e do Maguebit (beat) – concedeu uma entrevista (veja aqui) ao site Rock-o-Rama, do meu chapa Marko Panayotis e sem rodeios reacionários pautou a importância que a grande indústria fonográfica teve na época da concretização da rapaziada de Recife nos anos 90 e que, se no atual panorama surgisse por lá outra Nação Zumbi ou Mundo Livre S/A, muito dificilmente chegariam ao primeiro disco, e chegando, o grande êxito hoje seria uma comunidade no facebook.

Fiquei aqui imaginando um disco como o “Mono Maçã” do carioca Lê Almeida, sendo lançado por uma Sony ou Warner, por exemplo, com uma puta estrutura de divulgação e todas as merdas que só o dinheiro proporciona (infelizmente). Seria muito provável que o garoto estaria no lugar de alguma dessas coisas chatas pacarai que tanto nos incomodam.

 Essa é uma equação real. Claro que a realidade da grande indústria hoje não é a mesma dos tempos de Fred 04 e seus comparsas, mas mesmo assim existe uma cota muito mal resolvida e hoje com essa conversa de editais e leis de incentivo (os novos diabos), que na verdade servem mais de barganha fiscal do que qualquer outra coisa, o lance ficou mais esquisito do que já foi para os independentes.

Lançar um disco “físico” continua sendo caro e para poucos, mesmo com esse acesso a tecnologias e possibilidades de gravações “caseiras” e tal, na hora de botar o orçamento na ponta do lápis neguinho chora. Esse ano me envolvi na produção de uma coletânea com cinco bandas, acompanhei e estou acompanhando de perto produções de outros camaradas, e pra fechar estou juntando as moedas para entrar no estúdio com os Giallos (banda da qual faço parte). Todos esses sem a “ajuda” ou “incentivos” ou o que quer que seja, e não por respeito a alguma linha filosófica não, e sim por talvez não preencher aos “requisitos” que envolvem essa merda toda.   

Ainda assim, por mais incrível que possa parecer e sem ajuda do “diabo”, contabilizei só aqui entre o meu núcleo de convivência uns seis ou sete lançamentos previstos para os dois próximos meses. Aos trancos todo mundo tá chegando. Legal, muito legal. Alguém de fora pode até sugerir que exista uma “cena” (repito: odeio esse termo) acontecendo aqui no nosso ABC Paulista. Particularmente eu não saberia dimensionar isso agora, também não sou eu que devo fazê-lo, e pra falar a verdade, isso é o que menos importa. O tempo dirá.

Os Krias de Kafka acabaram de gravar o primeiro disco, “O Mundo Não Acaba Nunca”, sem selo, gravadora, edital ou a puta que o pariu, e hoje lançaram o primeiro vídeo, “Leila”, feito nos mesmo moldes do disco, na unha. Aprecie-os agora, porque o “Coisa Ruim” ainda não o fez e só isso poderá mudar as palavras do tal do tempo lá na frente. Para o bem ou para o mal.


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