Pastilhas de um Carapuceiro - Da arte de espiar as mulheres

Por Xico Sá

Tem alguma coisa que não bate nessa pesquisa inglesa, compadre. Ora, como assim, só gastamos, em média, 43 minutos por dia mirando las chicas, olhando para as mulheres?!

É o que revelou o estudo feito pela Kodak Lens Vision Centres, uma firma evidentemente interessada no que se passa na nossa vista, afinal de contas é do ramo e vive disso.
Menos de um tempo de jogo de futebol por dia de tocaia?

Não, compadre, mesmo os entrevistados sendo todos ingleses, rapazes mais tranqüilos, mais “cool”, como eles se acham, não é possível. O pior: na terra da Rainha ainda ficaram espantados com os números. Acharam que era tempo demais, tempo perdido, como se gastar as retinas com as fêmeas fosse coisa d´outro mundo, mal-assombro que balança as cortinas mesmo quando o vento está parado.

Tudo bem, as britânicas não possuem os belos latifúndios dorsais das nossas mulheres, mas 43 minutos a gente atinge nos trópicos assim que deixa o lar doce lar e pisa na calçada, caso dos pedestres inegociáveis como este bípede cronista. Aliás, gasto bem antes, pois adoro aquele momento em que a cria da minha costela escolhe as vestes, ah, quanta angústia, que lindo. E quando ela diz, dramática, como uma atriz de tragédia grega, “saco, não tenho roupa!” Mesmo com o armário repleto. Eu entendo. Aliás, ela nem diz mais, só pensa, e eu já adivinho.

Você, ai, macho sobre quatro rodas, também bate essa cota inglesa em dez minutos no trânsito ou em meia hora na firma, não acha? Se estou errado, me corrija, faz de conta que a sua amada não lê essa coluna porco-chauvinista, não quero provocar cizânia nos lares doces lares, só desejo que os pombinhos arrulhem em paz.

(Falar nesse verbo, um dos melhores da nossa língua, um parêntesis para citar o justo momento em que ele, o verbo, se tornou inesquecível em minha pobre vida, sim, em uma passagem de “Ubirajara”, de José de Alencar, ê, coisa linda, velha ficha de leitura do grupo Virgílio Távora, em Juazeiro: “A juriti arrulhou docemente na mata..."

Sim, mas como ia dizendo, tem alguma coisa que não bate nessa enquete inglesa. Pelas suas contas, entre os 18 e os 50 anos, o homem perde um ano olhando para mulheres. Como assim, filhos da mãe? Perde? Não seria o contrário?

Ora, até nos grandes faroestes sabe-se da importância de mirar uma dama. Na fita “Era uma vez no Oeste”, do Sergio Leone, em um certo momento crucial, um velho caubói diz para a mocinha: “Vai lá fora e leva uma xícara de café para eles, os homens mudam de assunto ou calam quando vêem uma mulher bonita”. Era a forma de evitar que os dois se matassem. Infelizmente, ela, Claudia Cardinale, tesouro, não obedeceu, quer dizer, não chegou a tempo. Acontece.

& Modinhas de fêmeas

E o que pensam as gazelas sobre o mesmo tema? Apenas 16% disseram se sentir nas nuvens quando são devoradas pelas retinas dos mancebos. Pouco, não? E sabe quanto tempo elas gastam olhando os boyzinhos ingleses? Apenas 20 míseros minutinhos diários. A maioria mira nos olhos, romanticamente, ao contrário da baixaria masculina que vai direto às lições de anatomia e abundâncias.

Xico Sá, escritor e jornalista, colunista da Folha, autor de “Chabadabadá – As Aventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha” e mais 10 livros. Na TV, participa do programa “Saia Justa” no canal GNT. E agora é parceiro nosso aqui pelas bandas do Pastilhas. (Texto extraído do blog O carapuceiro)
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