O amigo leitor que me acompanha aqui em Canela De Ferro sabe que fujo da mesmice, igual Antoine Doinel corria do casório no ótimo filme O AMOR EM FUGA. Pois é...
Em se tratando de assuntos ludopédicos tem muita coisa boa rolando. Tivemos essa semana a peregrinação do povo corintiano para o Aeroporto de Cumbica, coisa pra la de homérica! Tal e qual Moisés guiou seu povo para a travessia do Mar Vermelho, a nação corintiana conduziu os seus 23 homens para a Batalha de Tókio pela conquista do Mundial de Clubes. Coisa linda mesmo. Daqueles episódios que, para a inveja dos tristes, só o futebol é capaz de realizar. E o faz de maneira natural, sem roteiro marqueteiro pra guiar, sem o mídia training pra robotizar, nada.
Futebol é a manifestação plena dos sentimentos que aflora nos seres de fé. É imprevisível como a vida, é lindo como um poema de Keats, é viril como a bateria do Keith Moon no The Who, é tenso como Dustin Hoffman dirigido por Sam Peckinpah, é pleno como o primeiro beijo de um adolescente virgem, é delicado como uma chicotada de lírios.
Nada menos que isso.
Portanto caro leitor, o Cronista não tem o direito de vir aqui e dizer que “nada há para ser comentado”, seria um absurdo! Futebol é lindo até no intervalo do primeiro, para o segundo tempo. Então vejam; Porque eu to assim... Meio Down, como cantaria Dalton numa situação
dessas??? Ah, claro que tem explicação...
Não da pra ficar animado pra falar dos assuntos ludopédicos na terra do Zé Maria Marin. Mas assunto temos!!
É de dar urticária.... Pensar em algo tão bom, tão onírico, tão lindo, nas mãos de um sujeito como esse é de chorar! Que situação!
Para você ae que tem menos de 40 anos, seguinte; Falo de um cara que começou dar suas espetacadas na política nos anos 60, sendo vereador em Sampa pelo PRP, fundado pelo integralista Plínio Salgado. Depois conseguiu se tornar Deputado Estadual pela Arena, tornado-se cupincha dos milicos da Ditadura Militar. Ficou famoso após um discurso ufanista nojento em que criticou a TV Cultura, isso em 1975. A consequência foi a prisão em massa do povo de lá, sendo que um desses foi Vladimir Herzog e ae, bem...
O fim do Herzog tae pra quem quiser saber qual foi.
Depois virou assessor do Maluf, Governador Biônico, e sabe la o satanás porque, Diretor da Federação Paulista de Futebol em 1982. Quero dizer o seguinte; Trata-se de um populista comum, óbvio como tantos outros, que sempre deu o seu jeito para ficar do lado dos poderosos bufões. Dos coronéis cafonas do velho Brasil. Ae, depois que não conseguiu mais ganhar nem eleição pra flanelinha de hipermercado, eis que o sujeito aparece embolsando uma medalha após a final de Taça São Paulo e, um ano depois torna-se Presidente da CBF. Há um ano da Copa no
Brasil!
Eu até achei que os absurdos iriam parar por ae, iriam ficar pela demissão do Mano Menezes que entrou sem merecer e saiu sem ninguém entender, que daria um tempo ali por aquela apresentação ridícula do Felipão e do Parreira mas não;
Eles se superam!
A nova do sujeito foi apurada pelo Diário Lance e trata-se de uma medida estudada la pela CBF que ta preocupada com os Estádios, os elefantes Brancos que estão sendo construídos em Cuiabá, Manaus e Brasília e, para resolver isso decidiu que vai obrigar os clubes grandes a mandarem seus jogos nessas arenas a fim de evitar que estes palcos da Copa se tornem ociosos depois do Mundial. Para tanto, pensa em dar aos clubes uma esmola ae que seria todas as despesas com avião e hotel pagas pela confederação brasileira. Tá.
Ae se o clube tem um acordo de publicidade com seus anunciantes de placas, de uso de espaço, de comida, de sócio torcedor, carnês, que se dane?? É um absurdo. Mas pelo menos a coisa toda me remeteu a uma lembrança muito mais agradável...
Houve uma vez no Brasil, o personagem Odorico Paraguaçu!
Criado por Dias Gomes na sua seminal novela O BEM AMADO de 1973, imortalizado por Paulo Gracindo, Seu Odorico era o Prefeito da Cidade de Sucupira. Ae la pelas tantas de sua gestão, o cabra ficou incomodadíssimo com o fato de todos os mortos serem enterrados em
cidade vizinha e numa saída eleitoreira decide; “Vou construir um cemitério” - Ae veio o problema...
Depois de pronto o cemitério,. A eleição já chegando, a inauguração da obra precisando ser feita e ninguém mais morreu! Po... Como inaugurar o Cemitério?? Precisa de um defunto!! pois é...
No caso nosso aqui pra assuntos ludopédicos os defuntos serão os clubes. Os peões desse xadrez cafona serão os torcedores e os vitimados, todos os que gostam de futebol. Que se danem todos! Importante é inaugurar o raio dos estádios. É uma pena.
Eu gostaria de falar de coisas bem melhores que o Zé Marin mas num dá; Com ele não vai haver poesia que resista e o fim disso não sei como será. Não quero pra Zé Marin que ele tenha o mesmo fim que Odorico, que acaba a trama assassinado por Zeca Diabo e de vilão, torna-se mártir ao inaugurar o Cemitério ele mesmo, o defunto oficial de Sucupira!
Não. Não quero. Eu espero que as coisas se resolvam de uma maneira mais amena, mais leve e mais prazerosa. Bom então é o seguinte: Votemos para as Irmãs Cajazeiras no Comitê Organizador da Copa!
Pelo menos a coisa ficará um tanto Lilás...
Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.