Um Fellini por domingo no futebol brasileiro...

Por Marcelo Mendez

De todas as boas coisas do cinema de Federico Fellini, um dos seus filmes que mais vi na vida foi FELLINI OITO E MEIO, primeiro porque é um espetáculo de filme, segundo porque acho muito corajoso o motivo pelo qual nasce a película. Trata-se de um momento onde o cineasta genial admite que não tem maiores inspirações, que tudo ta difícil e a criação ta um parto pra sair e vejam vocês:

To falando de Federico Fellini!! Imaginem, trazendo a coisa cá para as nossas fuças mortais, o parto que é para um Cronista Ludopédico tentar tirar um pouco de encanto do óbvio ululante e pleno que rola em nosso futebol brazuca desse começo de ano?? Pois é, caro Leitor...

Ontem no estádio do Morumbi, tivemos o clássico entre Corinthians x Santos que acabou num imoral 0x0. E como avilta o futebol o 0x0. Por si só já é um acinte. Um jogo de futebol caretamente virginal. Um placar que frustra perfidamente a conversa de boteco da segunda feira. Que atrapalha mal e parcamente a venda do Lanche de Pernil da banca da minha amiga Regina, ali na entrada do portão da imprensa no Morumbi. Com os times ontem a coisa não fugiu de todas essas tristes premissas. Foi um porre.

Entraram em campo o time de Parque São Jorge com todos os problemas ocasionados pelo acidente de Oruro na cachola, com o total desinteresse não assumido pelo Campeonato Paulista e, o Santos de Murici Ramalho em plena crise de identidade quer dizer; Um time que há muito tempo não é mais o que pensa ser. Há tempos que não se vê pela Vila Belmiro a alegria dos dribles e peripécias do menino Neymar e a beleza do futebol de temporadas passadas. Uma coisa que ta realmente triste.

Na cancha, os dois times se arrastavam pelos 90 minutos, da mesma forma que um contínuo de repartição pública dos anos 50 se arrastava pelo trabalho até às 17 horas. A ideia das equipes era “Cumprir o turno”. Terminar logo aquela coisa chamada “jogo” e ir para a casa checar emails, tomar um cafezinho, ver o Fantástico, o futebol mesmo que se dane. Poucas são as coisas que se pode dizer numa situação dessas, diante de um profundo nada absoluto e pleno como o que vimos ontem no Morumbi. Diram os estetas da Objetividade burra:

“Seja então direto!”

Mas o que é “Ser Direto”?

É escrever aqui tudo que vocês já viram ontem em 200 programas de TV? Seria “Destrinchar Taticamente” o jogo? Mas o que há de novo para ser “destrinchado”? O que pode ser analisado além do nada? E que graça pode haver nisso?

Oras caro leitor... A Crônica não pode ter esse tipo de compromisso com a amarra da mesmice. Até em uma porcaria como aquela que vi ontem, há de ter lá uma, ou outra boa coisa a ser tirada. Problema é que mesmo sendo Marcelo, o nome do Alter Ego do meu mestre citado aqui, Fellini eu não sou. Não vai dar para criar um Líbelo a partir disso tudo, mas deixo aqui meu registro sobre o nada ludopédico de ontem.

Quem sabe semana que vem não pinta um Amarcord por ae...

Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.
Share: