Repórter Elsa - O som e alma de Kaic 'Bo' Alkmin

Por Elsa Villon / Fotos de Priscilla Cabett

Tudo começou assim: meu amigo (está mais para irmão) Daniel Móri, jornalista preferido de Guaratinguetá, me mandou um link pelo famigerado Facebook com os seguintes dizeres:

"Elsa, encontrei um talento em Guaratinguetá, SP. Kaic Bo Alkmin, Look."

Seguido à mensagem, estava "Passeando Como Camelo", do então artista. Ouvi e pirei, mas antes que pudesse terminar de ouvir, Vinicius Alves, o Capitão Kirk do Pastilhas Coloridas, me manda inbox:

"Ouvi o som que teu amigo te indicou. Pastilhas Coloridas?". Como negar?

Entrei em contato com esse jovem que é de fato, um artista "amador" (definição dada pelo próprio). Ele toca, canta, filma, edita, sonoriza... e ainda escreve poesia, faz artes esculpidas, e usa quase que exclusivamente a internet pra divulgar sua arte. O sujeito é quase um rastafari sem erguer bandeira alguma: apenas com sua arte. Interessadas meninas? Pois podem tirar o equino das águas pluviais de março, pois o moço tem uma namorada à altura. Priscilla foi a autora do ensaio, está no último ano de Rádio, TV e Internet e comanda 3 programas numa rádio em Lorena e é bonita que só vendo (confira o perfil completo dela abaixo e aproveite para conhecer o trabalho da gaja).

A jornalista que vos fala - agora com diploma - saiu de São Bernardo e viajou quase 200 km para entrevistar Kaic "Bo" Alkmin (não, não é parente do Geraldo Alckmin). Aproveitando que "a banda de um homem só" também filma, dividimos a entrevista em áudio, foto, vídeo e texto. Um mix de tudo, porque é por meio da arte que Kaic formula a sua identidade. E nós também.

Confira a primeira e exclusiva entrevista do moço, só no Pastilhas Coloridas...
(Pra quem preferir, no final temos a entrevista em vídeo)

- Fale um pouco de como você começou a tocar? Como foi seu primeiro contato com a música?

Meu primeiro contato com a música aconteceu vendo meu tio, ele gostava de tocar algumas coisas, alguns sons no violão. Foi vendo-o que me interessei pela arte de se expressar por meio daquele instrumento. Eu tinha muita coisa guardada comigo e precisava de um meio pra poder soltar aquilo. Comecei a aprender com ele, comecei a tocar e fiquei um tempo praticando – mais ou menos uns dois anos praticando sozinho. Depois fiz algumas aulas que ele pagou pra mim. Logo em seguida, comecei a trabalhar como design gráfico pra poder ter uma renda, mas também me identifiquei com esse lado de produzir vídeos, imagens. Trabalhei um tempo e saí do emprego pra investir nesse projeto, comprei os equipamentos que pude comprar e comecei. Já faz uns 8, 9 anos que componho música, fiquei um tempo estudando, trabalhando na ideia pra ser o mais sincero possível com as pessoas, comigo mesmo, sem fugir da minha essência. Foi quando lancei esse dois vídeos clipes na internet.


- E como foi essa ideia de lançar o vídeo pela internet, sua arte identificada com que você acredita? Como foi esse processo, já vinha caminhando, foi a pouco tempo?

A minha cabeça estava o tempo inteiro tendo essas ideias e imaginado filmes e curta metragens. É tudo, não é só a música. Então pego isso que sinto e tento passar pras pessoas entenderem um pouco mais sobre mim, sobre o que eu busco. Decidi fazer isso de coração. Fiquei bastante tempo fazendo. O primeiro vídeo clipe, eu demorei uns 4 meses, porque fiz tudo sozinho. O único apoio que eu tive foi que minha mãe deixou gravar aqui dentro do quarto. E ai fui fazendo e achei gostoso também, porque é gratificante você terminar um trabalho tão difícil, sozinho ainda. Tive só o apoio de amigos, nesses dois primeiros trabalhos eu não tive nenhum apoio externo.

- E seu conhecimento de música: você chegou a fazer um tempo de aula e depois desenvolveu sozinho. Sobre essa parte de produzir, editar, mexer com áudio, com captação de vídeo. Como você se envolveu com isso?

Foi um processo bem difícil pra eu fazer tudo que queria, com o pouco que tinha. Porque, no caso, tenho só o computador onde eu gravo as músicas e a câmera que é uma filmadora que comprei. Aqui (no quarto) é o estúdio, e fico estudando música, gosto de ouvir músicas de outras artistas e por meio disso consigo entender o que quero passar. Vou fazendo a música e já vem vindo ideias na cabeça pra fazer um vídeoclipe ou um curta metragem em cima daquilo. Ou de pensar em danças, em rituais de libertação interior, que é o que eu mais busco. E vai acontecendo, é uma coisa natural, não forço.

- Intuitiva?

É intuitiva, entendeu? Eu quero expressar o que eu sinto.

- Então você é um autodidata?

É, sou um autodidata. A única coisa que estudei foi nessa escola de música, onde fiz seis meses de aula de guitarra e depois mais nada. Fui mais buscando coisas na internet, sobre pessoas que já sabiam. Mas sou um autodidata.

- A internet foi importante nesse seu aprendizado?

Sim, gosto de poesia, gosto de leitura, gosto de estudar música, de ver os músicos falando e buscar um influencia positiva. Porque é algo que faço, que quero levar para o resto da minha vida.

- Dentro da música tem alguns nomes que são uma influência pro seu trabalho, por você identificar com o que sente e com o que faz?

A minha influência vem do meu tio mesmo, que foi a primeira. Depois fui conhecendo outros amigos que queriam também ir nesse caminho fazendo música e eles também foram muito influentes. Porque escutar música de pessoas de fora, de bandas famosas é bom, é uma influência que é bem intensa pra mim, mas aprender com amigos realmente foi mais influente no processo de libertação por meio da música. Agora citando alguns nomes, ouço bandas de jazz, baixava o que eu via de jazz, rock psicodélico, The Doors, Pink Floyd, outras bandas atuais também e blues. Tudo que tenha esse sentimento verdadeiro me influenciou. E assim, falar muito nome de bandas não vou conseguir, mas um artista moderno que realmente me emociona é o Criolo. Eu vejo e me sinto influenciado por ele em relação ao sentimento verdadeiro, que ele tem, que ele passa e que ele quer passar.

- O que ele passa nas músicas, você quer passar também...

Exatamente, ele passa do jeito dele e eu vou passar do meu, mas a forma dele ser verdadeiro e sincero me influência bastante. Chego a ficar emocionado. - Se você tivesse dez minutos de prosa com Criolo, o que você perguntaria?

Queria poder perguntar pra ele como manter a sinceridade nesse caminho da música, onde acontecem muitas coisas, altos e baixos. Uma dica pra eu conseguir continuar seguindo a minha essência, do jeito que ele continua seguindo a dele, mesmo depois de 20 anos de carreira.

- Mudando um pouco. Eu percebi algumas características da sua música semelhantes à do Marconi Notaro, que é um artista pernambucano, que tem muito da psicodelia que você falou e desse sentimento dentro da música. Você conhece, ele também te influenciou, ou acabou acontecendo coincidentemente?

Eu ouvi um pouco desse cara pela internet, por indicação, e achei muito bom o som dele, sincero. Achei as letras um tanto psicodélicas de verdade, bastante. Não foi uma coisa muito marcante a princípio, mas depois que fui compreendendo, achei muito legal. Já se tornou uma influência, esse lado de não ter medo de expressar exatamente aquilo que você sente. Se é psicodélico, se é loucura, se é revolta, se é raiva, medo. Você tem que falar. Ele fala do jeito dele e é isso que mais me influência, ser sincero.

- Tom Zé?

Tom Zé, eu fui num show dele esses dias e inclusive fiz uma coisa... (Tom Zé se você tiver me vendo ai). Eu joguei um papelzinho com o nome dos meus vídeos clipes pra ele acessar, mas acho que ele nem chegou a ver. É um cara muito foda. Pra quem tem setenta e poucos anos, dançando, pulando. Espero um dia poder chegar lá

- E se você tivesse um minuto com Tom Zé?

Falaria pra ele que é uma pessoa muito bacana, e só tenho a agradecer, não tenho nem muito a perguntar. Agradecer por ele existir. E isso ia ser engraçado, louco e verdadeiro, do jeito que ele é.

- O que você pretende pra 2013 em relação a seu trabalho? O que você tá fazendo? Quais são suas ideias?

Eu vou lançar o novo clipe, que forma uma trilogia de vídeos. Que na verdade são os três primeiros singles do projeto que eu tenho. Ele está bem simbólico ainda na internet, como DPAIM, porque a gente não quer divulgar o verdadeiro nome do projeto.


- É sigiloso? Ninguém sabe?

Por enquanto não, porque não tem necessidade de saber. Só na hora certa? Esse é o verdadeiro projeto. Eu lancei como Kaic "Bo" Alkmin, porque a banda não estava pronta ainda. Eu não tava preparado pra assumir esse compromisso, as pessoas que tocam também não estavam. Esses integrantes são o Sbiá e Miguel Camaleão, que são as pessoas que estão sempre do meu lado e a gente está junto. Temos o mesmo ideal de libertação interior. E a minha ideia esse ano é que todo mundo esteja preparado pra se lançar, digamos, fora daqui, desse mundo aqui, desse quarto.

- Como é o cenário pra artistas de um modo geral aqui em Guaratinguetá?

Em relação ao lado financeiro, como em muitos lugares aqui da região, não é bem valorizado e a gente acaba criando várias tensões por causa disso. Porque a gente quer ser músico, não existe um desenvolvimento financeiro, que não é o principal, mas é importante pro músico poder continuar. Não tem mesmo. Porém, agora mesmo está acontecendo um evento na pista de skate que nós organizamos, a gente que organiza, mas não é valorizado pelas pessoas que deveriam, as pessoas que podem investir nisso. É valorizado pelos próprios artistas e aqui a gente é bem unido pra fazer acontecer alguma coisa. Sempre um ajudando o outro.

- E o público?

É bem difícil de aceitarem artistas novos. Apesar de irem, é uma coisa meio superficial, ninguém está aprofundado em estar com a gente. Que nem, você vai num show pago de um músico independente, autoral daqui, e vai pouca gente, 50 pessoas. Se vai uma banda de covers, aparecem 300 pessoas, 500 pessoas. Isso pra mim não importa, um ou outro, mas acredito que deveriam valorizar mais o músico autoral.

- As pessoas que querem conhecer seu trabalho, você também é artista plástico. Como é isso? Tudo é parte de um só Kaic?

Também, eu tento me expressar ao máximo com tudo, e nem sempre só a música consegue me trazer essa paz que to buscando. Às vezes, sei lá, fazer um brinquedo com papel machê, ou fazer um cenário, ou desenvolver um desenho, ou fazer uma poesia, ou conversar com alguma pessoa e sentir a energia dela e estar conectado com a natureza e com todas as outras coisas, pra mim é uma arte. Me completam também, além da música.

- A arte é uma religião pra você?

Digamos que sim.

- Ela te traz a paz que algumas pessoas buscam nas religiões?

As artes em geral, principalmente a música, porque gosto de cantar, de falar do que eu gosto. Talvez, porque eu não tive uma oportunidade até agora, mas está chegando a hora e vou falar o que eu penso.

- Dessa entrevista, o que de bom você quer tirar dela pra poder ganhar mais destaque com seu trabalho, dentro do que acredita? O que você acha que pode dizer pra convencer as pessoas?

Essa entrevista tá sendo muito legal, você é uma pessoa simpática e eu estou me sentindo à vontade. É a minha primeira entrevista. Quero dizer paras pessoas verem meus vídeos e se puderem, compartilhar. E tentarem compreender mais, que eu sou um artista amador e talvez eu seja pelo resto da minha vida, porque eu estou sempre aprendendo. E que elas também possam aprender comigo. Não sou um artista famoso, mas tentem entender a mensagem que eu quero passar. Porque é bem sincero isso, de coração.



- O que você espere que de certo em 2013? Qual seu grande desejo pra esse ano?

O desejo é a banda se realizar mesmo e acontecer pra que em 2014 as pessoas estejam escutando a gente, abrindo espaço pra gente e pra todo mundo que desenvolva algo novo, que é difícil de ser feito. tem que ser valorizado. E 2014 espero que parta isso de todo mundo, de todos os artistas que querem chegar a algum lugar. Tem que pôr os pés no chão e bola pra frente, sem medo de ser feliz. E paras pessoas nos aceitarem. Digamos, a grande mídia, porque o que nós estamos falando é algo sincero e relevante.

É algo que vai ajudar as pessoas se encontrarem. Os artistas desta geração querem que as pessoas se influenciem por eles, mas que também sejam elas mesmas. Isso está acontecendo e vai acontecer cada vez mais, por isso eles tem que dar espaço pra gente poder chegar abertamente, pra dizer isso.

- Pra conhecer seu trabalho tem algum endereço na web? Algo que queira dizer?

Tem meu canal no Youtube e minha pagina no Facebook. Podem me adicionar. Mas é mais no Youtube onde tenho meus dois clipes, o "Astralaria" e o "Passeando como um camelo", que são duas músicas minhas. É só pesquisar lá que vão encontrar.

Abaixo você confere um pingue-pongue respondido pelo Kaic com trechos de suas músicas:

Arte


Felicidade


Música


Mágoa


Infância


Vida


Revolução


2013


Assista ao vídeo da entrevista...



Descubra o significado do "Bo"


Links relacionados para Kaic "bo" Alkmin:
Facebook: https://www.facebook.com/kaic.alkmin
YouTube: http://www.youtube.com/channel/UCFKsfrjhaeIp9IDiTm3F09g

Agradecimentos especiais ao Daniel Móri e Kaic "Bo" Alkmin

Elsa Villon é colaboradora do Pastilhas Coloridas, jornalista e fotógrafa viciada em café, cinéfila, adora Beatles e cheiro de pão saindo do forno. Twitter: @elsavillon


Priscilla Cabett está no quarto ano de Rádio, TV e Internet e comanda 3 programas na Inova FM, rádio de Lorena. "Manhã da Inova" (seg. a sex.), Freestyle - com rap, hardcore e reggae (dom.) e Tribos (sáb.). A moça também é fotógrafa freelancer e ajuda o Kaic em algumas produções.
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