Repórter Elsa – Um livro de oito graus na Escala Richter


Por Elsa Villon 

Começou assim: estava a repórter que vos fala navegando pela web quando recebe um tweet de um tal Hugo Rodrigues. Curiosa, respondi e tamanha não foi a surpresa quando ele me disse que lia o site do Pastilhas Coloridas e estava lançando um livro. E claro, tinha lido minhas matérias, gostado e queria ser entrevistado.

Meu ego foi inflado de maneira tera, pois nunca antes na história desse país uma fonte correra atrás de mim, geralmente é o contrário. Alguns e-mails depois e o arquivo de “Um Sorriso de Oito Graus na Escala Richter” estava na minha caixa do Gmail. Comecei a ler e confesso, gostei demais do estilo do gajo. Achei que valia sim a entrevista e bem, o desfecho vocês conferem aqui.

O carioca de 25 anos vive atualmente em Niterói e é formado em Publicidade pelo Centro Universitário Plínio Leite. E confessa: sua pretensão jamais foi ser escritor, publicar um livro ou qualquer coisa do gênero e a ideia lhe soava surreal. Todavia, as palavras foram formando frases, parágrafos, contos até que se tornaram um livro.

Hoje, Hugo já caminha para as próximas publicações e usou o poder da velocidade da internet como estratégia de comunicação. Isso prova que a web é sim uma eficaz ferramenta de promoção da arte e aliada ao talento, pode sim trazer resultados rápidos.

Confira abaixo a entrevista com o nosso carioca das letras:

- Como foi esse processo criativo? Montar um livro partindo do que já havia sido escrito (contos e outros textos) e formar uma narrativa linear e coesa?

Passei a reunir os contos, que tinham personagens semelhantes nas histórias, ver os tempos, as épocas. Fui reunindo todos, escrevendo mais outros até criar uma narrativa completa.

- Você tem alguma formação em área específica? Qual?

Eu sou publicitário. Sempre foi o meu grande sonho trabalhar com publicidade. É uma área que amo e que não vejo longe de uma agência, prazos curtos e horas extras.

- Como funciona o seu processo criativo?

Não tenho muito ritual não. Geralmente crio quando não estou querendo criar. É até engraçado isso. Meu cérebro funciona, principalmente, quando estou na academia ou deitado para dormir. Minha criatividade adora roubar meu sono.

- Como foi a sua infância? Onde nasceu, a estrutura familiar, se tinha apoio à escrita, se foi algo que descobriu já na fase adulta?

Minha infância foi comum, muitas besteiras, joelhos ralados, pular muros, quebrar telhas das vizinhas e jogar futebol na rua. A escrita nunca foi algo em evidência, mas sempre fui de escrever, brincar de rimas. Um tempo atrás, achei um bilhetinho que fiz para a minha mãe quando eu tinha uns sete, oito anos. Dizia: “A galinha bota ovo e eu te desejo um feliz ano novo” (risos) . É besta, mas é bonitinho. Na adolescência, eu fazia muitos poemas ou letras de músicas. Mas depois, fiquei meio enjoado de rimas e quis escrever contos mais narrativos.

- Como os familiares e amigos o influenciaram?

Olha, é mais fácil dizer algo à desconhecidos do que aos mais próximos. E escrever coisas bonitinhas requer um tanto de coragem. Aos quinze, eu tinha um diário que não mostrava a ninguém. Era meio gay ter um diário, né? Então, a maioria só foi descobrir depois de muito tempo. Mas, mesmo assim, muitos ainda não sabem por completo o que eu escrevo.

- De que maneira a internet auxiliou na publicação do seu livro? Como foi o caminho até lançá-lo?

A internet foi fundamental. Quando eu comecei o processo do “Um Sorriso de Oito Graus na Escala Richter”, a ideia era apenas criar um folhetim online mesmo. Até porque não acreditava que alguém fosse querer publicar e, caso publicassem, ninguém iria querer comprá-lo. Mas, como diria Joseph Klimber, “a vida é uma caixinha de surpresas”. O número de likes foi aumentando, os pedidos para ter o livro impresso foram chegando. Até os capítulos chegarem à uma editora aqui de Niterói e eles aceitarem o projeto.

- Há novos trabalhos em andamento?

Estou escrevendo mais dois livros: “Mulheres, Malditas Maravilhas”, que conta a história de vários relacionamentos e a ideia é lançá-lo na Bienal do Rio deste ano; e o “Na Décima Nuvem”, que será um livro de um nova fase, um tanto mais adulta, meio Salinger ou Fante. E tem um futuro que deve se chamar “Ramon”, mas esse ainda não tenho nada pronto, apenas alguns insights.

Com base no seu já publicado livro e contos em primeira mão, você confere trechos autorais da obra de Hugo Rodrigues somente para o Pastilhas Coloridas:

- A escrita
“A escrita é forma racional de dizer loucuras inapropriadas”.

- O amor
“E eu acho que isso é o amor: quando nos faz ver uma coisa boa entre tanta maldade que há por aí e tudo que a gente quer é permanecer vivo só para aproveitar mais daquilo.”

- Infância
“Na minha infância, quando eu tinha uns vinte e cinco, eu já me achava gente grande e, ainda, não sabia nada”.

- Família.
“Não há nada melhor do que família. Não há nada pior do que família. Depende do dia.”

- Livros
"Meus livros de cabeceiras já estavam cansados de mim e da minha velha forma de abri-los em alguma página aleatória a fim de encontrar respostas. Eu sou estranho e jogo tarô com os livros."

- Internet
“Na internet, tudo é exagerado, é fantasiado. Qualquer um pode ser Rimbaud ou Luciano Huck. Pode ser religioso fervoroso ou pagão irônico. O offline, ainda, é o meu melhor status”.

- Romance
“O bom das pessoas é de que todas seriam protagonistas em meus romances. Em toda a minha vida, não houve ninguém que conversei que não possuía algo completamente apaixonante, nem que fosse suas mentiras”.

- 2013
“Meu número da sorte é o 13. O ano do meu primeiro livro é 2013. E tem gente que ainda acredita em coincidência”.

Gostou do trabalho? Então curta a página e saiba quais os próximos passos do escritor.

Gostou da matéria? Confira as demais entrevistas da série Repórter Elsa para o Pastilhas Coloridas.

Elsa Villon é colaboradora do Pastilhas Coloridas, jornalista e fotógrafa viciada em café, cinéfila, adora Beatles e cheiro de pão saindo do forno. Twitter: @elsavillon
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