O táxi da sorte

Por Felipe Bigliazzi Dominguez

Rio De Janeiro, 30 de Maio de 2013. Os ponteiros marcam 5h20 da matina. A rua Sara, em pleno bairro de Santo Cristo, é um breu de fazer inveja a qualquer inferninho da zona do mangue. Pedintes faziam a festa, importunando os senhores que saem da área de desembarque da surrada Rodoviária. Não dá pra dar mole. Malandro é malandro, mané é mané, já dizia Bezerra da Silva. O táxi chega. Pra onde vamos, pergunta o motorista. Pra Ilha, no Jardim Guanabara responde Péricles.

O painel do Santana é forrado de adesivos referente ao Vasco da Gama: O Gigante da Colina, Vascão, Torcida Jovem. Quanto foi o jogo ontem? Pô, 5x1 para o São Paulo. O Vasco vai cair mermão! Aquele Diego Alves é um frangueiro rapá, tú tem quem ver os gols, ainda tinha vascaíno que reclamava do Fernando Prasss, tão de sacanagem, diz o fanático cruzmaltino. Vamos cair, tu vai ver.

O táxi amarelo e azul cruza a Linha Vermelha sentido Ilha do Governador, passando por São Cristovão - com estádio de São Januário ao fundo na Colina - até chegar a entrada da Ilha do Fundão. Enquanto isso o taxista segue comentando os detalhes sórdidos do massacre são paulino sobre o Vasco no Morumbi. Foi 5x1 porque o Rogério Ceni deu a maior bobeira, tu vai ver no tape!. Tú é paulista? pergunta Rodrigo.

Percebeu pelo sotaque ou pela meia branca? Em meio a gargalhadas Chegam ao Destino final. Bom final de semana, o Vasco vai melhorar meu camarada, diz Péricles em um momento Mae Dinah.

Rio de Janeiro, 24 de Agosto de 2013. Os ponteiros marcam 5h30 da matina. A rua Sara, em pleno bairro de Santo Cristo, segue no mesmo breu de fazer inveja a qualquer inferninho dos tempos da brilhantina. Pedintes seguem fazendo a festa, importunando os senhores que saem da área de desembarque da surrada Rodoviário do Rio - ironicamente chamada de Novo Rio. Não dá pra dar mole, diria Marcelo Rezende.

Em meio as intermináveis obras que cortam a calçada, Péricles caminha duas quadras até chegar a nova, porém improvisada, parada de taxi. Esse gringo não fala inglês, não fala português, não fala merda nenhuma, vai você mesmo, diz o chefia da cooperativa de Taxi. Péricles entra no Santana amarelo e azul, sem reparar a coincidência . Tu não é o paulista que eu levei no Jardim Guanabara aquele dia que o Vasco tomou uma naba do São Paulo? indaga Rodrigo.

Supersticioso que é, Péricles teve um alivio atroz. Sabia que o taxista Rodrigo era seu amuleto. Era o fim da zica. Enfim, após quase 3 meses, o tricolor iria vencer uma partida no Brasileirão. Quantas coisas aconteceram desde então: O Brasil saiu as ruas em meio aos protestos.O Barcelona fez 1, 2, 3 a 0 no Santos. O Brasil voltou a sair as ruas. O São Paulo perdeu do Bahia, do Corinthians duas vezes, do Internacional, da Portuguesa.... O Brasil deu um sapeco na Espanha, levantando a Copa das Confederações no New Maracanã. O Galo foi campeão da Libertadores. Que Vandalismo!!! Enquanto isso o Barcelona fazia 4,5,6 a 0 no Santos. O São Paulo seguia perdendo, só que agora na Europa. depois perderia também no Japão. O Barcelona fez o sétimo, também fez o oitavo. O Dólar subiu. O Brasil não saiu mais as ruas, ao passo que o São Paulo seguia sem vencer ninguém.

Neste domingo era a vez de enfrentar o Fluminense no Morumbi. O Taxista Rodrigo deve mesmo ter dado sorte, pois Fred esta suspenso, Rafael Sobis ficou no banco e Deco seguindo o seu calvário de lesões, uma vez mais ficou de fora. Luxemburgo decide apostar no esquema 3-6-1 com Edinho improvisado como terceiro zagueiro, ao lado de Gum e Anderson. A ideia do treinador carioca é liberar os alas Carlinhos e Igor Julião.

O São Paulo vem a campo sob apoio de mais de 55 mil torcedores. Autuori arma o tricolor paulista no 4-2-3-1, com Jadson sacrificado para atuar aberto pela esquerda, afim de deixar Ganso centralizado. O começo do jogo é de grande embate pelo domínio do meio campo. Quem pega quem? Os alas do Fluminense batiam contra a marcação de Douglas e Reinaldo; Wagner, o único meia ofensivo do Fluminense, tinha a marcação implacável de Wellington, ao passo que Jean seguia Jadson; Ganso era o mais lucido em campo, vencendo o seu duelo particular com Diguinho, enquanto Felipe seguia demonstrando sua péssima fase, como sempre inoperante e facilmente marcado por Fabricio.

Os primeiros 20 minutos de jogo foram monótonos, sem nenhuma chance de gol. O São Paulo seguia com sua falta de criatividade para entrar na grande área adversaria.Isolado, como um Robinson Crusoé tupiniquim, Luis Fabiano seguia reclamando a cada impedimento - , para variar levou outro cartão amarelo e esta suspenso para o duelo contra o Botafogo no domingo que vem.

Eis que, aos 25 minutos veio o lance capital: Jean sente uma fisgada na coxa e, enquanto Luxemburgo prepara a entrada do volante William, o São Paulo troca passes, de pé em pé, até a redonda chegar a Ganso; O meia encontra Luis Fabiano em um espaço mínimo, no vazio entre Gum e Edinho, ai o atacante dá um carrinho como nos velhos tempos e mete no cantinho: 1 x 0 São Paulo.

Pericles esta convicto, é hoje que sai a zica. Vou pegar esse taxi ate o final do campeonato.

Luxemburgo esta revoltado. O gol saiu antes da sua substituição. Com um jogador a menos, ficou fácil para Ganso encontrar um queijo suíço no meio campo e construir a jogada do gol. O velho Luxa vem a tona. É um festival de baralho, suco de caju e feira da fruta. Luxa cancela a substituição. Com o placar adverso, decide colocar o atacante Kenedy no lugar de Jean. Assim, Edinho volta a atuar como primeiro volante. O Flu terminaria o primeiro tempo no 4-1-3-2 com um losango no meio-campo.

E da-lhe pressão do São Paulo, tanto que no último minuto, Jadson cobra curto o escanteio para Reinaldo, que carimba o marcador sem piedade. Não é possível, o cara treina a semana inteira e não acerta um cruzamento, desabafa Péricles. Enquanto ele reclamava, o lateral esquerdo do São Paulo se transformava em Nelinho, e como na partida contra a Itália na Copa de 78, Reinaldo acerta um golaço digno do histórico ídolo cruzeirense: 2x0 no Morumbi.

No segundo tempo, Luxa apostou de vez na molecada de Xerém. Felipe deu lugar ao jovem Eduardo, e assim, o Fluminense foi pra cima do São Paulo postado no 4-2-3-1. Autuori também mudou, sacando Fabricio para promover a estreia do zagueiro Antônio Carlos. Rodrigo Caio foi atuar em sua posição de origem, formando a dupla de volantes ao lado de Wellington. O Tricolor paulista ficou acuado durante todo o segundo tempo, levando um calor pela esquerda, pois Jadson não acompanhava Carlinhos.

Luxa, como sempre astuto, colocou o rápido Biro-Biro as costas de Douglas; O Flu apertou e poderia ter descontado. O São Paulo seguia demonstrando aquela velha mania de recuar após conseguir a vantagem - , sintoma que explica a situação da equipe na temporada. Sorte que o gol do Fluminense veio apenas aos 47 do segundo tempo. Não havia mais tempo, era o fim do martírio.

Há quem não acredite em superstição, no entanto, lá de Irajá, na zona norte fluminense, um Santana amarelo e azul segue como principal amuleto para o tricolor paulista, pelo menos no imaginário de Péricles, que já planeja novas viagens ao Rio até o final do campeonato.

Esquema tático 1º tempo

Esquema tático 2º tempo
Felipe Bigliazzi Dominguez é colaborador do Pastilhas Coloridas e responsável pelo blog Ferrolho Italiano
Share: