Moviola - Fahrenheit 451 (François Truffaut/1966)

Por Marcelo Mendez | Cinema | 

Quando vida e arte se misturam pode ser bem bacana...

Eu tinha uma penca de problemas aos 16 anos de idade, no longínquo ano de 1986. Não era lá um moleque muito cristão mas até que sempre fui bonzinho. A época era de descobrimentos, tanto na musica como no cinema que já se tornava uma das paixões da minha vida. Foi então que a Tv Bandeirantes, exibiu no seu saudoso Carlton Cine, que rolava todo ultimo domingo do mês, o filme OS INCOMPREENDIDOS. Saltava da tela para as minhas retinas o tal de FRANÇOIS TRUFFAUT. E esse cara nunca mais saiu da minha vida.

Então, senhoras e senhores, moças finas e outras escangalhadas, povo da cachaça e da apreciação do leite de soja, MOVIOLA tem o prazer e a honra de trazer FRANÇOIS TRUFFAUT.

E como falar de seu cinema sem falar de sua vida? Truffaut viveu tudo, se ferrou por tudo, pastou um monte...

Nascido em Paris no dia 06 de outubro do ano da graça de 1932, Truffaut desde cedo já começa a se ferrar. De prima, junto com a mãe, vai morar com o avô e nunca mais ficou sabendo nada de seu pai biológico já que sua mãe o defenestrara da vida deles. Nessa época o contato com o avô materno começa a forma-lo culturalmente; Truffaut passa a ter contato com a literatura e a musica. Devora informações e segue assim até a morte de seu avô. Nesse momento de sua vida, a mãe casa-se novamente e daí surge à presença do padrasto. A dura convivência com o tipo, as privações e as brigas, são o mote para o seu primeiro filme mais tarde, OS INCOMPREENDIDOS. Mas até chegar lá tem mais algumas pastagens...

Truffaut passa então a fazer uma via sacra por internatos, prisões e reformatórios para menores delinqüentes. Pega ali uma boa parte de coisas que vão ajuda-lo na formação de seu futuro personagem alter-ego, Antoine Doinel. E as coisas apenas melhoram com a chegada de André Bazin em sua vida.

Bazin foi o maluco que o tirou do internato, colocando-o em sua casa, arrumando a Truffaut um troço que ele num gostava muito não... o tal do Emprego. Mas até que nosso amigo gostou daquele; Trabalharia na Casa Cinemateque organizando fichas técnicas e arquivos. Nascia o autodidata do cinema, esforçado leitor, aplicado garoto de 18 anos que sensibilizava Bazin. E após mais umas cagadas de Truffaut, em 1951, este o convida para ser um dos críticos de Cahiers du Cinema, revista fundada por Bazin e tocada por um monte de admiradores do cinema. Truffaut passa a ter contato com Godard, Eric Rohmer e outros. Escreve o roteiro para ACOSSADO de Godard em 1957 e em 1958, estréia ele próprio com seu OS INCOMPREENDIDOS chamando atenção do público mundial.

Ao longo dos anos 60 conseguiu grandes êxitos como em DUAS INGLESAS E O AMOR e o seminal JULES ET JIM. Aí chegou o ano de 1965 e Truffaut se atém às atrocidades das ditaduras latino americanas e oras... Como seria uma sociedade onde a informação é proibida, livros são queimados e o caraio a quatro? A resposta vem em FAHRENHEIT 451...

Trata-se de um hipotético futuro numa hipotética cidade policiada pelos bombeiros com ordem de proibir com veemência toda a forma de escrita sob o argumento de que esta, deixa as pessoas infelizes e improdutivas. Montag é um desses bombeiros. Age tranqüilamente dessa forma até que começa a furtar os livros que queima para ler. Dura isso até que sua linda mulher descobre e o denuncia. E na sua fuga de casa conhece Clarisse que o leva para a terra-dos-homens-livro e daí começa a magia do cinema do truffaut...

A coisa é simples; François Truffaut é um dos maiores nomes do cinema mundial. FAHRENHEIT 451 é uma de suas obras primas por uma série de motivos que não caberiam nessa coluna. Então o lance é vocês aproveitarem e conferirem essa preciosidade.

Só dar play e perigas ver...



Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.
Share: