Repórter Elsa - O Universo de uma anônima do universo


Por Elsa Villon | Repórter Elsa | Entrevistas |

“Eu sou do Universo” – assim se define Verônica, a entrevistada da vez pela série Repórter Elsa. Sucinta, discreta, reservada e quase anônima, a moça de 18 anos é autora dos tumblrs “Inventário de Tipos Humanos” e "Valsa dos erros".

Lá sim, personas contam os detalhes mais secretos de sua vida, como o avô que fuma a maconha do neto escondido enquanto ele está na faculdade, ou a moça que gosta de dormir embaixo de pianos tocando. E ainda o garoto que gosta mais de comer cola que de gente. É um mundo cheio de perfis interessantes por suas banalidades e segundo Verônica com voz, trejeitos, manias e segredos.

A artista acredita que o primeiro contato com um lápis na vida de uma criança foi a base para toda a sua obra até o momento. “Eu só não parei” – assim define seu estilo que mescla várias técnicas e surgiu organicamente em sua vida, tal como seus personagens.

Quer saber mais sobre a moça? Eu também gostaria, mas me contento com sua resposta “sou uma garota de 18 anos que acabou de mudar de cidade e entrar para a faculdade”. Talvez esse sigilo nos faça pensar nela como cada um de seus personagens e, mentalmente, cada um de nós tenha uma Verônica já pronta em nossas mentes.

Confira abaixo a entrevista com a artista – que estuda cinema atualmente (sim, eu procurei especular um pouco, afinal, jornalistas servem para isso):

- Nome, idade, formação (artística ou básica):

Verônica, 18, cursando primeiro período de cinema.

- De onde é?

Sou do Universo.

- Quando e como começou a desenhar?

É difícil responder essa pergunta. Porque a gente tem contato com desenhar desde o primeiro lápis que é entregue a nós. Esse estimulo é normalmente muito forte na primeira infância. Eu só... Não parei.

- Seu trabalho chama muito a atenção pela diversidade de técnicas e materiais utilizados. Tem aquarela, caneta, lápis de cor. O que costuma e gosta de usar com mais frequência (matérias e técnicas)?

Eu uso tudo aquilo que eu tenho e essa exploração de materiais é uma das coisas que mais me interessa em todo o processo. Há uma preferência no momento por caneta nanquim e aquarela juntas porque acho essa combinação perfeita, complementar. A aquarela sendo orgânica, massa, incerta e a caneta sendo linha, ideia, razão.

- O traço dos seus trabalhos é extremamente autoral, mas também apresenta variações. Como desenvolve as ideias, da sua cabeça para o papel? Há algum exercício ou é algo instintivo?

Sou uma garota de 18 anos que acabou de mudar de cidade e entrar para a faculdade. Certamente, como deve ser, sou um ser inconstante e mutável em um processo_ não sei bem que processo, mas um processo_ vivo coisas novas, sinto coisas novas, vejo coisas novas e mudo. Há mudanças definitivas: nunca mais vou conseguir desenhar como eu desenhava aos 13 anos de idade. Porque aquela de antes era outra, com outra carga, e sentia coisas que mesmo que eu tentasse não conseguiria voltar a sentir. Outras mudanças são da ordem do momento. Sentimos coisas diferentes o tempo todo durante todo o dia, e cada desenho que faço revela uma face da minha realidade inevitavelmente.

- Você parece bem introspectiva, confere?

Confere.

- A observação é crucial para sua arte? De fato, há muitas pessoas que conhece e retrata ou elas são mais um perfil de várias, não necessariamente um indivíduo?

Acredito que observação seja crucial para toda arte. Porque a arte está no olhar, na percepção. Quanto aos perfis, nunca desenhei e descrevi alguém que conhecesse, mas todos os perfis são traçados a partir de um arquivo de gente dentro da minha cabeça. Todas as pessoas que já conheci, vi, ouvi falar, li sobre... Reais e fictícias. O tipo humano acaba se tornando uma mistura de diversos pequenos elementos desse arquivo. Mesmo assim, não significa que esse tipo humano criado seja um perfil de várias. Ele continua sendo um individuo único, completamente novo.

- Já tem ideia de como propagar – ou não propagar – seu trabalho? O que pensa em fazer com todas as ilustrações, ou talvez, não fazer?

Hmm, não. Parece que tem umas camisas com estampas do Inventário de tipos humanos para sair, mas não tenho muitas informações sobre isso por enquanto.

- Você, comparada a demais artistas, é bem nova. De que maneira a pouca idade influencia na sua visão peculiar sobre o mundo e as pessoas, ou isso não influencia?

Em primeiro lugar influencia porque sou jovem. E há uma diferença enorme, na minha opinião, entre arte jovem e adulta. A arte jovem grita ingenuidade, despretensão (quando a pretensão surge essa ainda é uma pretensão ingênua), vida, deslumbramento, drama. Nunca um adulto conseguirá fazer uma arte jovem porque ele não sentem nada disso e nem que tentasse conseguiria voltar a sentir. Mas acredito que você me comparou aos artistas jovens também, e mesmo entre eles eu sou nova, certo?Nesse caso, eu não acredito que uma diferença de idade de 2, 3,4 anos faça muita diferença.

- Pretende divulgar seu trabalho de alguma forma, além da internet. Fazer exposições ou publicar um livro quem sabe... 

Não pretendo nada para ser sincera. Nunca fui muito marqueteira. Todas as minhas ilustrações eu coloco, dependendo de quando eu tiver feito elas, dentro de grandes envelopes pardos com anos escritos neles (2013,2012, 2011), e é isso, não sei se há algo mais que eu queira fazer com elas, mas acredito que não. Não no momento. Eu não tenho interesse em propagar mais meu trabalho, mas ao mesmo tempo aprendi aos poucos a achar positivo que ele fosse propagado e desde o começo as pessoas tem feito isso por mim. Só faço arte e publico, o depois disso não depende de mim.

Entrevista Pingue-Pongue:

Aqui, você responde os termos com um trabalho seu...

- Infância


- Saudade


- Família


- Amor


- Profissão


- Velhice


- Medo


- 2013


Para saber mais:
https://www.facebook.com/ValsadeErros
http://valsa-dos-erros.tumblr.com/
http://inventariodetiposhumanos.tumblr.com/

Elsa Villon é colaboradora do Pastilhas Coloridas, jornalista e fotógrafa viciada em café, cinéfila, adora Beatles e cheiro de pão saindo do forno. Twitter: @elsavillon
Share: