Liquidificador - Monólogo ao amanhecer

Por Rodrigo Roah

Terça feira.

Dia da tradicional feira limpa da vila Gilda.

Normalmente passo por ela e dou uma breve olhada no movimento. Essa semana foi diferente. A fome apertou mais cedo e resolvi parar pra comer um pastel antes de ir pro trabalho.

Chegando lá a barra ainda estava sendo montada.

Quando uma coisa assim acontece é um sinal de que algo está errado. Acordar pro trabalho antes de montagem de feira é sacanagem.

Enfim...

Restava a padaria que fica de esquina com a feira. Essa já estava aberta e bem movimentada.

Ainda não fizeram com que eu acorde antes de abrir as padarias.

O movimento era bem grande pelos trabalhadores da feira em busca do sagrado café e de outros frequentadores, que como eu, ficaram sem a opção momentânea do pastel.

Restou pedir o tradicional pingado e pão com manteiga. Não que eu não goste, muito pelo contrário, mas estava afim de um pastel mesmo.

Pela manhã costumo trocar poucas palavras, pra ser sincero, o dia todo. Sou mais ouvinte que falador.

Era hora do chapeiro me pegar pra Cristo.

Começou a puxar assunto sobre o toque de recolher e dizia que policial não respeita cidadão e blá, blá, blá. Claro que o assunto tem toda relevância, mas as seis e meia da madrugada eu só to afim de preencher meu estômago, e bem quieto.

E ele continuava a falar e concordando com a cabeça. Mas ouvir que é bom...

Só blá, blá, blá!

Procurando uma vírgula antes que ele começasse a emendar um assunto sobre sua vida pessoal, terminei o rango e me levantei.

- Foi mal, preciso trabalhar. Depois continuamos essa conversa, disse a ele.

Mas na verdade eu queria dizer...

Foi mal, mas preciso trabalha. Depois passo ai pra ouvir o final do seu monólogo.

Que falta faz um pastel de feira...

Rodrigo Roah é jornalista, poeta e idealizador do blog As Caravelas. Twitter: @rodrigoroah
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