O tratado dos medíocres por Arthur Dapieve e a miséria sentimental ludopédica (parte I)

Por Marcelo Mendez

Em uma semana onde a beleza e o encanto do futebol perdeu por 1x0 numa decisão de Copa Do Rei, na Espanha, com uma vitória triste, brucutulenta e quase sem querer do Real Madrid sobre o Barcelona, o terreno tá pra lá de propício para os pragmatas óbvios da ludopédia nossa contemporânea. O meu amigo Pedrinho Eller até arrancou o seu Kipá judaico para vestir um penacho de Carmem Miranda e sair gritando pelas ruas de Santo André:

“Três pontos, três pontos, três pontos...”

Pois é. Quando se fala de times de futebol que pensam em jogar com alguma beleza em suas linhas, a sanha da meta, do “objetivo” do professor, não se tem parcimônia alguma com a causa. Cobra-se que essas equipes vençam sempre de maneira categórica como Cruzeiro que meteu 8 no final de semana sobre o América de Teófilo Otoni. Exigem que jogadores como Messi, lá, e Montijo, aqui, tenham lindos dias de Puskas e não errem nada. O engraçado é que essa mesma beligerância pragmática some absolutamente quando se analisa um caneludo como esse Sérgio Ramos, ou esse bizarro desse Luan do meu Palmeiras. Estranhamente, os corações em fúria dos pragmáticos cretinos fundamentais imediatamente são tomados de uma paciência quase santa, de fazer inveja a Madre Teresa de Calcutá. E aí vem a defesa dos unos:

“Ah mas é esforçado...” - Se faz força pra jogar futebol já ta errado!

“Nossa mas ele corre o campo todo” - Então vá ser fundista, maratonista, ou melhor, corra para as profundas dos infernos! Pois bem...

No final de semana de pascoa em São Paulo, tivemos no sábado o Corinthians batendo o Oeste de Itápolis por 2x1 pobremente, o Santos vencendo a ponte na vila Belmiro por 1x0 e no domingo, dando sequencia a série de partidas modorrentas, tivemos o São Paulo sofrendo pra bater a Lusa por 2x0 em um jogo que a melhor coisa que se viu na arena Barueri foi a bunda da Babi a panicat e meu Palmeiras suando sangue pra conseguir um 2x1 contra o Mirassol. Classificaram-se portanto os tais quatro “grandes”. Mais uma vez aqui estamos para comentar o nada. Porque nada demais aconteceu.

Os jogos de futebol de São Paulo tem um roteiro mais bem amarrado que os trabalhos lendários de Jean Claude Carriere. Começa com os times “grandes” tentando atacar os outros times menores, que por sua vez, nada fazem, ficam atras, vendo o que acontece e geralmente acontece de tomarem um gol. Então tentam atacar meio sem saber como, as vezes da certo, quase sempre da errado e o jogo acaba dando o maldito do óbvio. E porque acontece isso?

A resposta foi dada brilhantemente pelo ótimo Arthur Dapieve no Programa Redação, da ultima sexta santa com a participação de meu amigo Xico Sá.

Durante o programa surgiu uma discussão sobre uma firula feita por Valdívia, em jogo contra o Santo André pelas oitavas de final da Copa Do Brasil. O chileno deu lá uns chutes no vácuo enganando o seu marcador e isso, gerou um “protesto” incendiário, nervoso como o menino que não ganha ovo de chocolate na páscoa, por parte do zagueiro Anderson do Santo André, Dapieve que é grande jornalista, homem culto , dono de um poder de síntese brilhante, sentenciou que o corporativismo dos caneludos nada mais é do que uma espécie de tratado da mediocridade, vigente em nosso futebol. Uma coisa que reluta contra qualquer tipo de encanto no futebol e é perfeita a análise de Dapieve.

Em uma fase idiotizante onde os idiotas e cretinos fundamentais dominam o mundo por uma mera questão de superioridade numérica, vivemos o supra sumo das obviedades humanas e nada pode ameaçar essa condição medíocre dos boçais. Qualquer um que “ouse” sair desse padrão é imediatamente taxado de “Moleque”, “Desrespeitoso”, “Romântico”. Nada pode sair do padrão careta e canalha da mesmice. E isso deve ser protegido tal e qual a velha burguesa mantem intacto seu Givanchi dos anos 50! Afinal de contas, o idiota óbvio e cretino, sabe muito bem da fragilidade se sua crença absurda. Precisa pouco pra mandar ela para a vala.

Um chute no vácuo dado por Valdivia; “Ohhhh... uma tentativa de picardia. Precisamos combater! Vamos dar um pau no talento para que a poesia mofe nas prateileiras de supermercado e nas mesas de fast food de neurônios dos shoppings”. Oras caro leitor...

Como disse o amigo Xico Sá, vivemos em um tempo em que o futebol é tão chato, mas tão chato, que dentro em breve um drible deverá er dado mediante a um ofício ou seja:

“Venho por meio desta, avisar a vossa senhoria caneluda que, tentarei em breve enfiar uma bola por entre suas canelas duras...” Ora essa, a parada é a seguinte:

Valdivia é um jogador comum. Um baita de um nota 5,5 que só poderia se destacar onde não há qualquer arremedo de qualidade técnica e talentosa. Em uma terra de cegos e pernetas ludopédicos fica muito fácil para o dono da muleta se destacar. Desta forma, de maneira pra lá de sintomática, no jogo contra o Santo André, toda a mediocridade vigente se viu ameaçada com um chute no vento. Uma bica dada no nada. Que fim de época é essa caro leitor, que coisa mais triste. Sejamos solidários portanto com essa pobreza de espirito:

Vamos todos comprar brioches e rezar em memória de Blaise Pascal...

Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor, webmaster e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.
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