Por Ana Mesquita |
A lista abaixo não pretende ser um rank, são somente minhas impressões pessoais sobre os discos gringos lançados neste que mais ouvi ao longo de meus dias. É também uma tentativa de remissão, pois estive ausente por demais das páginas do Pastilhas.
Enjoy!
The Cherry Thing – Neneh Cherry and The Thing

Nunca curti o som da Neneh, e o som do The Thing atinge somente um nicho de mercado, não é fácil de ser digerido. The Cherry Thing pôde trazer elementos sonoros sofisticados para a deliciosa voz de Neneh, e ao mesmo tempo propiciou que um público que habitualmente não se aproxima do free jazz ter uma vislumbre de como esse gênero pode se fundir com outros estilos. Neneh ganhou estilo e força, The Thing pode circular por novos públicos. Um empate onde todos ganham.
O repertório escolhido é fascinante, destaque para a versão Too Tough to Die, de Martina Topley Bird, cantora singular da qual sou muito fã, já Sudden Moment é a mais bela melodia do disco, o caminho melódico da voz de Neneh e do sax de Mats embriaga os sentidos, eleva o espirito. O ponto alto é a versão de Dirt do The Stooges, música que tem tudo a ver com o promissor projeto. Esperamos ansiosos que a parceria dê mais frutos.
O repertório escolhido é fascinante, destaque para a versão Too Tough to Die, de Martina Topley Bird, cantora singular da qual sou muito fã, já Sudden Moment é a mais bela melodia do disco, o caminho melódico da voz de Neneh e do sax de Mats embriaga os sentidos, eleva o espirito. O ponto alto é a versão de Dirt do The Stooges, música que tem tudo a ver com o promissor projeto. Esperamos ansiosos que a parceria dê mais frutos.
Lonerism – Tame Impala

Lonerism chegou ao mercado no começo de outubro e pelo que pude perceber muito aguardado pelos fãs e crítica. O show que os garotos – uns moleques! – fizeram no
Lollapalooza de Chicago estava lotadaço, apesar de terem tocado no meio da tarde. Dizem também que os shows no Brasil arrebentaram. Rock psicodélico, guitarra altas, Beatles, Cream... tudo soa como o rock setentistas, mas tem um pegada atual, com música pop, eletrônica, teclados.
A grande verdade é que o Tame Impala, apesar de sair em turnê e existir fisicamente como uma banda de fato, é uma banda de um homem só, no caso o australiano Kevin Parker deapenas 26 anos. É ele que compõe, toca e grava praticamente tudo em Lonerism, em seu estúdio em Perth – capital da Austrália Ocidental. Canções como Endors Toi e Keep on Lying me deixam num estado de felicidade desgraçado, principalmente quando você se dá conta que a maior parte das músicas do rapaz versa sobre solidão. Ouvir Mind Mischief nos fonesde ouvido, dando um role pela cidade, faz qualquer viagem de trem parecer surreal. Em entrevista à uma publicação inglesa perguntaram ao chapado - só pode ser - Kevin qual aprincipal diferença entre o Innerspeaker (incrivelmente genial primeiro disco do Tame) e o Lonerism e, segundo a revista, ele respondeu mais ou menos assim “First he suggested Lonerism contained "melodies that beam at you rather than wash over you". Then he reconsidered, suggesting instead that its songs were "more like an explosion rather than a wave". And then he decided the new songs were quite like a wave after all: "Like waves that hit you rather than you swimming in an ocean of melody," he offered, adding a hopeful "know what I mean?"”
Tente traduzir a sinestesia agora.
Shields – Grizzly Bear

Between the Times and the Tides – Lee Ranaldo

O fim do Sonic Youth foi um baque para os fãs, mas vamos combinar que o vigor do quarteto havia se esvaído, provável – e aqui é pura especulação – devido ao cotidiano e ao tempo. Mas as peripécias solos dos integrantes não tem deixado nada a desejar, na verdade nunca deixaram, pois todos os integrantes sempre tocaram seus projetos pessoais. E o respeito mútuo que nutrem pelas obras solos pode ser percebido pelo site oficial da banda, que cultiva notícias e páginas individuais de cada um deles. Ali é possível chegar um pouco mais perto da profícua obra de Lee Ranaldo. Dá um conferes:
The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You
More Than Ropes Will Ever Do - Fiona Apple
Escrevo com a mágoa do cancelamento, Fiona cancelou os shows que faria na América doSul por conta de seu cachorro, que está a beira da morte. Pra explicar isso aos fãs, escreveu a mão uma carta de 4 páginas, que entre pedidos de desculpa e explicações pela sua não vinda ao Brasil, Fiona coloca a relação que tem com seu cachorro como a mais duradoura em sua vida adulta. A partir desse breve relato temos um breve vislumbre de como é essa garota de 35 anos, que lançou estrondosamente seu primeiro disco aos 19. Em The Idler Wheel... Fiona continua um caos, expõe seus sentimentos e medos nas letras metafóricas. Mas também precisa ser uma garota muito corajosa pra escrever uma música como Jonatan, onde Fionaassume que stalka seu ex-namorado. Chega a ser violenta a forma como a garota toca piano nas canções desse álbum, soando mesmo como um instrumento de percussão, a parceria com o baterista Charley Drayton continua dando certo, e apesar dos poucos elementos sonoros, a riqueza dos arranjos e inventividade harmônica faz desse disco um dos melhores do ano. Ouvi muito esse disco, chorei algumas vezes ouvindo-o também. É um disco pra vida, nada mal pra quem ficou 7 anos sem lançar um trampo novo. Saca esse som que lindão.
Ana Mesquita é colaboradora do Pastilhas Coloridas e jornalista freelancer amante de cinema. Twitter: @anamesquitafoto