Glenn Branca – Mostra Sesc de Artes (Teatro do Sesc Belenzinho)
Já sabia que seria porrada, mas não estava completamente preparada, passei mal, literalmente, fiquei tão atordoada que após o show as pessoas vinham falar comigo e eu não sabia o que estava falando: reagir socialmente era um ato mecânico. O cara veio pra reger quatro guitarras um contra-baixo e uma bateria, mas a figura desse americano grisalho era um show a parte, todos ali sabiam que quem havia escrito aquelas partituras que os músicos liam com tanto respeito era o cara que estava a frente, evocando as entranhas de cada guitarra que existe no universo a cada gesto de sua regência. Pode parecer meio exagerada essa descrição, mas só quem estava presente naquele teatro sabe do que estou falando. Sentar-se na terceira fileira só piorou – ou melhorou – as coisas, o som estava alto, muito alto, e não demorou muito para que este tomasse conta de cada centímetro daquele espaço.
Já sabia que seria porrada, mas não estava completamente preparada, passei mal, literalmente, fiquei tão atordoada que após o show as pessoas vinham falar comigo e eu não sabia o que estava falando: reagir socialmente era um ato mecânico. O cara veio pra reger quatro guitarras um contra-baixo e uma bateria, mas a figura desse americano grisalho era um show a parte, todos ali sabiam que quem havia escrito aquelas partituras que os músicos liam com tanto respeito era o cara que estava a frente, evocando as entranhas de cada guitarra que existe no universo a cada gesto de sua regência. Pode parecer meio exagerada essa descrição, mas só quem estava presente naquele teatro sabe do que estou falando. Sentar-se na terceira fileira só piorou – ou melhorou – as coisas, o som estava alto, muito alto, e não demorou muito para que este tomasse conta de cada centímetro daquele espaço.
Parecia que os amplificadores estavam direcionados somente para a mim, porque, imaginava eu, não era possível ser tão alto! Depois descobri que era uma sensação geral, e mesmo quem ficou no mezanino não teve os tímpanos poupados: as P.As estavam estrategicamente direcionadas para a parte superior do teatro. A cada peça executada só crescia cada vez mais a minha certeza que estava diante de um gênio, um artista, micro tons, repetição, arranjos, tava tudo ali, meu deus! Acho que lá pela terceira ou quarta peça a música me dominou, minha vontade era sair rolando pelo pedaço de chão que havia entre o palco e as poltronas. Contive-me, mas o desejo seguinte era levantar da cadeira e me encostar, de pé, no fundo do teatro, pra ver se essa onda de sentidos passava. Esperei pacientemente e mantive meu posto na poltronada terceira fileira. Já meu companheiro de empreita não conseguiu, e na música seguinte se levantou e foi embora a pé, não até o metrô Belém – o mais próximo ali – e sim até o centro da cidade. São experiências como essa que fazem valer a vida!
Agora é necessário fazer alguns comentários sobre a Mostra Sesc de Artes. Esse evento sescquiano já teve muitos nomes diferentes, e o que eu me lembro mais remotamente foi o Balaio Brasil em 2000, independente do nome o objetivo do evento sempre girou em torno do mesmo eixo, que é trazer a vanguarda da produção artística do Brasil e do mundo para a cidade de São Paulo. Este ano não foi diferente e a qualidade da programação – e não só a musical, mas das outras artes também - extrapolou as expectativas de quem acompanha arte.
No entanto a logística e a divulgação do evento foram sofríveis e aqui cito um caso de dois shows que deixaram os apreciadores de jazz loucos. Wadala Leo Smith e Peter Brötzmann nos mesmos dias e horários, em locais diferentes, e pra completar, no final de semana, dia em que geralmente músicos estão trabalhando. Sei que o público do Sesc não são exclusivamente músicos mas esses caras não tem projeção midiática, muito menos um grande público no país, e entrepor esses shows dessa forma, pra mim, foi um tiro no pé. Fui ao show do Brötzmann e não estava lotado, acredito que o Wadala também não estava, já que um dia antes do show recebi um e-mail do Sesc Vila Mariana onde dizia que eu havia ganhado um par de
ingressos pra ver o Wadala, mesmo sem ter participado de nenhuma promoção. Fica a dica para os realizadores e programadores se aterem com mais cuidado a esses dois aspectos tão essenciais quanto a programação em si, no caso divulgação e logística. O público merece apreciar cada uma das excepcionais atrações internacionais que vieram ao Brasil e passaram praticamente batidas.
Manchester Orchestra – Lollapalooza Brasil (Jockey Club)

Rodrigo Caçapa – Prata da Casa (Choperia do Sesc Pompéia)

Circuito de Improvisação Livre (Matilha Cultural, Cidadão do Mundo, Bar B, Serralheria e outros)

O que temos a cada mês são apresentações únicas, com grupos que as vezes nunca tocaram juntos, improvisando a partir deles mesmo. Sem ensaios, sem combinações prévias, só sentindo a música. Mas não é tão simples assim, existe uma lógica, uma técnica, uma intencionalidade emtodos os sons que saem dessas apresentações. Frescor, inovação, abertura sonora ao peculiar, é isso o que os ouvintes ganham ao acompanhar essa turma da pesada. É um movimento de retroalimentação, já que a cada apresentação novas possibilidades se abrem tanto para quem aprecia a música quanto para os integrantes do SPIMPRO, que estimulam a criatividade, técnica, as possibilidades de construção sonora e estudo musical. Só nos resta torcer para que o pique desses distintos senhores e senhoras continue ao longo de 2013 para que mais pessoas possam ver essas apresentações. É um trabalho de construção de público, coisa raríssima de se ver nesse mundo da música. A prova viva foram as apresentações no Cidadão do Mundo, em São Caetano do Sul, na qual o público foi crescendo gradativamente com o passar dos meses. Só pra constar: livre improvisação não é free jazz, apesar das similaridades.
Siba – Plataforma (Choperia do Sesc Pompéia)

vida sem transformação contínua, sem dor, sem derrotas. Passar por isso, mudar e preservar a
essência é o que dá sentido à vida.
Metal Metal – Lançamentos (Teatro do Sesc Vila Mariana)

Difícil manter-se sentado num show como aquele. Mas a plateia mais blasé do que desavergonhada manteve-se em sua maioria sentada.
Dessas coisas que eu particularmente odeio nos paulistanos que frequentam o underground da música brasileira. Meu coração deve ter parado alguns segundo quando Juçara cantou Oya. Fiquei sem ar, precisei de água pra não entrar em transe. Kiko Dinucci e seu relacionamento sério e instável com sua Fender, e Thiago França mostrando que estudar o instrumento é prática de seu dia-a-dia, pois a evolução é nítida. Já podia acabar o ano ali, toda a beleza estava concluída pra minha alma.
Ana Mesquita é colaboradora do Pastilhas Coloridas e jornalista freelancer amante de cinema. Twitter: @anamesquitafoto