Os melhores discos brasileiros de 2012

Por Ana Mesquita | 

Trabalhos Carnívoros – Gui Amabis

Segundo disco do músico e produtor Gui Amabis “Trabalhos Carnívoros” lembra demais a sonoridade de Vagarosa, disco da cantora Céu produzido por Gui. No entanto não se engane e ache que é uma cópia: Gui segue um caminho sonoro próprio, com batidas, programações e ecos, que te levam pra outros lugares. “Merece quem Aceita” lembra a obra de Elomar, e por consequência, a trova produzida na Idade Média, os arranjos de violinos colaboram pra esse clima. A poética das letras é extraordinária, frases como “e quanto a terra mira o espaço o verso tropeça no amor” ou “agora eu vejo o que sinto, e tudo faz bem mais sentido”, são descrições íntimas do caminho percorrido internamente de autoconhecimento.

É corajoso expor-se dessa forma. Em seu disco anterior Gui emprestou suas composições para que osamigos a cantassem, já nesse novo trabalho o próprio Gui assume os vocais, dando mais sentido ainda a tudo que canta. Baixe agora!


Pré-Ambulatório – Lê Almeida

Direto da baixada fluminense o novo EP de Lê Almeida traz 9 canções do mais belo rock garage pra esse mundo. Guitarra distorcida, letras intimistas e românticas, influências de country music e pedalera comendo solta nas cordas. Pode parecer um tanto quanto saudosista escutar o som de Lê, afinal era o que eu ouvia diariamente no anos 90, quando era adolescente. Mas o interessante mesmo é saber que esse tipo de som ainda é feito com tanta qualidade aqui no Brasil. Um dos aspectos mais interessantes desse disco é a forma de gravação: O músico gravou tudo no seu computador, em sua casa mesmo.


O disco saiu pelo selo Transfusão Noise Records, pra mim uma das melhores descobertas do ano, já que eu não conhecia o blog do selo, recheado de boas bandas de rock independente, como o Medialunas e o Hierofante Purpura. Vá baixando os discos e EP do Transfusão aos poucos e apreciando tudo que tem por lá, e claro, Pré-Ambulatório.


Bahia Fantástica – Rodrigo Campos

Já escrevi sobre esse disco aqui no Pastilhas e de tudo que ele representa pra mim, ou seja a minha paixão aguda e incurável por Salvador e tudo que aquela representa musicalmente falando. Mas além da dimensão emotiva do disco, a qualidade do conjunto dessa obra é inegável, Maurício Fleury nos teclados e Thiago França no sax fazem uma diferença brutal para os arranjos da obra. A participação de Criolo em Ribeirão é avassaladora, uma das mais belas melodias do disco. E a melhor cantora brasileira da atualidade – Juçara Marçal – cantando Jardim Japão é algo pra se prestar atenção mais de uma vez.

Tem como fazer o download pelo Sound Cloud, aqui... soundcloud.com/rodrigo_campos

LP – Elma

Uma das melhores bandas de rock do underground paulista, os caras batalham muito pra tocarnos lugares e se manterem íntegros no tipo de som que fazem, o Elma tem um dos melhores  shows de rock que já vi na vida, tudo é muito intenso, grave e barulhento. E aí os meninos lançam esse super disco bem produzido e que já pela forma do download você sabe que vai sair em vinil também. A dose de distorção tá aqui, mas aliada a riffs melódicos, quebrados e insanos. Nem tinha como ficar de fora essa maravilha aqui. Baixe:


Metal Metal – Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França

Difícil escrever algo sobre um disco sobre o qual já saiu resenha em praticamente todos os jornais, revistas, sites e blogs de música. E mais: integra 80% das malditas listas de fim de ano. Não é a toa que o Metal Metal é o único trabalho que integra minha lista de melhores shows e discos, o trabalho é surpreendente. Ao contrário do disco anterior, que conta com músicas de vários compositores, as músicas de Metal Metal são em sua maioria de Kiko Dinucci, e mais, não são músicas inéditas, eu mesma já tinha ouvido parte do repertório do disco nos shows em conjunto, ou nos projetos solos dos integrantes do trio. O disco é foda porque é inovador, não se parece com nada, talvez o Metá Metá pode ter indicado os caminhos de Metal Metal, mas duvido que tenha sido intencional. Um dos grandes problemas da crítica de arte é sua incapacidade de realizar uma leitura eficaz de sua contemporaneidade, e nesse mundo fragmentado e bombardeado de informações a empreita fica mais difícil. Metal Metal entra em outra categoria, pois não deve ser analisado sobre a ótica da racionalidade e sim, a partir dos sentidos e percepções de seus críticos. Por isso é difícil falar sobre o disco, pois possivelmente estamos frente a uma obra que possa mudar determinantemente a música brasileira. Rock, música brasileira e orixás já haviam feito sentido em outra época, agora esses elementos estão resignificados. Ouço umas três vezes por dia desde que foi lançado.
Uma observação: Thiago França está excepcional nesse disco, eu mesma o considerava um saxofonista limitado, mas me surpreendi com o som que o cara faz aqui.


O Mundo não Acaba Nunca – Krias de Kafka

Tá, eles são meus amigos e estou colocando eles nessa lista por serem meus amigos e também por tudo o que representa o lançamento do disco desses caras. Caros leitores, se vocês se derem ao trabalho de ouvirem pelo menos uma das músicas vão saber o que estou dizendo. 

O disco é ducaralho!!!! É urbano, é operário, é poético, é cachaceiro, é sem esperança! Vindos da decadência da cena musical de Santo André, a banda encabeça um dos movimentos independentes da cidade junto com outras cinco bandas: tô falando da Cenaandreense, que carrega nas costas a organização do rock independente de André City há alguns anos. Os integrantes da banda sempre estiveram envolvidos de uma forma ou de outra nos movimentos culturais da cidade, principalmente o literário, Mateus Novaes, vocalista das Krias, lançou neste ano o livro de poesias “Desistencia”, sucesso total no underground local. Fiquem atentos as letras das Krias de Kafka, sujeira e marginalidade nas veias. Adoro!!!!


Ana Mesquita é colaboradora do Pastilhas Coloridas e jornalista freelancer amante de cinema. Twitter: @anamesquitafoto
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